26/09/2015 - 19:31
Aos gritos de “Vivos os levaram, vivos os queremos!”, milhares de pessoas marcharam neste sábado na capital mexicana no aniversário de desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa (sul), um crime com investigações ainda inconclusivas, que manchou a imagem do governo de Enrique Peña Nieto.
Protegendo-se como podiam da forte chuva, os humildes pais dos estudantes lideraram a “Marcha da Indignação Nacional”, levando cartazes com as fotos de seus filhos e gritando palavras contra o governo de Enrique Peña Nieto sobre o crime, que expôs a face mais sombria do México e indignou o mundo inteiro.
“Não está chovendo, o povo está chorando”, gritavam os pais ao chegar, encharcados, à emblemática praça do Zócalo, o ponto final da marcha multitudinária que, segundo a prefeitura da capital, reuniu mais de oito mil pessoas.
“Continua acesa a chama da indignação dos pais. Que Peña Nieto e todo o seu gabinete vá embora, mas antes entregue nossos filhos porque ele sabe onde estão”, disse Carmelita Cruz, mãe de um dos estudantes, de um palanque em frente à catedral.
Com cartazes dizendo “Crime de Estado”, “Somos todos os 43” ou “Fora Peña”, grupos de amigos e famílias inteiras começaram a caminhada pouco depois das 14h30 (de Brasília) e avançavam pelo Paseo de la Reforma, no centro da capital, carregando bandeiras mexicanas pintadas de preto, caveiras e mapas do país cravados de cruzes.
“Viemos com sede de justiça, não pode haver mais impunidade. Atrás dos 43 estão milhares de desaparecidos”, dizia Sofia Rojas, aluna de estudos latino-americanos da Universidade Autônoma do México (UNAM).
“Tomara que a pressão que os 43 fazem seja suficiente para encontrar todos os demais”, afirmou Rómulo Hernández, um comerciante de 73 anos que seguia a passo lento a marcha, mostrando um cartaz com o nome de sua filha, desaparecida em 2013.
Além da multitudinária marcha na Cidade do México, o triste aniversário do crime também foi lembrado em vários pontos do país, como Chilpancingo, capital de Guerrero (sul) e teve outras manifestações menores em França, Espanha, Argentina e Estados Unidos.
O presidente Enrique Peña Nieto viajará a Nova York esta noite para participar da Assembleia Geral da ONU.
“Peña Nieto saiu covardemente do país porque sabia que faríamos uma demonstração de força”, alfinetou Nardo Flores, um dos pais dos jovens, depois de passar lista em voz alta dos 43 estudantes.
Pela manhã, o presidente enviou várias mensagens no Twitter, dizendo que seu gabinete está comprometido “com a verdade e a justiça” sobre o caso que fez sua popularidade desabar.
Peña Nieto reuniu-se na quinta-feira a portas-fechadas com os pais dos estudantes. Naquele dia, eles cumpriam um jejum de 43 horas em homenagem aos filhos.
Nesta reunião, a segunda do presidente com os familiares dos jovens, Peña Nieto garantiu que a investigação continua aberta e anunciou a criação de uma procuradoria especializada para localizar os mais de 25.000 desaparecidos que existem no país, desde que o governo iniciou, em 2006, uma guerra contra o tráfico.
Mas os pais criticaram a “mentira histórica” sobre o que ocorreu naquele fatídico 26 de setembro de 2014, e exigem a supervisão internacional das investigações.
Mas os investigadores independentes enviados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) derrubaram as conclusões do governo sobre o caso.
Na sexta-feira, o escritório das Nações Unidas no México pediu que a investigação oficial seja “inteiramente repensada” e o esclarecimento de suas irregularidades, que incluem “informações sobre o uso da tortura para conseguir confissões e alteração de provas”.
Assegurando ter uma “verdade histórica”, a procuradoria geral diz que os estudantes da escola para professores rurais de Ayotzinapa foram atacados por policiais municipais da vizinha, matando três deles e outras três pessoas.
Depois, os 43 estudantes sobreviventes foram entregues a traficantes de drogas locais, que os mataram e incineraram em um depósito de lixo nas proximidades, por suspeita de que os jovens seriam membros de um cartel rival.
Mas os especialistas da CIDH concluíram que “não há qualquer evidência” de que os jovens tenham sido queimados no lixão e criticaram que a versão oficial não explore a hipótese de que os estudantes tenham sido atacados por terem tomado, por engano, um ônibus que transportava heroína.
As autoridades mexicanas enviaram fragmentos ósseos em novembro passado para um laboratório em Innsbruck, na Áustria, com os quais foi identificado apenas um dos 43 estudantes desaparecidos e um de maneira parcial.
Na sexta-feira, a procuradoria informou que está analisando cerca de 60.000 restos ósseos para enviar novas amostras ao laboratório austríaco.
O desempenho das autoridades mexicanas neste caso foi muito criticado por organismos internacionais e ONGs estrangeiras, levando a pique a imagem de Peña Nieto.
Até o final do mandato presidencial em 2018, o caso Ayotzinapa “vai ficar como uma marca negativa do governo, como foi (a chacina dos estudantes em) 68 para o governo
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