Quando o francês Jean-Philippe Ollier assumiu a presidência da fabricante de pneus Michelin, na América do Sul, em setembro de 2009, a empresa atravessava um dos momentos mais dramáticos de seus 87 anos de história no País. As vendas de pneus de carga, que respondem por metade do faturamento da subsidiária brasileira, tinham despencado 40% em razão da crise do setor de caminhões e ônibus. Já o segmento de pneus para carros de passeio sofria com a forte ? e considerada desleal ? concorrência asiática. Não bastasse a conjuntura desfavorável, seu antecessor, Luis Roberto Anastácio, morrera na queda do avião da Air France no Atlântico quatro meses antes, paralisando os projetos em andamento e deixando a companhia sem comando. 

 

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Jean-Philippe Ollier, CEO: “A produção local não era suficiente.

Precisávamos aumentar nossa capacidade para crescer”

 

As dificuldades do passado não refletem, nem de longe, a atual realidade da empresa no Brasil, seu principal mercado na região. No rentável segmento de pneus de caminhões e ônibus, a marca francesa se consolidou na liderança, com 20% de participação e mais de um milhão de unidades vendidas em 2013. Na área agrícola, a Michelin aumentou em sete vezes suas vendas nos últimos cinco anos e também assumiu a liderança no mercado. Juntos, os dois segmentos representam 50% do faturamento da companhia. Mesmo com o bom desempenho da Michelin no segmento de pneus pa ra veículos de carga, Ollier reconhece que o ponto fraco da marca é o mercado de veículos de passeio. 

 

A empresa ainda carrega o estigma de produzir pneus caros demais para os padrões brasileiros, apesar da boa reputação no quesito qualidade. ?Para ganhar espaço no País, temos de manter um investimento perene em produção e marketing?, afirma Ollier. Prova de que existe um descompasso entre os resultados da companhia lá fora e os exibidos no Brasil é a distância da marca em comparação com as líderes, a italiana Pirelli ? dona de 25% do mercado nacional ?, a americana Goodyear e a japonesa Bridgestone, com 13% de participação cada uma. A Michelin, segunda maior fabricante de pneus do mundo, com faturamento de US$ 21,5 bilhões em 2012 (último dado disponível), detém apenas 6% atualmente. 

 

Como comparação, a Pirelli fatura globalmente um terço disso: US$ 7,8 bilhões. Para reverter ? ou, no mínimo, reduzir essa distância ?, a Michelin investirá cerca de R$ 4 bilhões até 2020. Desde 2011, outro R$ 1,4 bilhão já foi gasto na construção da nova fábrica de pneus para veículos leves, no município de Itatiaia, no interior do Rio de Janeiro, e na modernização das três unidades no polo industrial de Campo Grande, bairro da zona Oeste da capital fluminense. ?Precisávamos aumentar nossa capacidade de produção para sustentar o crescimento?, afirma Ollier. Embora afirme que está atenta a todos os segmentos do mercado de pneus, o foco no País é o setor de carros de passeio. 

 

A fábrica de Itatiaia, inaugurada em 2012, com orçamento de R$ 1 bilhão, tem como objetivo produzir cinco milhões de pneus por ano para esses veículos. Até 2020, nas contas da empresa, a produção deve quadruplicar. Os planos da Michelin incluem, ainda, a ampliação da participação da marca nas linhas de montagem, equipando carros zero-quilômetro. Até agora, a Michelin se limitava ao mercado de reposição. ?A produção local não era suficiente para entrarmos na primeira montagem?, afirma Ollier. ?Estar dentro das montadoras é fundamental para o reconhecimento da marca.? Com lançamentos de novos modelos, como o Primacy 3, indicado para as esburacadas ruas brasileiras, a Michelin virou acessório de destaque de veículos como o Fusion e o Focus, ambos da Ford, o Peugeot 308, o Chevrolet Cruze e os modelos i30 e Azera, da Hyundai. 

 

?Estamos animados com as negociações e fazendo testes com outros automóveis?, diz o presidente. O entusiasmo do executivo em relação ao mercado nacional tem explicação. Segundo a Anip, após dois anos de queda a produção de pneus bateu recorde no Brasil, em 2013, e alcançou 68,8 milhões de unidades, um aumento de 9,8% em comparação ao período anterior. As medidas antidumping anunciadas pela Câmara de Comércio Exterior contra as fabricantes asiáticas também entusiasmaram a Michelin. 

 

?Todas as empresas devem jogar o mesmo jogo?, afirma Ollier. Por isso, nem mesmo a perspectiva de uma eventual desaceleração no setor automotivo, em 2014, que reduzirá para apenas 2,5% o crescimento da produção de pneus no País, abala o seu otimismo. Ele está convencido de que a Michelin terá um desempenho numa escala superior à do restante do setor, o que lhe possibilitará a conquista de novas posições no ranking. ?Em seis anos teremos no Brasil a mesma representatividade da empresa no mundo?, afirma Ollier. ?Queremos estar no topo.?

 

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