Certa vez o general Charles de Gaulle quis visitar uma das fábricas da Michelin em Clermont Ferrand, região central da França, berço da maior fabricante de pneus do mundo. Foi prontamente atendido. Mas viu muito pouco. Encontrou a linha de produção toda coberta com lençóis e pôde ver apenas um pneu saindo da prensa. O rigor permanece. Para entrar na unidade, os estrangeiros precisam deixar o passaporte na entrada. Nem a imigração francesa anda tão severa com os sul-americanos. Dá até para entender tamanha precaução. É ali que são feitos desde pneus para colecionadores de carros antigos até os secretíssimos modelos encomendados por famosas escuderias da Fórmula 1, como a atual campeã Renault. É o endereço mais charmoso da Michelin, onde 3,2 mil pessoas trabalham na pesquisa, desenvolvimento e produção de pneus de alta tecnologia. É lá em Clermont-Ferrand também que o Brasil vem ganhando cada vez mais destaque nos planos estratégicos do grupo. Além de três fábricas industriais no Rio de Janeiro e uma quarta em construção no mesmo estado, existem duas unidades agro-industriais, no Mato Grosso e na Bahia, que servem de laboratório experimental para a Michelin pesquisar novas tecnologias de borracha natural, que junto com a sintética e os fios têxteis, estão entre os principais focos de estudos da empresa. São dois dos maiores seringais de cultivo do mundo.

Não muito longe dali, outra emoção para os apaixonados por carro. É onde está o Centro de Tecnologia e Testes da Michelin de Ladoux, o coração da empresa. Já na chegada, impressiona um circuito com 19 pistas, que ocupa uma área equivalente a quatro autódromos de Interlagos. No local, cercado por vulcões desativados, 50 pilotos testam pneus de carros de passeio, equipamentos de engenharia civil, máquinas agrícolas, veículos de duas rodas, caminhões e ônibus. É também onde três mil pesquisadores trabalham na inovação e criação de produtos do futuro, que chegarão ao mercado nos próximos 15 anos. Entre os quais os pneus Airless, sem ar, à prova de furos e projetados para durar o tempo do veículo, cerca de 20 anos.

Outra novidade é o Twell, um conjunto único de roda e pneu, unida ao eixo por raios flexíveis, que se deformam para absorver choques e recuperam rapidamente a forma original. Há ainda o Proxima, que leva mais sílica na produção, componente de origem petroquímica que substitui o negro de fumo. Além de permitir que os pneus sejam coloridos, já que a sílica é transparente, o desenho diferente da banda de rodagem e a maior quantidade de sílica (mais leve) resultam na economia de combustível do carro. O modelo estará no Brasil daqui a oito anos. Já as versões PAX System e Zero Pressure, chamam a atenção por serem projetados para rodarem até 200 quilômetros furados, a
80 km/hora. Eles eliminam a necessidade do estepe, permitindo maior espaço interno, menos peso e, assim, economia de combustível. Outra inovação é o anti-splash, tecnologia que reduz o esguicho de água dos pneus dianteiros em pistas molhadas, aumentando a visibilidade dos motoristas.

Clermont-Ferrand é a fábrica de sonhos da Michelin. E gira em torno da empresa. Afinal, 15,2 mil pessoas dos 230 mil habitantes do distrito são empregados da empresa. No total, o grupo tem 127 mil funcionários e 74 fábricas espalhadas pelo mundo. O resultado de tudo isso é um faturamento de 15,8 bilhões de euros e a liderança do mercado.

?15,8 bilhões é o faturamento anual da MIchelin, dona de 74 fábricas no mundo