A venda de um apartamento de 10 metros quadrados por R$ 200 mil na região central de São Paulo atraiu atenção nas redes sociais nos últimos dias, ressuscitando uma discussão sobre o custo de vida e o boom dos microapartamentos na capital. Na internet, é possível achar anúncios de venda de unidades desse tamanho no mesmo edifício com valores de até R$ 250 mil e aluguel por volta de R$ 1,8 mil (mobiliado, mais condomínio).

O microapartamento fica no edifício VN Nova Higienópolis, na Rua das Palmeiras, perto da Estação Marechal Deodoro do Metrô, em Santa Cecília. No lançamento, em 2017, também já havia despertado o mesmo tipo de discussão, sendo anunciado pela incorporadora como o então menor da América Latina.

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Ariel Frankel, sócio e CEO da Vitacon, incorporadora do prédio, diz que o perfil de pessoas que compram os microapartamentos são de investidores interessados em encorpar a renda com o aluguel do imóvel. Mas ele entende que o aumento de pessoas que moram sozinhas é uma tendência que fez aumentar as buscas pelos menores espaços.

O empresário avalia também que a compactação é uma tendência no mercado imobiliário. “Não se trata de apertar, mas de inteligência de espaço, de simplificar e trazer mais praticidade” diz. “Essa tendência está acontecendo em todos os apartamentos na nossa visão. Menos é mais. Luxo, hoje, é poder estar em dez minutos em qualquer lugar, é poder escolher se você quer ter uma empregada ou não, é ter flexibilidade e mobilidade.”

Entre as avaliações de hóspedes, há opiniões sobre as dimensões do imóvel. “Bem complicado o espaço ser para duas pessoas, não dar nem para se mexer no apartamento, ainda mais com um sofá-cama que na verdade virava um colchão no chão”, dizia um comentário. A postagem que viralizou é do corretor de Gutemberg Albuquerque, no TikTok.

BANHEIRO

O banheiro separado do restante do apartamento por paredes de vidro virou alvo dos comentários. “Tem que tomar cuidado ao entrar para não sair pela janela!”, dizia um dos usuários da rede social. “Apartamento??? Um iglu é mais amplo e tem mais privacidade pra ir no banheiro”, dizia outro. “Acabamos de entrar e chegamos ao final”, brincava um terceiro.

Com coworking, academia e outros espaços comunitários, o empreendimento encabeçou a oferta desse tipo de imóvel em São Paulo. Ao menos 250 mil apartamentos pequenos foram lançados entre 2014 e 2020, impulsionados por um decreto municipal aliado a uma mudança na legislação e também por tendências de mercado. Eles são mais comuns na parte centro-oeste da capital. Os números são de um levantamento da USP, que considera unidades de até 40 m².

Segundo o estudo, a maioria dos novos studios e microapartamentos se concentra em bairros nobres das zonas sul e oeste, como Jardins, Pinheiros e Vila Mariana. Há ainda número expressivo em Santana (norte) e em parte da zona leste, especialmente no Tatuapé. Cerca de metade fica no entorno de estações de metrô e trem e corredores de ônibus, áreas com incentivos legais para crescimento populacional.

TENDÊNCIA

A metragem reduzida é tendência em metrópoles estrangeiras. Em 2021, o vídeo de um morador de Nova York também chamou a atenção nas redes sociais pelo tamanho da casa, em que a pia do banheiro era ao lado do balcão de cozinha. São Paulo, na prática, está longe desse quadro, por ter adensamento ainda considerado baixo.

Apesar da polêmica, Albuquerque, o corretor que gravou o vídeo que foi parar nas redes, disse que já foi procurado por pessoas interessadas em comprar o imóvel. “Já houve propostas e eu devo fechar (o acordo de venda) nos próximos dias”, afirmou.

Ele disse que a maioria dos comentários negativos são de quem não conhece a realidade imobiliária da capital. “Eu li comentários como ‘eu compro um sítio na minha cidade com esse valor’”, relatou. “Mas a realidade do centro de São Paulo é bem diferente.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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