São quatro horas da tarde e o salão de chás do Dorchester, em Londres, já está praticamente tomado. A tradicional bebida britânica ainda é o chamariz para as tardes, mas o que se bebe mesmo ali é champanhe. Discretamente posicionadas em algumas cadeiras, as sacolas de compras Dior e Marc Jacobs nos fazem lembrar que estamos em Mayfair, o bairro do luxo londrino. As colunas ao longo do salão, as cortinas, o teto em gesso com detalhes dourados e a mobília vintage conferem um clima aristocrático a um dos hotéis mais tradicionais da capital inglesa, que acaba de completar 80 anos. Nada muito diferente de quando o hotel foi inaugurado, com um evento privativo para “aristocratas, industriais, financistas, embaixadores, estadistas e gente bonita”, segundo a edição da época do jornal The Times. Nem tudo no Dorchester, porém, remete a tempos remotos. Nos ambientes principais, incluindo o hall de entrada e quartos, o hotel soube preservar a aura de séculos passados. 

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Elizabeth II e o sultão de Brunei: Hotéis Dorchester simbolizam a união do glamour da rainha com a suntuosidade do monarca

Mas basta explorar algumas portas e subterrâneos para encontrar o melhor da hotelaria moderna. O hotel foi particularmente feliz ao optar, por exemplo, por um spa de altíssima qualidade – que, apesar de localizado a apenas um andar abaixo do burburinho, é isolado o suficiente para que nenhum vaivém do hotel invada o silêncio relaxante de uma massagem. Mas o grande tesouro escondido do Dorchester é, sem dúvida, a cozinha do chef francês Alain Ducasse, que assina o cardápio do principal restaurante do hotel. Fora os pratos contemporâneos, sempre impecáveis, o que chama a atenção é um curioso jogo de luzes no centro do salão. Ali se encontra a mesa privada, um ambiente protegido pela cortina de iluminação que confere um ar de exclusividade ainda maior à experiência gastronômica. Durante o dia, o espaço costuma ser disputado por executivos da região; já à noite, o jogo de luzes do Alain Ducasse é referência para os românticos, principalmente nos pedidos de casamento.

 

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Luxo e requinte: o salão de chá do hotel Dorchester, em Londres,

é ponto de encontro da aristocracia britânica há 80 anos

 

O Dorchester é uma espécie de irmão mais velho da Dorchester Collection, rede de nove hotéis que também gerencia, entre outros, o Plaza Athénée, em Paris, e o Principe di Savoia, em Milão, todos cinco-estrelas. E, apesar de o carro-chefe ser um hotel de estilo clássico, em Londres, quem está por trás disso tudo não é exatamente um lorde inglês, mas sim o sultão de Brunei, um dos homens mais ricos do mundo e que parece não ter se deixado abater com a crise econômica europeia. Nos últimos dois anos, o Dorchester ganhou dois irmãos caçulas: o hotel de campo Coworth Park, a 45 minutos de Londres, e o novíssimo 45 Park Lane, também em Mayfair. E, se o Dorchester está mais para um palácio vitoriano, o Forty Five não economiza em tecnologia. Todos os quartos são equipados com iPad, televisor LCD Bang & Olufsen e leitores de Blu-Ray. 

 

Praticamente tudo no quarto, da iluminação ao ar-condicionado, pode ser comandado por um sistema touch screen ao lado da cama. No entanto, apesar da quantidade de aparelhos de última geração, os quartos não ficaram impessoais. O designer americano Thierry Despont, responsável pelo projeto, pontuou as suítes com peças de arte britânica, além de móveis desenhados para emprestar-lhes um ar mais intimista. “Existe um público cada vez mais exigente por novas tecnologias, que não são exatamente executivos”, diz Marie-Laure Akdag, gerente do Forty Five. “Fizemos um hotel para essas pessoas, mas sem cara de hotel.” Tanto no Dorchester como no 45 Park Lane o hóspede vai pagar não apenas pela gama de serviços típicos de um cinco-estrelas, mas também pela localização. Ambos os prédios estão situados em uma das regiões mais valorizadas de Londres, espécie de meca da explosão imobiliária local. 

 

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Clima rural e sofisticado: o hotel-mansão Coworth Park (à esq.) oferece ambiente refinado,

com conforto e atividades ao ar livre e aulas de equitação para adultos e crianças

 

Todos os 45 quartos do Forty Five, por exemplo, têm vista para o Hyde Park, o maior parque da cidade. Não à toa, as diárias ali começam em um valor mais alto em comparação ao requintado Dorchester (ver quadro com preços ao lado). A Penthouse Suite do 45 Park Lane, por exemplo, tem 170 metros quadrados e ocupa todo o terraço do prédio, com uma vista privilegiada de 360 graus da capital inglesa. O valor da diária? Cerca de 7 mil libras (algo em torno de US$ 10 mil), preço que ainda pode variar de acordo com a estação. Desde a inauguração, em setembro, o espaço tem sido ocupado sobretudo por celebridades internacionais, mas o hóspede que estreou a Penthouse foi mesmo um brasileiro (sua identidade, porém, permanece mantida em sigilo graças à política de privacidade do hotel).

 

 Mas se a ideia é fugir da cidade grande, nem é preciso sair da rede Dorchester. A apenas 45 minutos dali, em direção ao aeroporto de Heathrow, o grupo opera o Coworth Park Hotel Spa, um verdadeiro hotel-mansão, rodeado por antigos estábulos transformados em bangalôs luxuosos e uma grande área verde. O resultado é um clima rural, mas, ao mesmo tempo, sofisticado. O hóspede pode, por exemplo, fazer aulas de equitação pela manhã, explorando o campo montado a cavalo – e à tarde, mergulhar em uma das piscinas aquecidas indoor, do spa. Além dos tratamentos baseados em aromaterapia, outra grande vantagem é que ali em Coworth Park o spa funciona em uma casa à parte, inclusive com seu próprio restaurante de comidas lights. Na prática, significa sair de uma massagem, vestir o roupão e seguir direto para um sanduíche de rúcula com queijo brie e, por que não, um prosecco. Excesso de mimo? Talvez. Mas não é para isso, principalmente, que se vai a um lugar desses?

 

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Enviada especial à Inglaterra