02/02/2001 - 8:00
Ele viveu à sombra os últimos 20 anos. Evitou qualquer tipo de exposição. Nada das festas de antigamente, regadas a champanhe Cristal em sua mansão na Gávea. Nada de encontros decisivos em Brasília. Eventos sociais nem pensar. A reclusão voluntária poderia parecer natural para o homem que carregou (e sempre carregará) o estigma de ter quebrado na década de 80 a caderneta de poupança Delfin, então a maior do País, afogada em dívidas de US$ 250 milhões com o extinto Banco Nacional de Habitação. Mas o isolamento não é tão ao acaso assim. Ao afastar-se, Levinsohn tenta livrar-se dos fantasmas do passado ao mesmo tempo em que abre espaço para novas frentes empresariais. Hoje, este gaúcho de 63 anos, tem negócios de mil faces: atua na área de educação e construção civil, controla um escritório de advocacia, tem fazendas na Bahia e vários imóveis. É dele, por exemplo, a segunda universidade privada do Rio de Janeiro, a UniverCidade. O complexo educacional, que ainda reúne colégios de ensino médio, abriga 25 mil alunos. ?Isto não é um negócio. É uma obra social que se dedica a levar ensino a uma faixa de alunos excluídos, que podem pagar mensalidade entre R$ 200 e R$ 270?, diz Levinsohn em uma de suas raras entrevistas depois da derrocada da Delfin. Os alunos excluídos que estudam na obra social do empresário rendem anualmente cerca de R$ 40 milhões.
No momento, Levinsohn está investindo R$ 20 milhões em um projeto para interligar via rede as universidades, uma espécie de intranet. ?Conseguimos um financiamento e vamos pagar em 10 anos?, avisa. O empresário estuda ainda a possibilidade de levar universidades a São Gonçalo e à Baixada Fluminense. Petrópolis também está no roteiro. Não há planos de expansão nacional. Levinsohn diz que seu compromisso é com o Rio de Janeiro. De qualquer maneira, impressiona a velocidade de crescimento de suas atividades. Há dez anos, ele contava apenas com 1,8 mil estudantes. Hoje, circulam pelos pátios de suas escolas quinze vezes mais alunos.
A rapidez de seus passos na área de educação já provocou no mercado comparações exageradas, como ?ele é o Di Gênio do Rio? ? referência ao empresário João Carlos Di Gênio, dono do Objetivo. Levinsohn não concorda: ?Di Gênio é um desbravador. Eu sou um curioso que procura inovar?. Um curioso que, diga-se, vem recuperando espaço. Em 1983, quando o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial da Delfin e assumiu o compromisso com os poupadores, comenta-se que o empresário teve de recorrer aos talões de cheque da filha a até a ajuda de amigos para recomeçar a vida. Pouco depois, Levinsohn fez um acordo com o BC, pelo qual ficou estabelecido que ele poderia ficar com o que sobrou de ativos da Delfin ? imóveis que se valorizaram com a inflação e renderam algo como US$ 300 milhões ? e saldaria o restante das dívidas em treze anos. Foi um grande negócio. Para Levinsohn. Até o hoje o governo espera o dinheiro. A assessoria do BC informou que o passivo é de R$ 1,2 bilhão. ?É um assunto sub júdice. Não posso falar?, diz o empresário.
Ele também não gosta de falar das fazendas na Bahia, tampouco de uma suposta participação na empresa Colina Paulista, que colhe anualmente 25 mil toneladas de soja, milho e arroz. Quando perguntado sobre as atividades desta empresa, Levinsohn é direto: ?Ignoro, dela não participo?. A Colina, cujo patrimônio é avaliado em US$ 700 milhões, está registrada em nome de Paulo Carneiro Ribeiro, ex-diretor jurídico da Delfin, e de Adilson Santana Borges, contador do empresário há mais de 20 anos. No mais, Levinsohn passa a maior parte do tempo em sua mansão na Gávea. E tenta exorcizar os fantasmas da Delfin.