Milhares de sandinistas, a maioria pobres, lotaram esta segunda-feira a praça La Fé, de Manágua, para apoiar os planos de reeleição do presidente, Daniel Ortega, nas eleições de 2011, durante as comemorações pelo 31º aniversário da Revolução, constatou a AFP.

A Frente Sandinista (FSLN, esquerdista), que governa pela segunda vez a Nicarágua desde 2007, comemorou o aniversário de sua revolução, em 1979, com um ato multitudinário em Manágua, decidida a “continuar conquistado novas vitórias” perante a direita, que perdeu o poder há três anos e meio.

Em 1979, muitos dos ex-guerrilheiros da FSLN que lutaram contra a ditadura de Anastasio Somoza entraram a pé na praça em 1979, sujos e barbudos, vindos das montanhas, para Manágua. Hoje, 31 anos depois, chegaram acompanhados de suas famílias em carros luxuosos e caminhonetes de diferentes marcas e modelos, que estacionaram nos arredores do evento, com a bandeira do partido pendurada na janela.

Outros chegaram em coletivos e os mais pobres, a maioria jovens, a pé ou a bordo de ônibus fretados pelo governo para trazê-los de seus locais de origem até a capital.

“Estamos aqui para apoiar o governo, com Daniel à frente”, disse Isaías Seas, veterano militante da FSLN que participou da insurreição sandinista que terminou com 42 anos de ditadura militar.

“Vimos ratificar nosso presidente, Daniel Ortega, porque é o único que favoreceu os pobres, o que lutou para devolver os direitos” ao povo, disse Angela, uma corpulenta mulher de 40 anos originária do município costeiro de Tola (sul), ao chegar à praça.

Muitos protagonistas da Revolução, no entanto, estão hoje na oposição e acusam Ortega de ter enriquecido às custas do partido, de politicar as instituições, “trair” os valores que forjaram a luta que a FSLN iniciou, em 1961, nas montanhas.

Um mar de gente com bandeiras vermelhas e pretas da FSLN tomou a praça, no centro antigo da capital, onde Ortega presidiu o ato ao som de músicas típicas, reagge e do famoso tema que usou na campanha eleitoral de 2006, quando voltou ao poder.

“O que queremos é trabalho e paz”, repetia a canção que ecoava na praça, enquanto bonés e camisetas alusivas à FSLN, com a imagem de Ortega, o Che ou Sandino (herói sandinista assassinado em 1934) – confeccionadas em Nicarágua e Guatemala – eram vendidas a menos de 50 centavos de dólar.

“Os sandinistas levamos nossa ideologia no sangue” e aonde “vá Daniel, vamos nós”, disse à AFP Leonel Brenes, um camponês de 36 anos do departamento de Rivas (sul), enquanto enfrentava o calor da tropical capital nicaraguense com uns goles.

Falando a milhares de seguidores, o presidente Daniel Ortega disse que é “o povo” quem deve decidir nas eleições de novembro de 2011 sobre sua eventual reeleição, proibida pela Constituição, mas autorizada por uma questionada sentença de juízes simpatizantes da situação.

Sem mencionaar a palavra reeleição, Ortega desafiou seus adversários políticos a dar “as caras no próximo ano eleitoral. “É o povo que terá que tomar a decisão”, afirmou, durante um discurso de quase duas horas.

“Este povo merece que o governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) de unidade, reconciliação e paz continue governando para continuar desenvolvendo todos estes projetos”, disse Ortega.

“Os que têm olhos para ver, que vejam, os que tiverem ouvidos, que escutem, como diz o Evangelho”, disse Ortega em alusão aos que acusam de não acabar com a pobreza que aflige 70% dos 5,8 milhões de nicaraguenses.

A Constituição proíbe a reeleição contínua, mas magistrados sandinistas resolveram, em uma questionada sentença, que esta norma não se aplica a Ortega porque viola seus direitos políticos.

A pesquisa mais recente realizada pela empresa M&R revelou que 69,9% da população é contrária à sentença que autoriza Ortega a buscar sua reeleição.

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