Milhares de turistas deixavam a Tunísia neste sábado, um dia após um sangrento atentado reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) contra um hotel que deixou 38 mortos, em sua maioria britânicos.

“Este é o ataque terrorista mais importante contra cidadãos britânicos” desde os atentados suicidas de 7 de julho de 2005, que completam dez anos no próximo mês, destacou o secretário de Estado de Relações Exteriores encarregado da África do Norte, Tobias Ellwood.

Entre as 38 vítimas fatais, há 15 britânicos, uma belga, um alemão, uma irlandesa e uma portuguesa, anunciou o ministro tunisiano da Saúde, Said Aidi, acrescentando que 39 pessoas ficaram feridas. Entre eles, 25 britânicos, sete tunisianos e três belgas.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que seu país precisa “se preparar para o fato de existirem muitos britânicos entre as vítimas do selvagem ataque”.

Condenado como “bárbaro” pela comunidade internacional, o ataque foi lançado por um estudante tunisiano que entrou no hotel Riu Imperial Marhaba, em Port El Kantaoui, perto de Sousse (140 km ao sul de Túnis). É o pior atentado na história recente da Tunísia.

O premiê tunisiano, Habib Essid, afirmou que 80 mesquitas acusadas de incitar o terrorismo serão fechadas e anunciou que vai recorrer aos reservistas do Exército para reforçar a segurança nos locais sensíveis.

A chefe do Governo alemão, Angela Merkel, telefonou para Essid para reiterar a colaboração de seu governo na luta contra a ameaça jihadista.

O terrorista havia escondido sua arma em um guarda-sol, fingindo ser mais um turista. Ele disparou contra as pessoas que estavam na praia e, depois, entrou no hotel para matar as pessoas que pegavam sol, ou aproveitavam a piscina.

Esse ataque coincidiu com uma onda de atentados registrados no mesmo dia no Kuwait, com pelo menos 27 mortos em um atentado também reivindicado pelo EI, e na França, onde uma pessoa foi decapitada. Essas ações ocorreram três dias antes do primeiro aniversário do califado proclamado pelo EI nos territórios que conquistou na Síria e no Iraque.

Esse massacre representa outro golpe ao essencial setor do turismo na Tunísia, três meses após outro ataque contra o museu do Bardo na capital. No episódio, 22 pessoas morreram, sendo 21 delas turistas.

Centenas de turistas estrangeiros se reuniam no aeroporto de Enfidha – entre a capital e Sousse – na madrugada deste sábado para deixar o país. O fluxo de partidas prosseguiu ao longo do dia.

A maioria dos voos que apareciam nas telas do aeroporto era com destino a Londres, Manchester, Amsterdã, Bruxelas e São Petersburgo.

Um casal britânico que chegou na quarta-feira a Sousse contou à AFP que o organizador de sua viagem disse para voltarem para casa.

“Temos medo, o local não é seguro”, disse outro jovem, Leon, originário de Gales.

“Nossa agência nos aconselhou a voltar imediatamente para o nosso país, a Bélgica. Era obrigatório deixar imediatamente o país”, disse à AFP o jovem turista Aziz.

Quase 20.000 britânicos estavam em excursão pela Tunísia no momento do ataque, além de muitos outros por conta própria, relatou a ABTA, a Associação das Agências Britânicas de Viagem.

Até a noite deste sábado, as operadoras de Turismo Thomson, First Choice e Jet2 já haviam repatriado cerca de 1.200 pessoas. Até amanhã, a previsão é que pelo 2.500 de seus clientes tenham deixado a Tunísia, de acordo com as próprias agências. Todas as estadas programadas também estão canceladas.

Um porta-voz da Scotland Yard anunciou que a instituição enviou “um grande número de policiais à Tunísia para ajudar as autoridades tunisianas e para fazer (nossa) própria investigação”.

Já o operador belga Jetair, até a noite deste sábado pelo menos 2.000 clientes terão sido repatriados à Bélgica. Além disso, foram cancelados todos os voos com destino à Tunísia até 31 de julho.

O governo belga desaconselhou seus cidadãos a embarcaram para a Tunísia.

Desde a Primavera Árabe que começou na Tunísia em 2011, o país enfrenta uma crescente ameaça jihadista, que ataca principalmente o turismo. O setor representa mais de 7% do PIB da Tunísia e gera quase 400.000 empregos diretos e indiretos.

O atentado de sexta-feira contra o hotel foi reivindicado pelo grupo extremista sunita Estado Islâmico em um comunicado divulgado por contas jihadistas no Twitter. O grupo justificou o ataque, alegando que a maioria dos turistas é “de Estados da aliança cruzada que combate o estado do califado”, em referência à coalizão internacional antijihadista.

O autor do atentado, que foi abatido pela Polícia, chamava-se Seifeddine Rezgui. Originário de Gaafur (noroeste), ele estudava em Kairuan (centro). Não era fichado pela Polícia, segundo o secretário de Estado de Segurança, Rafik Chelly, ressaltando que, a princípio, teria agido sozinho.

Segundo uma testemunha tunisiana, o atacante disparava contra turistas, mas não contra tunisianos: “o terrorista nos disse: ‘se afastem, não vim por vocês’. Não disparou em nós, disparou contra os turistas”.

A proprietária do hotel, Zohra Driss, reconheceu que os seguranças “não estavam armados”.

“Como querem que se defendam de alguém com um kalashnikov?”, questionou, em entrevista coletiva.