27/06/2015 - 17:11
Milhares de turistas deixavam a Tunísia neste sábado, um dia após um sangrento atentado reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) contra um hotel que deixou 38 mortos, em sua maioria britânicos.
“Este é o ataque terrorista mais importante contra cidadãos britânicos” desde os atentados suicidas de 7 de julho de 2005, que completam dez anos no próximo mês, destacou o secretário de Estado de Relações Exteriores encarregado da África do Norte, Tobias Ellwood.
Entre as 38 vítimas fatais, 17 cadáveres foram identificados. Além de 15 britânicos, estão uma belga, um alemão, uma irlandesa e uma portuguesa, anunciou o ministro tunisiano da Saúde, Said Aidi, à AFP.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que seu país precisa “se preparar para o fato de existirem muitos britânicos entre as vítimas do selvagem ataque”.
Condenado como “bárbaro” pela comunidade internacional, o ataque foi lançado por um estudante tunisiano que entrou no hotel Riu Imperial Marhaba, em Port El Kantaoui, perto de Sousse (140 km ao sul de Túnis). É o pior atentado na história recente da Tunísia.
O primeiro-ministro tunisiano, Habib Essid, afirmou que 80 mesquitas acusadas de incitar o terrorismo serão fechadas e anunciou que vai recorrer aos reservistas do Exército para reforçar a segurança nos locais sensíveis.
A chefe do Governo alemão, Angela Merkel, telefonou para Essid para reiterar a colaboração de seu governo na luta contra a ameaça jihadista.
O terrorista havia escondido sua arma em um guarda-sol, fingindo ser mais um turista. Ele disparou contra as pessoas que estavam na praia e, depois, entrou no hotel para matar as pessoas que pegavam sol, ou aproveitavam a piscina.
Esse ataque coincidiu com uma onda de atentados registrados no mesmo dia no Kuwait, com pelo menos 27 mortos em um atentado também reivindicado pelo EI, e na França, onde uma pessoa foi decapitada. Essas ações ocorreram três dias antes do primeiro aniversário do califado proclamado pelo EI nos territórios que conquistou na Síria e no Iraque.
Esse massacre representa outro golpe ao essencial setor do turismo na Tunísia, três meses após outro ataque contra o museu do Bardo na capital. No episódio, 22 pessoas morreram, sendo 21 delas turistas.
Centenas de turistas estrangeiros se reuniam no aeroporto de Enfidha – entre a capital e Sousse – na madrugada deste sábado para deixar o país. O fluxo de partidas prosseguia na manhã deste sábado, constatou a AFP.
A maioria dos voos que apareciam nas telas do aeroporto era com destino a Londres, Manchester, Amsterdã, Bruxelas e São Petersburgo.
Um casal britânico que chegou na quarta-feira a Sousse contou à AFP que o organizador de sua viagem disse para voltarem para casa.
“Temos medo, o local não é seguro”, disse outro jovem, Leon, originário de Gales.
“Nossa agência nos aconselhou a voltar imediatamente para o nosso país, a Bélgica. Era obrigatório deixar imediatamente o país”, disse à AFP o jovem turista Aziz.
Segundo o operador belga Jetair, até a noite deste sábado 2.000 clientes terão sido repatriados à Bélgica.
O operador de turismo Thomson anunciou o envio de dez aviões para repatriar 2.500 turistas britânicos, assim como o cancelamento de todas as estadas na Tunísia, na próxima semana.
Desde a Primavera Árabe que começou na Tunísia em 2011, o país enfrenta uma crescente ameaça jihadista, que ataca principalmente o turismo. O setor representa mais de 7% do PIB da Tunísia e gera quase 400.000 empregos diretos e indiretos.
O atentado de sexta-feira contra o hotel foi reivindicado pelo grupo extremista sunita Estado Islâmico em um comunicado divulgado por contas jihadistas no Twitter. O grupo justificou o ataque, alegando que a maioria dos turistas é “de Estados da aliança cruzada que combate o estado do califado”, em referência à coalizão internacional antijihadista.
O autor do atentado, que foi abatido pela Polícia, chamava-se Seifeddine Rezgui. Originário de Gaafur (noroeste), ele estudava em Kairuan (centro). Não era fichado pela Polícia, segundo o secretário de Estado de Segurança, Rafik Chelly, ressaltando que, a princípio, teria agido sozinho.
Segundo uma testemunha tunisiana, o atacante disparava contra turistas, mas não contra tunisianos: “o terrorista nos disse: ‘se afastem, não vim por vocês’. Não disparou em nós, disparou contra os turistas”.
A proprietária do hotel, Zohra Driss, reconheceu que os seguranças “não estavam armados”.
“Como querem que se defendam de alguém com um kalashnikov?”, questionou, em entrevista coletiva.