Ex-presidente cumpre prisão domiciliar por corrupção e acusa Suprema Corte de parcialidade. Pena a impede de disputar cargos públicos de forma vitalícia.Sob o lema “Argentina com Cristina”, milhares de apoiadores da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner saíram às ruas nesta quarta-feira (18/06) em apoio à líder peronista, que começou a cumprir seis anos de prisão domiciliar por corrupção na terça-feira.

Os manifestantes se concentraram na Plaza de Mayo, em Buenos Aires, em frente à casa do governo, e se espalharam pelas ruas vizinhas em uma manifestação convocada pelo Partido Justicialista (PJ), presidido por Kirchner, duas vezes presidente (2007–2015) e uma vez vice-presidente (2019–2023) da Argentina.

“Vamos voltar e, além disso, vamos voltar com mais sabedoria, com mais unidade, com mais força”, prometeu a ex-presidente em um discurso gravado e difundido na concentração.

“O verdadeiro poder econômico sabe que este modelo não tem futuro, sabe que está caindo, e por isso estou presa”, acrescentou Kirchner, cuja condenação também a inabilita a exercer cargos públicos de forma vitalícia.

Os manifestantes carregavam bandeiras argentinas, de sindicatos, organizações sociais e estudantis, e cartazes com frases como “a pátria não se vende”.

Condenada por fraude em contratos públicos

Kirchner, líder da oposição ao presidente Javier Milei, foi condenada por fraude em contratos de obras públicas, em decisão judicial confirmada na semana passada pela Suprema Corte do país.

O caso ficou conhecido como “Vialidad”. Ela é acusada de favorecer um amigo empresário na concessão de 51 obras rodoviárias na província de Santa Cruz, no sul do país, berço político do kirchnerismo, durante o governo de seu marido já falecido, Néstor Kirchner , e na sua gestão.

Na terça-feira, um tribunal concedeu a prisão domiciliar à ex-presidente por ela ter mais de 70 anos de idade.

A Corte confirmou a condenação dias após Kirchner anunciar sua candidatura a deputada pela província de Buenos Aires. Caso fosse eleita, teria foro privilegiado por quatro anos.

A ex-presidente acusou três integrantes do tribunal de parcialidade e de serem “fantoches” do poder econômico.

Manifestação restrita ao peronismo

Para Lara Goyburu, cientista política da Universidade de Buenos Aires, a manifestação desta quarta-feira se restringiu ao peronismo, diferente de outros protestos mais amplos contra o governo de Milei.

“A marcha de hoje demonstra alguma capacidade de mobilização de rua que o peronismo ampliado ainda conserva, mas o que não vemos nesta marcha (…) é a transversalidade que se viu em outras ocasiões, como a marcha universitária [contra Milei]”, opinou.

No entanto, frentes de esquerda também se somaram ao evento com suas próprias colunas, algo inédito em defesa de uma líder peronista.

Polícia aplica novo protocolo

A polícia montou bloqueios nas rotas de acesso a Buenos Aires, onde aplicou um novo protocolo definido em decreto presidencial que a permite revistar pessoas e veículos sem ordem judicial.

O decreto também autoriza agentes a prenderem qualquer cidadão para fins de identificação por até dez horas sem intervenção judicial.

Líderes sindicais afirmaram que os ônibus foram revistados várias vezes em diferentes pontos ao longo dos caminhos que levam à capital.

O porta-voz da presidência, Manuel Adorni, defendeu a operação. “Quando você detecta que pode haver algum perigo adicional para a sociedade, tenta neutralizá-lo. E isso não vai contra a Constituição nem ao Estado de Direito”, disse em coletiva.

gq (afp, efe, dw)