25/11/2021 - 22:03
Do México a Istambul, passando por Madri, milhares de manifestantes foram às ruas nesta quinta-feira (25), repetindo palavras de ordem exibindo o fim da violência contra as mulheres.
Em Madri, Barcelona, Londres, Cidade do México, Guatemala e Montevidéu, ativistas feministas organizaram manifestações por ocasião do Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher.
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Em geral pacíficas e reivindicatórias, a marcha de Istambul foi marcada pela intervenção da tropa de choque, que dispersou com bombas de gás lacrimogêneo manifestantes que pediam ao governo o retorno a uma convenção importante para proteger as mulheres.
O presidente Recep Tayyip Erdogan retirou a Turquia da Convenção de Istambul, tratado ratificado por mais de 30 países europeus para prevenir e lutar contra a violência contra as mulheres, argumentando que prejudicava os valores tradicionais da família turca.
As mulheres e ativistas do país consideram que esta retirada dá uma sensação de impunidade aos agressores e denunciam que só este ano morreram 345 mulheres.
“México feminicida!”
Em um país sacudido por uma espiral de feminicídios como o México, milhares de pessoas formaram um enorme bloco de roupas pretas com detalhes em roxo em uma marcha que teve atritos com as 1.500 policiais femininas mobilizadas pelas autoridades.
Pequenos grupos de manifestantes, armadas com martelos, tentaram tomar os escudos das agentes, que usaram gases irritantes para dispersá-los. Também fizeram pichações, provocaram destroços e improvisaram projéteis incendiários com produtos químicos, repelidos com extintores pelas policiais.
“México feminicida! Estão nos matando!”, protestou uma manifestante, em meio a um breve atrito com a polícia.
Cifras oficiais indicam que desde 2019 foram mortas mais de 10.700 mulheres no país. Estimativas da ONU calculam que a violência de gênero mata, em média, dez mexicanas por dia.
Segundo as Nações Unidas, uma em cada três mulheres no mundo experimentou violência física ou sexual, normalmente de parte de algum conhecido.
“As mulheres vítimas da violência devem ser protegidas”, manifestou-se o papa Francisco no Twitter.
Espanha tingida de violeta
Também houve manifestações na Espanha, país com um governo declaradamente feminista, que fez da luta contra a violência de gênero uma prioridade. De fato, o país conta com uma legislação específica sobre essa questão desde 2004.
E desde 2002, dispõe de um observatório público de violência de gênero, que contabilizou 1.118 mulheres assassinadas por seus companheiros ou ex-companheiros desde 2002, 37 delas em 2021.
O poderoso movimento feminista tingiu de violeta as ruas de Madri, Barcelona, Valência e Sevilha, em manifestações acompanhadas de cânticos como “Não estamos todas, faltam as assassinadas” ou “Nem uma a menos, nos queremos vivas”.
“Em nível mundial ainda continua sendo um flagelo e uma problemática muito grande e já é hora de que se acabe a violência patriarcal”, disse Leslie Holguín, estudante e atriz de 30 anos, em Madri.
Na capital, com alguns de seus monumentos iluminados pela cor violeta, a marcha era encabeçada por um grande cartaz que dizia: “#Fartas das violências machistas contra as mulheres. Soluções já!”.
“Acabar com a violência machista é uma verdadeira política de Estado”, tuitou o presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez.
Aumento com a pandemia
Também houve múltiplas marchas na América Latina e no Caribe onde, segundo um estudo da Cepal (comissão das Nações Unidas para a região), pelo menos 4.091 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2020.
Centenas de mulheres marcharam nesta quinta-feira na Cidade da Guatemala, em uma caminhada pacífica, encabeçada por cartazes com mensagens como “Tolerância zero para a violência contra as mulheres” ou “Pela vida das mulheres”.
No Peru, a reivindicação foi antecipada para a noite de quarta-feira. Dezenas de mulheres vestidas de branco participaram de uma marcha e de um cortejo fúnebre simbólico, realizado no populoso distrito de Villa El Salvador, ao sul de Lima.
“A violência contra a mulher é parte da nossa vida cotidiana, acho que não tem um dia que acordemos e não haja uma notícia sobre este tema”, disse à AFP Marie Eve Gougeon, de 40 anos.
No Peru foram denunciados 132 feminicídios entre janeiro e novembro, superando a marca no mesmo período de 2020 (127), segundo a Defensoria do Povo. Também houve 258 casos de tentativa de feminicídio e 4.904 desaparecimentos.
“O panorama do nosso país é muito preocupante, na pandemia os índices de violência subiram”, disse à imprensa a ministra da Mulher, Anahí Durand.