SÃO PAULO (Reuters) – Milhares de manifestantes realizaram atos contra o governo do presidente Jair Bolsonaro em cidades brasileiras neste domingo, defendendo a democracia e o impeachment do chefe do Executivo, mas também reclamando da alta dos preços de alimentos e dos combustíveis no país.

Os protestos contaram com a presença de pré-candidatos à Presidência que pretendem encampar uma terceira via alternativa a Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais do ano que vem, como Ciro Gomes (PDT), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

+ Ciro Gomes fala em união de ‘diferentes’ e critica Bolsonaro: ‘traidor’; Assista
+ João Doria promete ir à manifestação e fala em ‘democracia’

No Rio de Janeiro, as pessoas se reuniram pela manhã na orla da praia de Copacabana, pedindo para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ‘liberar’ o impeachment e criticando o ministro da Economia, Paulo Guedes, pela escalada da inflação.

“Milhões de pessoas estão passando fome e precisamos de uma política econômica voltada para o bolso e a mesa do povo”, disse Vilmar Santos, de 64 anos, que carregava um cartaz com dizeres como “Feijão sim, fuzil não; pão sim, armas não”.

Em São Paulo, a manifestação acontecia na Avenida Paulista, e trazia cartazes com afirmações como “Não existe futuro sem democracia” e “Fora Bolsonaro”.

Houve também protestos em Brasília, Belo Horizonte, São Luís, Manaus e Vitória, de acordo com a mídia.

Inicialmente convocados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e pelo Vem Pra Rua, os protestos acabaram incorporando entidades e partidos políticos de outros campos ideológicos, na intenção de fazer frente às manifestações encabeçadas por Bolsonaro no 7 de Setembro.

A adesão, contudo, era menor, mesmo com o apoio de partidos de centro e centro-direita como o PSDB, Novo, DEM, PSD, MDB e PSL, além de siglas da centro-esquerda, como Rede, Solidariedade, PDT e Cidadania, assim como algumas centrais sindicais, com exceção da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Em coletiva no Centro de Operações da Polícia Militar antes de ir à Paulista, Doria disse que o PSDB está apoiando a manifestação e que ele estará “sempre ao lado da verdade, ao lado da bandeira brasileira, da verdadeira bandeira brasileira e dos valores que nos em defesa da democracia”.

Apesar da participação de legendas mais à esquerda, o PT optou em ficar de fora. O PSOL, também disse que não participaria, apesar de alguns de seus integrantes terem confirmado presença nos atos.

Ciro Gomes, vice-presidente do PDT, afirmou que o ato é um passo que brasileiros das mais diversas correntes ideológicas precisam dar para “proteger a democracia brasileira contra uma tentativa de um golpista criminoso que está destruindo nosso tecido produtivo e social”.

Mandetta também destacou que o que está em risco agora é própria democracia. “Então zelar pela democracia é posicionar que as eleições irão ocorrer e que elas serão transparentes e limpas e que a verdade é o único caminho que pode levar esse Brasil a se reencontrar.”

Nos discursos do Dia da Independência, Bolsonaro fez ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e às eleições de 2022, afirmou que não mais acataria decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes e garantiu que só sairá do cargo preso ou morto. Ele procurou algum tipo de apaziguamento com nota oficial divulgada na quinta-feira, mas ela foi recebida com ceticismo.

As mobilizações contra Bolsonaro não devem se encerrar neste domingo, uma vez que há preparativos para uma grande manifestação prevista para o início de outubro.

Bolsonaro é alvo de mais de 100 pedidos de impeachment, inclusive um super pedido assinado por uma série de partidos e entidades, do PT ao MBL. O presidente da Câmara, a quem cabe decidir se acata, já sinalizou ainda não ver as condições para seguir com um processo de impedimento de Bolsonaro.

O tema, aliás, deve ser debatido pelo plenário do STF, em data ainda não definida.

 

(Reportagem Leonardo Benassato, Paula Arend Laier e Eduardo Simões, em São Paulo, Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro, e Maria Carolina Marcello, em Brasília; edição de Eduardo Simões)

tagreuters.com2021binary_LYNXMPEH8B0AU-BASEIMAGE