EM MAIO DESTE ANO, O russo Roman Abramovich, dono do time de futebol Chelsea e também de uma fortuna de US$ 23,5 bilhões, fez do pintor Lucien Freud o artista vivo mais valorizado da atualidade. Sem pestanejar, o bilionário russo pagou US$ 33 milhões pela tela Benefits Supervisor Sleeping em um leilão organizado pela Christie’s. Se as obras de Freud já valiam muito, depois da tacada de Abramovich, passaram para um patamar bem superior. Hoje, quem possui uma tela de Lucien Freud, considerado um mestre do realismo, é dono de um bem que vale milhões de dólares. Mas nem todos dão o devido valor ao trabalho do artista, neto de Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Para espanto do pintor, o alemão Bernard Breslauer (1918- 2004), retratado por ele há mais de 50 anos, destruiu o quadro por achá-lo feio demais. O sacrilégio ocorreu porque Breslauer não gostou do modo como o artista pintou o seu queixo duplo. Isso só foi revelado depois que uma exposição de quadros de Freud pintados entre 1940 e 1958 foi organizada para o mês de setembro, em Londres.

Em busca da tela, por indicação do próprio Freud, Catherine Lampert, a curadora da exposição, descobriu que Breslauer havia dado fim à tela, jogando milhões de dólares no lixo. Não há imagens dessa obra – apenas as lembranças de Freud.

Essa é a primeira vez que um retratado faz isso com Freud. “Ele ficou muito desapontado”, disse Catherine Lampert ao jornal inglês The Daly Mail. Não é, contudo, a primeira vez que um de seus retratados reclama do resultado. Freud é freqüentemente criticado por deixar os personagens mais feios do que o normal. Recentemente, ele pintou a rainha Elizabeth II e a imprensa inglesa criticou-o vorazmente. O jornal The Sun publicou um artigo no qual dizia que o artista fez a rainha da Inglaterra se parecer com um travesti. Freud deu de ombros. Aliás, ele mesmo já fez um auto-retrato, o Reflection, pintado em 1985, no qual surge com linhas de expressão mais marcantes. A garantia é que ele, pelo menos, não vai cometer o mesmo absurdo de Breslauer.