Como a maioria das adolescentes de 14 anos, a americana Ava Anderson sempre gostou muito de se maquiar. Mas, diferentemente de suas amigas, ficava intrigada com uma questão: do que aqueles batons, delineadores e xampus que ela tanto gostava eram feitos? Quando descobriu levou um susto. “Fiquei chocada ao descobrir que um cosmético possui pelo menos 14 produtos tóxicos”, diz Ava à DINHEIRO. Numa decisão atípica para quem ainda está longe da maturidade, a jovem começou a pesquisar como os produtos eram feitos e passou a fabricá-los em casa com substâncias 100% naturais. 

 

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“Fiquei chocada ao ver quantos produtos tóxicos tinha um cosmético. Resolvi então criar meus próprios produtos”.

Ava Anderson, 16 anos, CEO da Ava Anderson Non-Toxic

 

Isso chamou a atenção dos pais, Kim e Frohman Anderson, que decidiram transformar a aventura da garota em um negócio. “Usamos um pouco de nossas economias para apostar no projeto, pois ficamos impressionados com a disposição dela e achamos que aquele negócio tinha futuro”, diz sua mãe, Kim. 

 

Hoje, dois anos depois, Ava se tornou uma das mais jovens CEOs do mundo. Ela comanda a empresa que criou e batizou com o seu nome: a AVA Anderson Non-Toxic, uma companhia com faturamento anual estimado em US$ 4 milhões. A trajetória da menina pode servir como uma aula de empreendedorismo. 

 

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Sem nada tóxico: a linha de cosméticos de Ava conta com 753 consultoras nos Estados Unidos

 

Ava começou vendendo para as colegas da escola e hoje adota um modelo de gestão profissional. O negócio segue uma mistura dos modelos Nike e Avon, pois a produção é completamente terceirizada, como a empresa de materiais esportivos, e as vendas são feitas por 753 consultoras, igual a famosa companhia de vendas porta a porta. 

 

O escritório faz a concepção dos produtos e repassa aos oito fornecedores. Apesar da pouca idade, Ava interfere em todas as etapas do processo, pesquisando ingredientes e combinações. 

 

Fora do trabalho, contudo, sua rotina é de uma adolescente normal. Dá expediente pela manhã e no período da tarde vai à escola, onde está concluindo o 2º grau. “Atuamos em um mercado concorrido onde estão diversos competidores globais, mas acreditamos muito em nosso negócio”, afirma a jovem empreendedora que mora em Rhode Island. 

 

O caso de Ava não é o único de adolescente que fez o primeiro milhão antes dos 18 anos. Existem outros jovens que já chegaram mais longe que muito marmanjo. 

 

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Produto natural: o escocês Fraser (ao centro) usou a receita da avó e convenceu uma grande rede

de supermercados a vender suas geleias. Ficou milionário com apenas 17 anos.

 

Entre eles, destaca-se o escocês Fraser Doherty. Aos 14 anos, ele era apenas um garoto que adorava as geléias que sua avó fazia e achou que seria divertido copiar sua receita. Passou a vender a compota para os vizinhos e, assim, conseguiu um dinheiro extra. 

 

O produto fez tanto sucesso que Doherty ampliou a produção e passou a vender de porta em porta em Edimburgo, capital da Escócia. Um ano depois, decidiu procurar uma das maiores redes de supermercados da Grã-Bretanha, a Waitrose, para oferecer seu produto. 

 

A ideia de vender geléias feitas de maneira completamente natural agradou o gerente de compras da varejista, mas, antes, haviam detalhes a serem resolvidos. O garoto deveria criar uma marca para o produto e ampliar o volume de produção. 

 

“Foi nesse momento que eu percebi que eu poderia tornar isso um negócio rentável”, conta Doherty à DINHEIRO. Na época, o empreendedor, hoje com 21 anos, batizou a empresa com o nome de SuperJam. 

 

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Nova empreitada: o brasileiro Edgard Nogueira fundou o Aonde, aos 14 anos. Hoje aos 27,

já criou mais duas empresas com as quais lucra mais do que com a primeira

 

Mas não foi tão fácil quanto ele imaginava. Depois da conversa com o executivo da Waitrose, Doherty levou dois anos tentando convencer fábricas a produzir a sua geléia natural. “Foi difícil. 

 

Poucos me levavam a sério e me recebiam para uma conversa. Um deles chegou a me dizer que eu era muito petulante ao achar que poderia reinventar a forma como as geléias são fabricadas”, diz o empreendedor, que abandonou os estudos aos 16 anos para tocar o negócio iniciado com um empréstimo bancário de US$ 9 mil. 

 

Ele conseguiu um parceiro para fabricar seus produtos e em março de 2007 o Waitrose aceitou tentar vender o produto. No primeiro dia de vendas da SuperJam, em apenas um dos supermercados em Edimburgo, foram vendidos 1.500 potes. Detalhe: era mais do que o mercado estava acostumado a vender em um mês inteiro. 

 

“Na mesma semana a rede de supermercados Tesco me telefonou fazendo pedidos, assim como a Morrison”, afirma. O primeiro milhão de Doherty havia sido assim conquistado aos 17 anos de idade. Hoje é possível encontrar a SuperJam não só em todos os mercados da Grã-Bretanha como na Irlanda, França e Estados Unidos. A empresa de Doherty vende meio milhão de potes ao ano e sua empresa já vale US$ 2 milhões.

 

O que impressiona nos casos desses empresários adolescentes é que eles começaram uma companhia a partir do zero com pouco capital. E a tendência é que esses casos de empreendedorismo se intensifiquem. 

 

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Ideia simples e lucrativa: os irmãos Cook criaram uma versão digital dos livros de

formatura americanos. Hoje a empresa deles lucra cerca de US$ 30 milhões

 

Afinal, embalada pelo universo digital, a nova geração cria negócios de dentro de casa com uma só ferramenta em mãos: o computador. Um adolescente pode criar um site e gerenciá-lo do próprio quarto. Segundo estudo realizado por Dailton Felipini, mestre em administração de empresas pela FGV e especialista em e-commerce, uma boa loja virtual na internet pode ser criada com apenas R$ 3 mil. 

 

Foi isso que incentivou os irmãos americanos Catherine e David Cook. Há cinco anos, quando tinham respectivamente 15 e 17 anos, decidiram montar o “My Year Book”. O site é uma versão digital dos tradicionais livros de fotos que os alunos do ensino médio americano fazem para descrever seus colegas de classe. 

 

Depois de lançarem o site, Catherine convenceu o irmão mais velho, Geoff, de 25 anos, que já tinha negócios na internet, a investir US$ 250 mil em sua ideia para ampliá-la. Um ano depois de lançado o site já contava com 950 mil cadastrados e lucrava com patrocinadores interessados no volume de acessos. 

 

Hoje, tem 20 milhões de cadastrados e está na lista dos 25 sites com maior volume de acessos dos Estados Unidos, segundo a empresa comScore. Só no ano passado, o lucro alcançou US$ 30 milhões. “Foi muito difícil equilibrar a vida pessoal com a escola e o trabalho”, diz Catherine à DINHEIRO. “Mas valeu a pena.”

 

O Brasil, infelizmente, não facilita a vida de quem pretende abrir um negócio antes da maioridade. Isso porque a lei não permite que um menor de idade registre oficialmente a sua empresa. Uma das exceções é o carioca Edgard Nogueira, fundador do site Aonde.com. Em 1997, ele criou a empresa quando tinha apenas 14 anos e teve de registrá-la no nome de sua mãe Sueli Nogueira. 

 

Dois anos depois, quando fez 16 anos, pediu para ser emancipado e assumiu o comando da empresa – pelo menos legalmente. O investimento inicial do garoto foi de R$ 150 e o site chegou a valer R$ 10 milhões três anos depois, segundo estimativas do mercado. O Aonde.com recebia uma média de quatro milhões de visitas de internautas por mês. 

 

Ele não vendeu e acabou perdendo mercado para outros portais de busca de maior porte como o Google e o Yahoo. O empresário, hoje com 27 anos, mantém o site no ar, mas lucra mais com outros dois serviços que criou: o Aondenamoro.com e o AfiliAds.com, o primeiro um site de relacionamento online e o segundo um site que comercializa e distribui anúncios. 

 

O empreendedor confessa que, se tivesse montado o negócio com mais idade, talvez tivesse feito escolhas diferentes. “Me preocuparia mais em me antecipar à concorrência”, afirma.

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O Global Enterpreneurship Monitor (GEM), instituto que analisa o empreendedorismo no mundo, não dispõe de pesquisas sobre empresários menores de idade, mas possui um estudo que mostra o avanço dos brasileiros nesse campo. 

 

Ele revela que 52,5% dos empresários e empreendedores brasileiros estão na faixa etária entre 18 e 34 anos. “O Brasil começa agora a formar seus empreendedores, é uma mudança cultural”, afirma Sueli Damergian, professora doutora do departamento de psicologia social da USP. 

 

Ela acredita que a maior influência para essa nova geração de milionários tem sido a internet, mas não vê com bons olhos o início de um negócio comandado por um adolescente. “Se tornar milionário tão rápido atrapalha o desenvolvimento humano do indivíduo. 

 

Pula etapas da vida ao vencer com menos dor”. Mas há quem pense diferente. A Junior Achievement é uma entidade que treina cerca de dois milhões de crianças e adolescentes justamente para se tornarem empreendedores e lucrarem com isso o mais cedo possível. 

 

As turmas têm início com crianças do ensino fundamental e vão até o ensino médio. “Ao ensinar jovens não queremos apenas formar empresários, desenvolvemos o potencial das pessoas fortalecendo aspectos como perseverança e disposição para correr riscos”, diz Wilma Araújo Santos, superintendente da Junior Achievement Brasil.