09/09/2022 - 17:05
A 24 dias das eleições, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não conseguiu sucesso na ofensiva de abrir canais de diálogo com a cúpula das Forças Armadas. Desde o início do ano passado, interlocutores do candidato do PT ao Palácio do Planalto tentaram se aproximar de oficiais-generais influentes na caserna. A intenção foi barrada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.
A orientação no Exército é que qualquer contato político ou solicitação de candidatos sejam direcionados para avaliação do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, que é subordinado direto de Bolsonaro. O presidente sempre teve as Forças Armadas como base eleitoral e já deu demonstrações de que não aprova contatos de integrantes do governo com a oposição.
No auge da pandemia de covid-19, Bolsonaro desautorizou o Ministério da Saúde a negociar diretamente com a gestão do tucano João Doria no governo de São Paulo, quando a vacina Coronavac estava na fase de desenvolvimento.
Mais tarde, o governo acabou comprando vacinas, mas, enquanto pôde, o presidente retardou as tratativas com o governo do adversário político. O episódio ficou explícito quando o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello disse: “É simples assim: um manda e o outro obedece.”
Nova Regra
Na eleição de 2018, o comando do Exército havia aberto as portas para receber candidatos à Presidência. O atual comandante da Força, general Marco Antônio Freire Gomes, interrompeu o precedente e deixou de receber presidenciáveis. O grau de polarização política foi uma das justificativas dos militares para evitar conversas. O comandante preferiu se isolar de assuntos eleitorais e passar longe de exposição perante o Planalto e a opinião pública.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na chapa de Lula, tentou conversar com a cúpula do Exército, mas ouviu que as portas estavam fechadas. Oficialmente, o Comando do Exército negou qualquer abordagem.
Alckmin era uma das apostas da aliança lulista para a função de interlocutor com as Forças Armadas. Também desempenharam esse papel os ex-ministros da Defesa Nelson Jobim, Celso Amorim e Jaques Wagner.
Outra ponte passou a ser o general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, ex-chefe da segurança pessoal de Lula. O general trabalha mais na equipe de proteção de Lula. Contatos interpessoais informais costumam ocorrer.
Respeito às urnas
Apoiadores de Lula ouvidos reservadamente disseram que a atitude do comandante-geral é compreensível e não há qualquer obrigação de receber candidatos. Sustentaram que, “como há um conflito muito forte, uma polarização”, pode ser conveniente que o ex-presidente não seja recebido.
Para um ex-ministro da Defesa, o comandante sinaliza que o Exército não quer se envolver em nada e vai continuar na sua função constitucional. Os interlocutores do petista preferem não levar em consideração o fato de as Forças Armadas terem atuado fortemente na pressão ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com envio de questionamentos ao processo eletrônico de votação.
Como aparentemente a questão da segurança das urnas estaria já equacionada a partir de negociações com o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, não haveria motivo para acreditar que os militares terão postura contrária ao candidato que sair vencedor na disputa.
Após a tentativa frustrada de diálogo com a cúpula militar, segundo um conselheiro de Lula, o petista desistiu. A palavra de ordem é tratar as Forças Armadas como parte da “burocracia do Estado”, em vez de dar protagonismo político.
O assunto não está mais na ordem do dia da campanha petista. Lula considera ter um legado de “previsibilidade” na relação com a caserna. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.