A mineradora britânica Anglo American comemorou, em 2014, o término da construção do Sistema Minas-Rio, um mineroduto que liga as unidades de Conceição do Mato Dentro e de Alvorada de Minas ao Porto do Açu, na litoral fluminense. Com 529 quilômetros de extensão e capacidade de escoar 26 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, ele entrou em operação quatro anos depois do previsto. Foram investidos US$ 8,8 bilhões no projeto, mais que o dobro do cálculo inicial. As licenças ambientais provocaram muita dor de cabeça nos executivos. E, em pelo menos duas ocasiões, a empresa teve baixa contábil no balanço que, no total, representaram uma perda de US$ 7,5 bilhões.

Passados quatro anos, o Sistema Minas-Rio não deixou de ser um problema. Nos dias 12 e 29 de março, dois vazamentos provocaram estragos na região da Zona da Mata mineira. No primeiro, 300 toneladas de polpa de minério de ferro foram derramadas no córrego Ribeirão Santo Antônio do Grama, o que suspendeu a operação da companhia por 15 dias. Menos de 48 horas após a retomada da atividade, um novo acidente, com a perda de 647 toneladas de minério de ferro, foi registrado. A empresa de saneamento Copasa suspendeu a captação de água, mas o Ministério Público Estadual ainda não calculou os danos ao meio ambiente. A Anglo American tem 120 dias para apresentar um laudo sobre a poluição e depreciação ambiental. “Os acidentes aumentaram, também, por causa das produções mais complexas dos minérios e de um maior número de rejeitos”, diz Roberto Galery, chefe do departamento de engenharia de minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Estrago: o rio contaminado pelos rejeitos (à esquerda). O presidente Ruben Fernandes disse que a empresa checou toda a estrutura

As causas ainda estão sendo investigadas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, e pela UFMG. Embora os danos ambientais sejam irreparáveis, a Anglo American pode ser inocente. Uma das hipóteses levantadas pelos investigadores é a de um problema no lote de blocos comprados durante a construção do mineroduto. Essa teoria dos analistas está baseada na coincidência dos dois acidentes: ambos apresentaram o mesmo erro na solda, numa distância de cerca de 200 metros. Se for confirmado pelo laudo, que não tem previsão de conclusão, a empresa que forneceu os tubos será responsabilizada. “Todas as tubulações tinham sido checadas adequadamente”, afirmou Ruben Fernandes, presidente da Anglo American no Brasil, em vídeo divulgado nas redes sociais.

A Anglo American estendeu para 90 dias o prazo para fazer uma vistoria técnica mais aprofundada. Mas, com essa paralisação, a empresa estima deixar de comercializar três milhões de toneladas de minério de ferro. A previsão de produção, para este ano, é de 13 milhões de toneladas, menor do que as 17 milhões de toneladas de 2017. A empresa deve gastar R$ 60 milhões para reparar os danos. Além disso, a Anglo American foi multada em R$ 125 milhões pelo primeiro vazamento pela Secretaria do Meio Ambiente. O Ibama também avalia aplicar cinco multas, que podem chegar a R$ 22 milhões. Com isso, o prejuízo vai ultrapassar os R$ 200 milhões. “Nossa prioridade é minimizar o impacto ambiental”, diz Ivan Simões, diretor de assuntos corporativos da Anglo American. “O prejuízo a gente corre atrás depois.” Mesmo que seja considerada inocente, essa marca vai permanecer colada na empresa.