06/04/2018 - 19:00
A mineradora britânica Anglo American comemorou, em 2014, o término da construção do Sistema Minas-Rio, um mineroduto que liga as unidades de Conceição do Mato Dentro e de Alvorada de Minas ao Porto do Açu, na litoral fluminense. Com 529 quilômetros de extensão e capacidade de escoar 26 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, ele entrou em operação quatro anos depois do previsto. Foram investidos US$ 8,8 bilhões no projeto, mais que o dobro do cálculo inicial. As licenças ambientais provocaram muita dor de cabeça nos executivos. E, em pelo menos duas ocasiões, a empresa teve baixa contábil no balanço que, no total, representaram uma perda de US$ 7,5 bilhões.
Passados quatro anos, o Sistema Minas-Rio não deixou de ser um problema. Nos dias 12 e 29 de março, dois vazamentos provocaram estragos na região da Zona da Mata mineira. No primeiro, 300 toneladas de polpa de minério de ferro foram derramadas no córrego Ribeirão Santo Antônio do Grama, o que suspendeu a operação da companhia por 15 dias. Menos de 48 horas após a retomada da atividade, um novo acidente, com a perda de 647 toneladas de minério de ferro, foi registrado. A empresa de saneamento Copasa suspendeu a captação de água, mas o Ministério Público Estadual ainda não calculou os danos ao meio ambiente. A Anglo American tem 120 dias para apresentar um laudo sobre a poluição e depreciação ambiental. “Os acidentes aumentaram, também, por causa das produções mais complexas dos minérios e de um maior número de rejeitos”, diz Roberto Galery, chefe do departamento de engenharia de minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
As causas ainda estão sendo investigadas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, e pela UFMG. Embora os danos ambientais sejam irreparáveis, a Anglo American pode ser inocente. Uma das hipóteses levantadas pelos investigadores é a de um problema no lote de blocos comprados durante a construção do mineroduto. Essa teoria dos analistas está baseada na coincidência dos dois acidentes: ambos apresentaram o mesmo erro na solda, numa distância de cerca de 200 metros. Se for confirmado pelo laudo, que não tem previsão de conclusão, a empresa que forneceu os tubos será responsabilizada. “Todas as tubulações tinham sido checadas adequadamente”, afirmou Ruben Fernandes, presidente da Anglo American no Brasil, em vídeo divulgado nas redes sociais.
A Anglo American estendeu para 90 dias o prazo para fazer uma vistoria técnica mais aprofundada. Mas, com essa paralisação, a empresa estima deixar de comercializar três milhões de toneladas de minério de ferro. A previsão de produção, para este ano, é de 13 milhões de toneladas, menor do que as 17 milhões de toneladas de 2017. A empresa deve gastar R$ 60 milhões para reparar os danos. Além disso, a Anglo American foi multada em R$ 125 milhões pelo primeiro vazamento pela Secretaria do Meio Ambiente. O Ibama também avalia aplicar cinco multas, que podem chegar a R$ 22 milhões. Com isso, o prejuízo vai ultrapassar os R$ 200 milhões. “Nossa prioridade é minimizar o impacto ambiental”, diz Ivan Simões, diretor de assuntos corporativos da Anglo American. “O prejuízo a gente corre atrás depois.” Mesmo que seja considerada inocente, essa marca vai permanecer colada na empresa.