Na ilha Devon, no norte do Canadá, existe um gigantesco buraco de 20 quilômetros de diâmetro conhecido como cratera Haughton. O lugar é desértico, inóspito e assolado por ventos polares ? bem semelhante ao meio ambiente encontrado em Marte. Foi exatamente este detalhe que levou os cientistas da Agência Espacial Americana (Nasa) e de outros países a montar no local o campo de testes dos equipamentos que serão usados na primeira missão tripulada ao planeta vermelho, em 2015. O custo da aventura está estimado em US$ 20 bilhões, fatura que será dividida entre os Estados Unidos, Rússia, Japão, Canadá e a União Européia. A decisão de unir forças deveu-se à conclusão de que, ao contrário da conquista da Lua, esta tarefa tem um nível de complexidade infinitamente mais elevado: ?A viagem a Marte só será possível com a utilização de todo o potencial tecnológico, científico e econômico da comunidade internacional?, explica Vitali Simionov, diretor do Centro de Investigações Keldish e do Programa Marte XXI, ligados ao governo russo. Os constantes cortes no orçamento fizeram com que a direção da Nasa batesse às portas de empresas privadas em busca de patrocínio. Os equipamentos usados nas pesquisas são fornecidos por 21 companhias que aderiram ao consórcio espacial, entre elas Kodak, Apple e Kawasaki. Não se trata de um ato de generosidade. Os testes garantem uma espécie de ?certificado de qualidade? para os produtos, além de resultar, no futuro, na assinatura de um contrato de milhões de dólares para continuar fornecendo produtos e serviços para as agências espaciais envolvidas na operação.

A jornada rumo a Marte tem tudo para se transformar na
maior odisséia espacial da humanidade. A começar pela distância entre os dois planetas, que oscila de 60 milhões de quilômetros
até 400 milhões de quilômetros, dependendo do grau de alinhamento de suas órbitas. A viagem também é repleta de perigos. Chuvas
de meteoritos, por exemplo, são comuns na região. Para vencer
o percurso em menor tempo, a Nasa ? ancorada nos investimentos de governos e companhias privadas ? está desenvolvendo um combustível revolucionário feito de plasma. Com isso, será
possível abreviar em até um quinto o tempo de viagem, prevista
em até 500 dias.

Tripulação. Enquanto a agência espacial procura encurtar a jornada, os profissionais dos departamentos de pesquisa das empresas privadas correm contra o tempo para apresentar equipamentos que satisfaçam as exigências do consórcio. Algumas máquinas já estão habilitadas para a missão. A Apple, por exemplo, fornece softwares de processamento de imagens digitais. A Kodak cedeu câmeras digitais. A AM General, fabricante dos jipes de guerra Hummer, deu materiais de transporte e a Kawasaki contribuiu com quadriciclos para os testes iniciais na ilha de Devon. Até o uniforme da tripulação foi terceirizado. A Hamilton Sundstrand ? especializada em produtos para o setor aeroespacial ? garantiu os trajes dos cosmonautas. E concorre agora para fornecer o veículo que será usado para percorrer a superfície de Marte.

E é exatamente por conta da distância e dos inúmeros materiais necessários (alimentos, reserva de combustível, suprimentos técnico e científico) que o cientista russo prevê a necessidade de utilizar duas naves. Para Simionov, a equipe ideal para a missão precisa ter as seguintes características: seis cosmonautas de nacionalidades diferentes, com idade entre 45 e 55 anos e dotados de conhecimentos em medicina e engenharia. O time está formado. Só falta decolar.