22/09/2004 - 7:00
Em sua primeira visita ao Brasil, o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, chefe da segunda economia mais poderosa do mundo, com seu PIB de US$ 4 trilhões, cumpriu a tradição e plantou árvores no País. Primeiro, uma muda de pau-brasil, na terça-feira 14. No dia seguinte, Koizumi voltou a pegar na enxada e cultivou sementes de cedro, observado por empresários interessados em investir no Brasil e integrantes da Keidaren Nippon, a Fiesp de lá. Na quarta-feira, o premiê caiu em lágrimas durante cerimônia com imigrantes, em um gesto de emoção raro para um político de sua envergadura. Mas o grande foco da missão Koizumi, a primeira de um chefe de Estado japonês desde 1996, era comercial. Logo ao encontrar o presidente Lula, na quinta-feira 16, após um vôo de São Paulo a Brasília num jato Legacy, da Embraer, Koizumi disse a que veio. ?Não conhecia esse avião?, revelou. ?A Embraer deveria fazer mais propaganda dele no Japão.? Lula gostou e cutucou uma ferida comercial ? a restrição japonesa à importação de mangas brasileiras. Lamentou que os jogadores de futebol no Japão não podem comer da fruta 100% nacional. ?Pois já podem?, respondeu Koizumi. Pelas contas do chanceler Celso Amorim, há espaço para US$ 100 milhões a mais em exportações.
A naturalidade quase apressada com que Lula e Koizumi trataram de questões comerciais tem a ver com o declínio da relação bilateral entre os dois países. No começo do governo FHC, o Japão era o quarto parceiro comercial do Brasil ? no ano passado, porém, caiu para a 14ª posição. A balança é favorável ao Japão, mas o saldo japonês diminuiu para cerca de US$ 210 milhões, o menor valor desde que as negociações tornaram-se deficitárias para o Brasil, em 1997. Além disso, desde a posse do governo Lula, o Itamaraty demonstrou interesse crescente por mercados emergentes, como China, Índia e Rússia. ?Nos anos 90, a relação entre Brasil e Japão ficou estagnada por causa da crise econômica dos dois países?, admitiu Teiji Sakurai, da Câmara de Comércio japonês. Koizumi, porém, acredita que chegou a hora da virada. ?Nossas relações econômicas têm grande possibilidade de crescimento; este é o momento?, afirmou. O caso da manga foi um primeiro passo. As vendas da fruta para o Japão devem começar em outubro, depois de 27 anos de barreiras. ?Essa abertura é emblemática. A medida sinaliza uma nova fase das relações comerciais entre Brasil e Japão?, afirmou Roberto Rodrigues, o ministro da Agricultura. Além disso, antes de se encontrar com Lula, Koizumi passou por São Paulo e semeou novos negócios. Anunciou o interesse em importar álcool combustível e começou a cumprir a determinação, não obrigatória no Japão, de misturar 3% de álcool à gasolina. O Brasil já exporta álcool para bebidas, um negócio que deve render R$ 150 milhões este ano. Se passar a vender o álcool combustível, este bolo ir para R$ 1,8 bilhão por ano. O Banco Japonês de Cooperação Internacional, que já investiu R$ 753 milhões nas obras do rio Tietê, estuda a doação de US$ 600 milhões à produção de álcool e biodiesel.
Koizumi não tratou apenas de negócios. O primeiro-ministro aproveitou para visitar um primo que não via há 12 anos. Kenji Irio recebeu o primo político em um almoço privado, em São Paulo. Falaram de Palmeiras, feijoada e da apressada viagem do premiê. ?Pena que meu primo não poderá conhecer todas as plantações?, disse Iryo. O imigrante Iryo sabia que o primeiro-ministro plantaria mais uma árvore. Desta vez no México, onde assinaria um acordo de livre comércio.