02/05/2016 - 0:00
Um dos chamados mitos e lendas da Amazônia do mercado financeiro reza que, a longo prazo, não há aplicação mais garantida e rentável do que o investimento em ações. Segundo a narrativa, a despeito das volatilidades no curto prazo, os papéis negociados em bolsa ofereceriam remuneração imbatível aos investidores, desde que tivessem paciência e nervos de aço para enfrentar os eventuais solavancos. No entanto, no mundo real, pelo menos no Brasil, não parece ser o que acontece.
É o que mostra o balanço de resultados do fundo de pensão de uma dos maiores grupos editoriais brasileiros, divulgado recentemente a seus associados. Num dos quadros publicados no relatório, o fundo faz uma comparação num período extenso de tempo – de 2000 a 2015 –, em sua maior parte marcado por uma razoável estabilidade da economia do País, com picos de crescimento.
Nesse período, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, bateu em 182,73%., as aplicações em Certificados de Depósito Interbancário (CDI), refletindo as elevadas taxas de juros vigentes no mercado, se valorizaram nada menos de 697,97 %, para alegria dos rentistas.
Na contramão, o Ibovespa, que reflete o comportamento das ações negociadas na bolsa, operou no vermelho na metade dos 16 anos analisados, fechando num crescimento acumulado de apenas 153, 98%, em 2015. Detalhe: o Ibovespa ficou não apenas abaixo da inflação oficial e do CDI, o que até é compreensível numa economia que pratica uma das mais estratosféricas taxas de juros do planeta. Ele está atrás até mesmo da boa e velha caderneta de poupança, comumente considerada como a mais conservadora opção de investimento, que registrou uma valorização de 241, 63% (curiosidade: o melhor desempenho do Ibovespa nesses 16 anos, ocorreu em 2003, no primeiro ano do governo Lula, com crescimento de 97,33%).
Esse comportamento do mercado acionário, seguramente, explica porque a antiga meta da direção da bolsa, de aumentar para cinco milhões o número investidores pessoas físicas, tenha se revelado uma miragem e esteja a léguas de ser alcançada. Hoje, na melhor das hipóteses, o contingente está reduzido a 10% do seu objetivo inicial, que deve ser revisado pelo presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto.
Em tempo: à exceção de 2008, ano de crise mundial da economia, quando registrou um pequena queda de 1,45%, contra 41,22% negativos do Ibovespa, o fundo de pensão do grupo editorial apresentou resultados positivos em todo o período, obtendo uma valorização acumulada de 725, 86%, nesta década e meia.