Designer de moda com pós-graduação em design de estampa, a carioca Hanna Inaiáh tem trajetória profissional inspirada em um passado marcado pelos bordados de suas avós. Hoje, é movida pela principal e mais atual tecnologia: a inteligência artificial (IA) generativa. Como pontos que se cruzam, na intenção de criar o ornamental, Hanna se baseia na técnica artesanal aprendida com suas ancestrais e na essência marcada pelo fascínio pelo universo e o mar profundo para produzir, através da IA, peças, cenários e modelos de forma única, mesclando o real com o surreal.

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Sua primeira coleção, chamada Mergulho Abissal, é uma releitura de elementos marinhos em peças de tricô, rendas e bordados. Em uma das produções, uma criança segura uma bolsa em formato de lagosta e veste um casaco com mangas que remetem à carapaça abdominal do animal. “Eu sempre me interessei pelo diferente. Quando criança, assistia a filmes como A História Sem Fim, Mary Poppins… Era nesse mundo fantástico que eu queria viver”, disse Hanna. “Com a IA, é como se eu conseguisse levar para o visual o que um dia só conseguiu habitar a imaginação.”

Totalmente autodidata, a designer utiliza o serviço Midjourney, que gera imagens a partir de descrições em linguagem natural, chamadas de prompts, similar ao que faz o Dall-E, da OpenAI — a empresa ícone da IA.

De acordo com a designer, sua relação com a inteligência artificial começou durante a pandemia de Covid-19, quando seus seguidores no Instagram, rede social onde já compartilhava suas produções de estamparia, a questionaram sobre a possibilidade de a tecnologia substituir o trabalho realizado pelos profissionais da moda.

Hanna se comprometeu a dar uma resposta. Antes disso, decidiu testar a ferramenta. “No início, foi frustrante”, disse. Segundo ela, as criações eram muito parecidas com as coisas que se vê por aí o tempo todo.

O restante da história, na opinião da designer, é um tanto engraçado e demonstra que sua jornada com a tecnologia precisava acontecer. “Fui fazer uma compra [de serviço de software] e percebi que havia fechado o pacote anual em vez do mensal. Não tive escolha, a não ser me aprofundar.”

(Hanna Inaiáh com o uso de IA)
(Hanna Inaiáh com o uso de IA)
(Hanna Inaiáh com o uso de IA)
(Hanna Inaiáh com o uso de IA)

Decidida explorar o desconhecido, Hanna realizou parcerias, como com a Farm, marca brasileira com presença no exterior. A criação, apesar de não ter sido produzida além das telas, se tratou de um editorial divulgado internacionalmente, em que, através da IA, as cores, a fauna e a flora típicas brasileiras se misturam com o cinza do clima glacial.

Segundo Hanna, a produção, chamada Dreamy Winter Escape, expressa sua nacionalidade, considerada por ela como marca registrada. “Muitas pessoas se surpreendem com o fato de eu ser brasileira. E eu me peguei questionando: ‘Por que esse trabalho não poderia ser de uma brasileira?’ ”, afirmou a designer. “Quero que as pessoas olhem e digam: ‘Isso é tropical, isso é brasilidade, independentemente do universo presente nas imagens’ .”

“Sempre me interessei pelo diferente. Com a IA, é como se levasse para o visual o que um dia só habitou  a imaginação.”
Hanna Inaiáh ,designer de moda

MUNDO REAL

Apesar de muitos questionarem se a tecnologia pode ser prejudicial ao trabalho e tornar as experiências frias, a carioca afirma que nunca viu a tecnologia sob uma óptica negativa. “Minha relação com a arte vem do analógico. Quando migrei para o iPad, também havia pessoas contra. É uma ferramenta como todas as anteriores e que não extinguiram outras formas de criação.”

Além disso, o trabalho está longe de ser simples e rápido. De acordo com ela, está restrito e vinculado à bagagem pessoal e profissional de cada um. “Muitas pessoas falam sobre cópia, mas tudo depende da rede de dados daquele que está dando as coordenadas”, afirmou.

Como exemplo, a designer citou o trabalho que fotógrafos vêm realizando através do uso da IA generativa. “Tem fotógrafos produzindo imagens interessantes com a experiência que eles possuem.”

Hanna afirma que sua maior expectativa é ver suas produções além das telas, algo que ainda não aconteceu. “Algumas produções são tão realistas que as pessoas confundem e acham que as peças estão disponíveis para venda. Ainda não tenho essa condição, mas torço por parcerias nesse sentido.”