21/01/2015 - 16:11
A moda e sua criatividade cosmopolita voltou às passarelas nesta quarta-feira em Paris, onde os estilistas fazem o possível para limitar o dano causado pelo clima de tensão após os atentados.
“Não podemos nos deixar arrastar pelo clima de depressão… Enquanto há vida, há esperança!”, disse em entrevista à AFP o estilista veterano francês Lucien Pellat-Finet, resumindo a vontade do mundo da moda de dar a volta por cima após os atentados que comoveram a França e esvaziaram as lojas em plena temporada de promoções.
Lanvin, Issey Miyake, Paul Smith, Thom Browne, Hermes e Saint Laurent desfilam durante a semana de moda masculina outono-inverno 2015, que termina no próximo domingo. O bastão, então, será passado para a Alta-costura até 29 de janeiro. Nesta quarta-feira desfilam, entre outros, Valentino e o colorido belga de Walter Van Beirendonck.
Paris, onde brilham estilistas japoneses e latino-americanos, com a volta esperada do brasileiro Gustavo Lins à passarela de Alta-costura, se consolidou como o centro fashionista mais cosmopolita em comparação com Nova York, Londres e Milão.
Entre as ausências sentidas nessa temporada estão marcas como Carven, que perdeu seu estilista Guillaume Henry, que trabalha agora para Nina Ricci. Já Versus Versace anunciou que Anthony Vaccarello vai desenhar suas coleções a partir da próxima temporada.
Os desfiles acontecem em alguns dos prédios, palácios e salas mais elegantes de Paris, com medidas de segurança reforçadas após os ataques de jihadistas que mataram 17 pessoas com armas de guerra em plena capital.
Presente nas passarelas de Paris há 20 anos, “o rei da caxemira” Pellat-Finet exporta 80% de suas peças para os Estados Unidos, a Ásia e o resto da Europa e se nega a cruzar os braços e ceder ao clima de morosidade reinante.
“Temos que evitar ter uma atitude negativa frente aos clientes estrangeiros e continuar apostando na ideia de uma moda mais forte. A mensagem trazida pela moda francesa é uma ideia de liberdade”, diz.
Para tranquilizar os convidados, as marcas anunciaram medidas de segurança adicionais e um controle estrito dos 4.000 convidados – clientes, jornalistas e criadores – que deverão apresentar documento de identidade e se submeter à revista de bolsas.
Os organizadores dos desfiles fazem sempre o possível para excluir qualquer fator suscetível de alteração da vitrine perfeita para promoção de seus produtos de luxo.
No ano passado, por exemplo, o grupo Femen invadiu a passarela de Nina Ricci, mas o desfile foi interrompido somente alguns segundos e as militantes feministas foram retiradas pelo serviço de segurança, mudando quase nada.
Mas a atmosfera irreal que rodeia muitas vezes os desfiles não impediu, por exemplo, que após os atentados de Paris, a indústria da moda multiplicasse as manifestações de apoio à revista Charlie Hebdo.
Jean-Paul Gaultier postou uma foto nas redes sociais junto a seus colaboradores com uma placa escrito “Je suis Charlie”, assim como Karl Lagerfeld. Riccardo Tisci, estilista da Givenchy, postou uma frase de Voltaire a favor da tolerância.
A moda masculina, setor em plena expansão, apresenta esta temporada cerca de 50 desfiles em cinco dias.
Segundo Gérald Cohen, autor do livro “La Mode comme observatoire du monde qui change” (A moda como observatório de um mundo em mudança, em tradução livre, ainda sem título em português), o setor segue o rastro do movimento de libertação da mulher.
“Começou como um fenômeno crescente a partir dos anos 60, em um momento em que as mulheres começaram seu movimento libertação. Os homens começaram a reivindicar sua aparência e sensibilidade própria”, afirmou.
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