24/03/2015 - 0:00
O Vem Pra Rua, um dos grupos que convocaram a manifestação contra o governo no dia 15 de março, começa a ganhar espaço como principal articulador dos protestos contra a presidente Dilma Rousseff.
Se o movimento de fato se consolidar como porta-voz das manifestações – o que ainda não aconteceu e nem sabemos se acontecerá, diga-se -, isso marcaria uma mudança fundamental em relação à forma como as grandes manifestações acontecem desde junho de 2013. Para relembrar, foi naquele momento que surgiu no Brasil o fenômeno de grandes protestos sem liderança, pauta definida ou interlocução concreta com o poder público.
Mais: com um discurso moderado, o Vem Pra Rua claramente tenta se diferenciar das outras duas organizações ligadas aos eventos, Brasil Livre e Revoltados Online, cujo discurso radical de direita – minoria nas manifestações – afasta a parcelas significativas da população.
Dessa forma, ele tenta se legitimar como principal porta-voz dos protestos.
Discurso de empresário
Essa demarcação de território ficou muito clara na entrevista concedida pelo líder do Vem Pra Rua, o empresário Rogério Chequer, ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite da segunda-feira (23/3/2015).
Ao falar sobre os outros dois grupos, Chequer foi diplomático, mas realçou a distância: o Vem Pra Rua é contra o impeachment e a ditadura militar.
Outra diferença a ser destacada é que o Vem Pra Rua é representado pela figura de um empresário jovem, articulado, e que enfatiza, além do discurso anticorrupção, uma visão liberal da economia e distante de radicalismos políticos.
Isso cai bem aos ouvidos de um público mais amplo e capaz de formar opinião.
2015 x 2013
O que tudo isso sugere? Que o Vem Pra Rua não quer que se repita Junho de 2013, que arrebatou o Brasil, mas que, por não ter um “rosto” nem uma pauta clara de reinvindicações, esfriou rapidamente.
Em outras palavras, o movimento demonstra a ambição de ser o grande líder dos protestos em 2015.
A internet continua e vai continuar, claro, a exercer papel central como forma de aglutinação. Desta vez, no entanto, seria alimentada por um núcleo organizado e com o objetivo expresso de coordenar o processo. Pelo menos é isso que se pode depreender das declarações de Chequer.
Classe média e periferia
Um exemplo que reforça essa tese é a intenção do Vem Pra Rua de, conforme revelado no Roda Viva, organizar pequenos protestos na periferia de São Paulo.
“A classe média está de braços abertos”, disse Chequer.
Além disso, o movimento quer ser o polo agregador de manifestantes espalhados pelo Brasil. Para isso, está chamando movimentos do País inteiro para articular em conjunto as novas manifestações.
O Vem Pra Rua vai conseguir? Se tiver sucesso nessa empreitada, o que isso vai significar em termos de organização política na era da internet, na qual grupos organizados tradicionais, como os sindicatos, se mostram desgastados?
Vai significar a saída de cena das manifestações espontâneas, difusas e “contra tudo isso que está aí” que marcaram junho de 2013? Ou não?
A conferir.