Ao edificar a sede de seu banco no número 23 de Wall Street, coração financeiro de Nova York, o banqueiro John Pierpont Morgan recusou-se a colocar, nas paredes ou sobre a porta, uma placa com o nome da firma. Ele dizia que seus clientes – as maiores empresas americanas e os homens que as possuíam – não precisavam de publicidade para encontrar o edifício, localizado estrategicamente na esquina da Bolsa e no mesmo quarteirão do prédio do Federal Reserve, o Banco Central americano. Um século depois, o mesmo raciocínio pode ser aplicado à empresa de gestão de recursos M. Safra.

Localizada no décimo andar de um sofisticado edifício na Avenida Faria Lima, em São Paulo, a firma prima pela discrição. Os R$ 3,3 bilhões que administrava no fim de abril, dado mais recente disponível, a colocam em um modesto 55º lugar na lista dos gestores divulgada pela Anbima, associação dos profissionais que cuidam do dinheiro alheio. Mas não adianta procurar o nome M. Safra nessa lista. A gestora fundada em 1998 pelo banqueiro sírio naturalizado brasileiro Moise Yacoub Safra, falecido no sábado 14, está registrada na Anbima com a pouca representativa denominação de Everest.

A discrição ajuda a disfarçar o fato de que Moise criou a M. Safra para administrar sua fortuna, uma das maiores do País, estimada em US$ 2,2 bilhões pela revista Forbes. Segundo filho do banqueiro sírio Jacob Safra, que emigrou para o Brasil nos anos 1950, fugindo da turbulência política e religiosa do Oriente Médio, ele ajudou a construir o banco Safra, ao lado do caçula, Joseph, e do primogênito, Edmond, falecido em 1999. Atualmente na sétima posição do setor, com ativos de R$ 131 bilhões, o banco foi objeto de uma tensa disputa entre os dois irmãos entre 2005 e 2006. Como ocorre em muitas empresas familiares, a inexistência de um acordo de acionistas tornava a sucessão complicada.

Ao final de uma longa negociação, Joseph comprou os 50% que pertenciam a Moise, pois Edmond havia morrido sem deixar herdeiros. Os valores não foram divulgados à época, mas as contas do mercado avaliam que Moise embolsou algo como R$ 5 bilhões. Muito comentada, especialmente pela comunidade israelita, a transação custou a sair. “Os dois irmãos tinham nove filhos e perceberam que dividir o banco por todos eles iria paralisar as decisões”, diz um executivo que conhece os meandros do prédio de granito vermelho localizado na Avenida Paulista.

“Um queria comprar e o outro queria vender, mas, como os dois são duros na hora de fazer negócio, levou tempo até concordarem no preço.” Prevenidos, ambos já haviam buscado alternativas para cuidar do próprio dinheiro. Joseph adquiriu um edifício comercial localizado do outro lado da rua, a poucos metros do banco da família, e montou um banco de investimentos denominado J. Safra, que ficou a cargo de Alberto, seu segundo filho. Já Moise criou uma estrutura independente para gerir recursos, que daria origem à M. Safra. Assinado o acordo em uma reunião que lotou todo um andar do escritório de advocacia paulista Pinheiro Neto, Moise, então com 71 anos, tratou da sucessão.

Colocou no comando o filho mais velho, Ezra Moise, mais conhecido como Azuri, e partiu para administrar seus bilhões. Três anos após sua saída do Safra, a M. Safra passou a administrar também recursos de terceiros. A intenção dos herdeiros é continuar nesse caminho, como manda a tradição familiar. O perfil dos clientes é bastante parecido com o do fundador: investidores endinheirados com pouco apetite por risco e desejo de resultados consistentes, aplicando tanto no Brasil quanto no Exterior. Não se limitando ao mercado financeiro, Moise também investiu no mercado imobiliário.

Em 2012, ele adquiriu por US$ 810 milhões o Plantation Place, um dos principais edifícios corporativos do quarteirão financeiro em Londres, com uma área estimada de 50 mil metros quadrados. No ano seguinte, Moise costuraria sua maior transação. Em sociedade com a bilionária chinesa Zhang Xin, dona da incorporadora Soho China, maior construtora de edifícios empresariais em Pequim, ele compraria 40% de participação no edifício General Motors, em Nova York. Procurados, Joseph Safra e os herdeiros de Moise Safra não concederam entrevista.