22/05/2017 - 19:55
O perito Ricardo Molina, contratado pela defesa do presidente Michel Temer, questionou a atitude da Procuradoria-Geral da República (PGR) e rebateu trechos divulgados pela PGR sobre o diálogo entre Temer e o executivo da JBS Joesley Batista. Molina disse que é preciso responder a razão da PGR ter se apressado na divulgação do áudio, que classificou como “imprestável”. “A pergunta que fica é por que a Procuradoria se apressou a divulgar uma gravação tão nitidamente corrompida?”, indagou o perito.
Em mais um momento de claro embate com a PGR, Molina contestou um dos trechos constatados pela procuradoria. Segundo ele, a que expressão “todo mês” na verdade é “tô no meio”. “E no trecho seguinte não se escuta nada. Não há sequência lógica na conversa”, afirmou Molina, em uma coletiva de imprensa, ao lado do advogado Gustavo Guedes.
Na conversa com Temer, segundo a PGR, o delator diz que tem procurado manter boa relação com o deputado Eduardo Cunha mesmo após sua prisão e que “Temer confirma a necessidade dessa boa relação”. “Tem que manter isso, viu?”, afirma o presidente em áudio gravado por Joesley. “Joesley fala de propina paga todo mês, também ao Eduardo Cunha, acerca da qual há a anuência do presidente”, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao pedir a abertura de inquérito ao STF.
Coletiva
O advogado Gustavo Guedes afirmou que a coletiva com Molina seria apenas técnica e não jurídica. Segundo Guedes, o perito faria uma apresentação para mostrar que há “trechos omissos” no áudio em que o presidente é flagrado com o executivo da JBS, Joesley Batista. Guedes explicou que o laudo foi contratado pelo advogado de Temer, Antonio Mariz, e que a contratação se deveu a informações de que teriam cortes na gravação.
Segundo ele, é preciso esclarecer ao País essa situação “envolvendo a gravação e os trechos omissos”. Guedes disse ainda que Molina falará na coletiva de hoje e que, se for o caso, amanhã ele e Mariz podem falar novamente sobre a estratégia jurídica. “Hoje não é uma coletiva jurídica, amanhã Dr. Mariz virá e podemos falar novamente.”
Molina disse que, se a gravação não tivesse problemas, não estaria sendo discutida. “Os problemas são detectados até pelos leigos”, afirmou. O perito disse ainda que “causa estranheza” a gravação ter sido feita com gravador “tão vagabundo” e que, apesar de não querer entrar em teorias conspiratórias, a gravação está “inteiramente contaminada”. “Em processo normal, essa gravação sequer seria considerada como prova”, disse, ressaltando que o áudio está contaminado “por interrupções e mascarado por ruídos”.
Molina disse ainda que não existe prova mais ou menos boa. “Ela deveria ter sido considerada imprestável desde o primeiro momento”, afirmou. Segundo o perito, não é possível provar nada, porque a “prova é imprestável”.
Molina criticou também o que chamou de “profusão caótica de opiniões”. “Todo mundo virou perito no País”, disse.