Jean-Michel Jalinier, CEO da montadora francesa Renault do Brasil, está em uma posição muito semelhante à de um piloto de rali cujo desafio é conduzir, com eficiência, o veículo por trechos sinuosos e obstáculos que exigem muita perícia do piloto.

 

Levando-se em conta o desempenho da empresa em 2010, pode-se dizer que Jalinier tem se saído bem. Sob seu comando, a Renault atingiu a marca histórica de 160,1 mil veículos comercializados no País. 

 

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Prestígio junto à matriz: Jalinier, presidente da Renault do Brasil, 
colocou a subsidiária na terceira posição do ranking global da corporação

 

Volume que lhe garantiu a quinta posição no ranking brasileiro do setor no ano passado, com uma fatia de 5,83% das vendas de automóveis. O resultado alçou a filial à posição de terceira mais importante do mundo. A lista é puxada pelas subsidiárias da França e da Alemanha. 

 

“Vivemos nosso melhor momento”, diz Jalinier à DINHEIRO. “Temos um bom volume de produção e vendas e estamos operando no azul.”Mas em se tratando de um rali, até mesmo quando se percorre uma longa reta é preciso cautela para desviar dos obstáculos que surgem pelo caminho. 

 

E, no caso da subsidiária da montadora francesa, o maior deles é que seu crescimento está alicerçado no veterano Clio e no Sandero. Em 2010 foram vendidas 99 mil unidades desses dois modelos, ou 61% do total. Trata-se de uma fragilidade, especialmente em um mercado movido a novidades como é o caso do brasileiro.

 

Para suprir essa deficiência, Jalinier desenhou um plano estratégico que prevê o investimento de R$ 1 bilhão até 2013. O montante será aplicado na ampliação do portfólio de carros. Atualmente, a Renault comercializa sete modelos no Brasil, entre os fabricados localmente e na Argentina. 

 

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O objetivo é elevar esse número para dez até o final de 2013. Trata-se de um volume tímido diante de competidores como a General Motors, que conta 20 modelos, e a Fiat, com 15. As apostas de Jalinier para 2011 incluem ainda o sedã médio Fluence e o utilitário esportivos (SUV, da sigla em inglês) Duster. 

 

Com o primeiro, que começou a ser vendido em novembro de 2010, Jalinier pretende recuperar o terreno perdido pelo Mégane, que fechou 2010 na 10ª posição entre os sedãs médios, com apenas 3.056 unidades comercializadas. 

 

Mas é com o Duster, um carro com tração nas quatro rodas, que o executivo francês espera fazer a diferença. O Duster chega para fazer frente ao Ecosport, da Ford, que lidera a categoria SUV. Foi nesse nicho que outra novata, a Hyundai, ganhou terreno no Brasil com o Tucson, o Santa Fé e o ix35. 

 

A questão é se essas manobras do piloto Jalinier serão suficientes para colocar a Renault em um novo patamar no Brasil. “O principal desafio dele será convencer os consumidores de que a Renault sabe fazer carros sofisticados”, diz o analista Fernando Trujillo, da consultoria CSW Worldwide. 

 

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Reforços: o Fluence (acima à esq.), produzido na Argentina, tem a missão de reverter o fracasso do Mégane no segmento de 
sedãs. Já o Duster, que chega às revendas em dezembro, vai colocar a Renault no aquecido segmento de SUVs, dominado pelo Ecosport

 

Para ganhar espaço, Jalinier quer fisgar o consumidor pelo bolso. Dotado de motor 2.0, o Fluence está sendo oferecido por um preço a partir de R$ 60 mil, abaixo dos líderes do segmento, quando comparados com o mesmo motor. 

 

O Corolla, da Toyota, por exemplo, custa R$ 73,8 mil, e o Civic, da Honda, R$ 94,3 mil. Para atrair os compradores, porém, não basta preço competitivo. É preciso também investir em publicidade. Nesse quesito, a Renault não aparece entre os 30 maiores anunciantes do País, segundo o Ibope Monitor. 

 

As quatro maiores montadoras gastam acima de R$ 500 milhões, por ano, em propaganda. Quem lidera é a Hyundai que, apesar de possuir uma fatia de 3,18% do setor automotivo,  gastou R$ 744,5 milhões em anúncios, em 2009.

 

Ao olhar no retrovisor, Jalinier enxerga também outro desafio. É que 2011 deverá marcar o início, para valer, do desembarque das marcas chinesas no Brasil. Uma delas, a JAC Motors, será representada por Sergio Habib, o empresário que trouxe outra francesa, a Citröen, para cá. 

 

Além disso, a Chery anunciou investimento de US$ 400 milhões para erguer uma fábrica em Jacareí (SP) capaz de produzir 50 mil carros, por ano. “A arrancada da Renault pode ter começado tarde demais”, afirma Trujillo, da CSW Worldwide.