Num conjunto de prédios no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, poucos detalhes denunciam o que se esconde naquelas salas. No hall de entrada, as paredes são enfeitadas com personagens de um reino onde quem manda é uma menininha dentuça e brigona. Quando as portas do elevador se abrem, lá está ela: Mônica. A menina hoje é uma mulher de 42 anos que negocia com empresas com a mesma firmeza que sua personagem enfrenta os planos infalíveis dos ?rivais? Cebolinha e Cascão. As portas se abrem de novo e surge Mauricio de Sousa, o criador de mais de 200 personagens que povoam os sonhos de crianças de 40 países.

Na hora de falar sobre os números, o desenhista se impõe sobre o empresário: ?Pega o papel para eu rabiscar o pensamento?. Os planos incluem um longa-metragem de R$ 8 milhões, um pólo de desenhos animados e estúdios em vários países. Vem aí a Disney Tupiniquim. Mauricio construiu um grupo que edita mais de dois milhões de revistas por mês, movimenta por ano R$ 1,3 bilhão com 3,5 mil produtos licenciados, administra dois parques e produz filmes para tevê e cinema.

Crise. O faturamento da Mauricio de Sousa Produções (MSP) ele não revela. Com licenciamentos, arrecada entre 3% e 10%. Isso significa uma receita entre R$ 45 milhões e R$ 150 milhões. O grupo sofreu com a crise financeira. As receitas caíram e o balanço chegou a entrar no vermelho ao longo de 2001. Os motivos foram dois. Primeiro, a desvalorização do real, que pegou a dívida de US$ 10 milhões contraída pela compra do controle do Parque da Mônica de São Paulo. A dívida foi renegociada. O outro foi o contrato com a Rede Globo, no qual Mauricio concede aos Marinhos a exclusividade para produzir e veicular desenhos da Turma da Mônica. O contrato foi assinado há dois anos. Nesse meio tempo, somente desenhos curtos foram ao ar. Os longas-metragens não saíram da prancheta, o que causou prejuízos de R$ 250 mil por mês. Com a volta do Sítio do Pica Pau Amarelo às manhãs da Globo, os filmes da turminha ficaram na geladeira. Diante disso, Mauricio ligou para João Roberto Marinho e pediu para cancelar o contrato. ?Estamos negociando de forma amigável?, diz.

Liberto do compromisso com a Globo, a MSP prepara o longa Mônica e Cebolinha no Mundo de Romeu e Julieta. O filme deve custar R$ 8 milhões e estará nas telas até o fim do ano com distribuição de um grupo internacional. Mauricio está negociando com o BNDES uma linha de financiamento para implantar em São Paulo um pólo de produção de desenhos e uma escola de formação de mão-de-obra. ?Vamos usar o conceito da Coca-Cola. Faremos o xarope aqui e envasaremos nos países?, compara. A MSP negocia implantar estúdios na China, no México, países da América do Sul, Europa e Canadá. Para a China os planos são especiais. Além dos estúdios, estuda-se montar um parque temático no país.

Aos 66 anos, dez filhos e seis netos, Mauricio não é um homem cansado. Mas revela uma frustração: ?Quero voltar a desenhar tiras de jornais?. Ele mora sozinho, mas dedica as manhãs à família. De tarde, chega ao escritório. O empresário consome quase todo o tempo. O telefone não pára. A conversa é interrompida com uma proposta de um novo programa, a TV da Turma da Mônica, que vai ao ar em breve.

Com o propósito de ter mais tempo aos seus projetos particulares, Mauricio vai contratar uma consultoria para promover a profissionalização do grupo. Hoje, alguns filhos e netos trabalham no grupo. O projeto de Mauricio é criar um conselho de administração, para onde irão todos da família Sousa. A diretoria só contará com executivos contratados. Nos planos, um sonho: uma concessão de tevê para os programas da turminha. Mas tudo depende do master plan que vai sair das discussões com os consultores.