19/10/2001 - 8:00
Steve Jobs e Michael Eisner vão brincar de monstro no próximo feriado de Halloween (Dia das Bruxas), nos Estados Unidos. É uma brincadeira milionária que começa nas telas de cinema, desperta a curiosidade de crianças e adultos e provoca arrepios de felicidade no varejo, em fabricantes de brinquedos, roupas, artigos para festas e quinquilharias em geral. No dia 2 de novembro, estréia nos EUA o Monsters Inc, a mais nova produção conjunta da empresa Pixar, de Jobs, e da Walt Disney Co., presidida por Eisner. Nesta bem montada animação gráfica as estrelas são uma criatura verde de um olho só, chamada Mike, e um monstrengo enorme com pelos azuis e chifres, que atende pelo nome de Sulley. A dupla promete superar os ganhos de outros ícones produzidos pela Pixar/Disney, como Toy Story 1 e 2 e Bug?s Life (Vida de Inseto). Somente o Toy Story 1, primeiro grande sucesso da tabelinha Jobs/Eisner, rendeu cerca de US$ 350 milhões nos cinemas e mais US$ 53,8 milhões em licenciamento de produtos. Vida de Inseto não ficou atrás: US$ 250 milhões em bilheteria e US$ 200 milhões na venda de produtos. ?Não há estimativas fechadas sobre o Monsters. Mas pode ter certeza que os números serão tão reluzentes como foram os de Toy Story e Vida de Inseto?, diz César Gabriel, diretor de licenciamento da Disney no Brasil.
Licenciamento. Por aqui, o filme deve estrear em 14 de dezembro, com o nome de Monstros S.A. A expectativa é de que 3 milhões de pessoas corram aos cinemas para ver os monstros de Jobs e Eisner. No varejo, a agitação também é grande: 28 empresas já se apresentaram para produzir bonecos, roupas, pelúcias, mochilas, copos, pratos e o que mais a Disney inventar. Entre as licenciadas estão companhias como Estrela, C&A, Hering e Primícia. O diretor Gabriel estima que cerca de 300 diferentes artigos deverão estar nas vitrines enquanto o filme estiver em cartaz. Geralmente, as produções da Disney ficam em exibição por seis meses. Enquanto Mike e Sulley brilharem nas telas, a fila estará garantida nas lojas.
Mas o que os monstrengos têm de tão especial para arrastar milhões de pessoas aos cinemas e fazer com que Disney e Pixar esfreguem as mãos? O segredo está no curioso enredo montado pela dupla, além, é claro, do impressionante realismo dos movimentos destes bichinhos concebidos no computador. Se você se surpreendeu com as acrobacias de Buzz Light Year (o herói estelar de Toy Story) ou as agruras de Flick (a formiguinha atrapalhada de Bug?s Life) não deve perder Mike e Sulley. A história se baseia numa fábrica de monstros que funciona através da energia dos gritos das crianças. Só há um problema. Como as crianças de hoje não têm mais tanto medo dos monstros, a fábrica está falindo. É, antes de tudo, uma fábula corporativa.
Sem príncipes. A tabelinha entre Steve Jobs e Michael Eisner tende a crescer a cada ano. Para o primeiro, o setor de animações gráficas representa um certo alívio financeiro quando a sua Apple Computer derrapa no mercado. De tempos em tempos, a empresa estoura a banca com suas produções. Mas esta sazonalidade também gera desconfiança. A Pixar ainda não convenceu os analistas de que é uma empresa sólida. Nas últimas três produções, por exemplo, as ações da companhia valorizavam-se consideravelmente às vésperas dos lançamentos e caíam rapidamente após algumas semanas de exibição. São os altos e baixos de uma produtora que só chama a atenção dos investidores uma vez por ano, quando seus bichos e insetos estão na tela. Isto pode ser explicado pelos elevados custos das produções. Além dos equipamentos de última geração e tecnologia de ponta, é necessária a utilização de mão-de-obra qualificadíssima. A entrada de sócios poderia ser uma alternativa de Jobs para captar recursos e aumentar a estrutura da Pixar. Assim, seria possível diminuir o tempo de produção de um filme sem comprometer a qualidade. Com investimentos e o trabalho de distribuição da Disney a Pixar teria tudo para resolver de vez o efeito montanha-russa em suas ações.
Para Eisner, a parceria significa o ressurgimento de sua área de animação. Durante anos, a Disney reinou sozinha nas telas, com histórias de fadas, príncipes, anões e camundongos. Com a entrada de novos concorrentes no cenário como a DreamWorks ? do trio Jeffrey Katzemberg, Steven Spielberg e David Geffen ?, os desenhos deram lugar a sofisticadas obras de animação gráfica. A Disney tomou um susto ao ver o filme Shrek, da DreamWorks, rivalizar com o seu recordista Rei Leão. Outra constatação dos especialistas em obras infantis é que as crianças dos anos 90 não vão mais ao cinema em busca de fábulas de sapatinhos de cristal ou de príncipes apaixonados. Podem até assistir estes clássicos em casa, mas, na telona, querem ver mesmo monstros atrapalhados e insetos desajeitados. A Pixar, neste sentido, cabe como uma luva nas pretensões da Disney.