Há duas horas de São Paulo pela rodovia dos Bandeirantes, na região entre Limeira e Piracicaba, a cidade de Iracemápolis, com seus 21 mil habitantes, se prepara para ser um novo polo tecnológico brasileiro. No segundo semestre de 2024 a fabricante de picapes híbridas chinesa Great Wall Motors (GWM) vai iniciar as operações na fábrica da cidade, que já pertenceu à Mercedez-Benz, deixando tudo pronto para que no primeiro semestre de 2025, inicie a produção de seu primeiro modelo no País, o SUV híbrido Haval H6.

O diretor de relações institucionais, Ricardo Bastos, afirmou à DINHEIRO que a GWM tem uma visão de longo prazo com o Brasil. A escolha da cidade no interior paulista se deu pela estrutura, já preparada, infraestrutura de acesso, com facilidades de fornecimento de mercadorias e autopeças, além das possibilidades de parcerias com outras empresas da região. “Também analisamos questões como regras claras e estabilidade jurídica. Um fator muito importante quando se está chegando a uma região é perceber que as determinações estão expostas” Para ele, apesar de muitos incentivos fiscais em algumas cidades, no fim das contas, o mais importante é trabalhar com previsibilidade.

A escolha para a produção do SUV Haval H6 foi feita no início deste ano, em uma mudança de planos da empresa, que pretendia fabricar uma picape híbrida no País. No entanto, o volume de vendas e a aceitação do SUV, atualmente importado, pesou na hora da decisão da empresa.

Para o futuro, a GWM pretende trazer a produção do Haval H4, que também é um SUV híbrido, mas de menor porte.

Na questão fiscal, a GWM também está de olho no aumento do imposto para importação de carros híbridos e elétricos. “O que nós também estamos aguardando, e que deve sair nos próximos dias, é a sanção da lei do programa Mover”, afirmou.

Segundo o executivo, a duração de incentivo que o programa possui, de cinco anos, acompanha os planos da empresa. “É por isso que o nosso investimento está dentro do Mover. A GWM já pediu habilitação ao programa e será qualificada junto com a publicação da lei. A partir desse momento, a gente pode dar início às operações de instalação. Ou seja, o nosso calendário está ligado ao calendário da política pública do Mover”, afirmou Bastos.

Com 40 anos de história, a GWM é a maior empresa do setor automotivo chinês de capital fechado — além de ser a quarta maior fabricante do mundo de picapes médias, segmento que lidera há 24 anos na China, com mais de 50% de participação de mercado. Recentemente, a montadora lançou no Brasil o híbrido plug-in Haval H6 PHEV 2025, automóvel que ficou disponível nas concessionárias agora em junho, chegando ao mercado por R$ 239 mil.

Acima, as instalações da fábrica do interior de SP abaixo (Crédito:Divulgação )

A aposta da montadora no Brasil é alta. Bastos afirmou que com relação às expectativas, a empresa acredita que o mercado vai continuar crescendo em um ritmo em torno de 50% a 60% a cada ano. “Em 2024, talvez até pelas questões de aumentos tributários e normativas, o crescimento deve ser um pouco maior”, disse.

No entanto, a empresa olha para a estabilidade no longo prazo. O cenário-base trabalhado pela GWM é que em 2030, os veículos eletrificados sejam em torno de 30% da frota nacional, quase um terço de veículos híbridos, híbridos plug-ins e elétricos. “Por isso nossa estratégia no Brasil é focar nos veículos eletrificados”, afirmou.

FUTURO

A companhia tem um caminhão movido a hidrogênio que já está rodando na China, fazendo entregas e circulando entre as fábricas e parques de fornecedores. Segundo o executivo, isso mostra a viabilidade do combustível. “Nós queremos começar os testes com esses veículos aqui no Brasil. Obviamente, a grande questão é onde abastecer o caminhão. Por isso, o nosso cronograma de testes também está atrelado à preparação e finalização dos pontos de abastecimento”, disse.

Bastos afirmou que grandes centros urbanos do Brasil terão pontos de abastecimento de hidrogênio com maior abundância. Segundo ele, o objetivo da GWM é substituir o diesel pelo hidrogênio, mais limpo, com uma pegada de carbono neutro, para alcançar a sustentabilidade no transporte rodoviário. A ideia é começar com testes, mas eles acreditam que, no médio prazo o Brasil pode ter caminhões a hidrogênio produzidos aqui.