O Domaine de La Romanée-Conti, aquele mesmo que tanta celeuma provocou ao ser ingerido por Lula depois do debate com Serra em 2002, é o vinho mais cobiçado do planeta. É descrito por muitos como um veludo ao encontro do cetim. Robert Parker, o nariz mais respeitado do planeta, certa vez o definiu: ?Ele tem aromas celestiais e surreais?. Uma simples garrafa custa, em média, US$ 8,5 mil. Em leilões de exemplares raros, ele pode atingir US$ 50 mil. Mas todas essas sensações gustativas vão por água abaixo se ele não estiver guardado em uma adega. O vinho é como um bebê que precisa evoluir com uma temperatura amena, pouca luminosidade, umidade controlada e permanecer repousado.

?Se estiver bem guardado, o Romanée-Conti dura mais de 100 anos?, diz Luiz Gastão Bolonhez, diretor da importadora de vinhos Expand. Eis a chave para tratar um bom vinho como investimento seguro: preservá-lo. Como pode ser um excelente negócio a longo prazo, DINHEIRO mostra como construir uma adega.

GASTÃO, DA EXPAND:
Adega particular construída
no quarto de serviço
O primeiro passo para entrar no seleto grupo de pessoas que possuem uma cave doméstica é definir a quantidade de garrafas que serão armazenadas. ?O investimento se justifica para quem tem mais de 600 unidades?, diz Marco Antônio Fernandes, diretor da empresa especializada Arts des Caves. A partir daí, o céu é o limite. Os locais escolhidos para a criação do ambiente são geralmente pequenos espaços. ?Construi a minha adega no quarto de serviço?, diz Gastão da Expand. O custo de um espaço para repousar 700 garrafas varia de R$ 18 mil a R$ 28 mil. Mas isso não é nada perto do que será gasto com os vinhos. Especialistas no assunto dizem que o ideal é ter bebidas de várias regiões e rótulos para todas as ocasiões. Ou seja, mesclar vinhos para o dia-a-dia e para momentos especiais. Uma boa seleção com apenas 100 exemplares começa em R$ 12 mil e atinge R$ 100 mil.

O cuidado com a bebida requer, de fato, a mesma atenção de uma mãe com o filho. Cada detalhe pode influenciar na textura, no sabor e no aroma do líquido. Há pessoas, por exemplo, que possuem adega debaixo da escada. Para os enófilos isso pode ser considerado uma heresia, pois a vibração dos passos nos degraus dificulta a evolução da bebida. A umidade é outro fator crucial. Se estiver baixa, a rolha pode ressecar e o vinho entra em contato com o oxigênio. Para não perder qualidade a taxa de umidade ideal é de 65%. A luminosidade e a temperatura são os fatores mais importantes. A luz porque influencia na temperatura do vinho e a temperatura porque pode decretar o fim da bebida. Nenhuma garrafa pode ser servida a mais de 20°C. O calor faz com que a bebida perca a elegância e o frescor. Por outro lado, temperaturas muito baixas escondem as principais características do vinho como o aroma. ?O ideal é manter 16ºC constantes?, diz Otávio Lilla, diretor da importadora Mistral. É a garantia de que eles sobreviverão ao tempo e chegarão à maturidade com tudo em cima.

A febre das “geladegas”
É como o primeiro carro. O começo é com um modelo mais simples para depois pilotar um automóvel potente. Com os vinhos acontece o mesmo.

O modelo popular de uma adega é a chamada cave climatizada ou ?geladega?. São geladeiras adaptadas para que os vinhos repousem e evoluam com extrema eficiência. Com capacidade para até 200 garrafas, a geladeira da Expand (à esq.) custa US$ 3,4 mil e a da Metalfrio (à dir.), que comporta 94 unidades, custa R$ 3,9 mil.
 

Na temperatura certa
? 6° a 8°C – espumantes e vinhos brancos doces.
? 8° a 10°C – brancos suaves e espumantes rosé.
? 10° a 12°C – brancos mais secos e vinhos rosados.
? 12° a 14°C – grandes brancos como os da Borgonha
e tintos ligeiros como o Beaujolais.
? 14° a 16°C – tintos menos encorpados.
? 16° a 18°C – tintos envelhecidos e tintos mais macios
produzidos com Pinot Noir.
? 18°C – grandes tintos e tintos ricos em tanino.
? 16°C – é a média para todos