Apenas umas poucas pessoas que partilham da intimidade do empresário carioca Olavo Monteiro de Carvalho, de 68 anos e comandante do Grupo Monteiro Aranha, uma das empresas mais respeitadas do Rio de Janeiro, conhecem a história de um de seus raríssimos “fracassos empresariais”. 

 

95.jpg

“A construção civil deverá representar 30% de nossos negócios em cinco anos” 

Olavo de Carvalho, sócio da Monteiro Aranha 

Em meados da década de 1960, seu amigo Gianni Agnelli, herdeiro do Grupo Fiat e dono da Juventus, insistiu para que Olavo o auxiliasse na compra do passe do jogador Mané Garrincha. O negócio não vingou. A cena descrita acima mostrou que o principal capital de Monteiro de Carvalho era a agenda de contatos, amealhada nas incursões nos salões da alta roda mundial. 

 

Desde então, Olavo já coordenou centenas de transações para a holding da família, o Grupo Monteiro Aranha. Também ajudou a viabilizar outros tantos envolvendo investidores externos, companhias locais e o poder público.

 

Hoje, a modesta presença do grupo no cenário corporativo não lembra nem de longe a tradição de pioneirismo construída ao longo de nove décadas. Foi o Monteiro Aranha, por exemplo, o responsável pela vinda da Volkswagen ao Brasil. 

 

Para reviver os tempos de glória, o grupo agora aposta em construção civil. Ironicamente, a primeira parceria da Monteiro Aranha Participações Imobiliárias (Mapisa), liderada pelo homem das altas rodas, foi firmada com a Construtora Rossi. Juntos eles estão erguendo um conjunto residencial popular em Cordovil, na zona norte do Rio. 

 

94.jpg

Ícone carioca: lista de obras do Monteiro Aranha inclui a sede da Academia Brasileira de Letras

  

A transação funcionou como um aquecimento para a Mapisa, que se envolveu no projeto a pedido do fundo de private equity Immofin, de origem belga e especializado em baixa renda. O objetivo principal do Monteiro Aranha é participar de empreendimentos com foco no mercado corporativo. Especialmente em sua terra natal. 

 

“A construção civil deverá representar cerca de 30% de nossos negócios em cinco anos”, conta à DINHEIRO Olavo Monteiro de Carvalho, presidente do conselho de administração do Grupo Monteiro Aranha. 

 

O plano de negócios desenhado pela equipe da Mapisa prevê a aposta no segmento imobiliário corporativo do eixo Rio-São Paulo. Para isso, dispõe de R$ 100 milhões em caixa. Trata-se de uma área que segue aquecida, impulsionada pela expansão da atividade econômica e fatores conjunturais como a Copa do Mundo e a Olimpíada de 2016, no Rio, além dos investimentos relacionados à exploração de petróleo na camada do pré-sal. 

92.jpg

 

Cabe, no entanto, uma questão: será que o Monteiro Aranha não está entrando muito tarde nesse setor? Olavo diz que não. “As oportunidades existem especialmente para quem sabe reunir incorporadores, donos de terrenos e o capital necessário para bancar a obra”. E é exatamente nesse ponto que se destaca a principal habilidade do Monteiro Aranha. 

 

Apesar da denominação comercial, a Mapisa não vai assentar um tijolo sequer. “Nosso objetivo é estruturar projetos próprios e de terceiros com grande potencial de lucratividade”, diz Agílio Macedo Filho, presidente do Grupo Monteiro Aranha. 

 

De acordo com o executivo, os contratos em discussão envolvem um Valor Geral de Vendas total de R$ 500 milhões, sem contar a Vila Cordovil, que deve render R$ 80 milhões. Macedo Filho conta que estão definidos quatro empreendimentos, divididos entre o centro do Rio e a capital de São Paulo. Há quem enxergue nessa estratégia excesso de conservadorismo.

 

Mas foi dessa maneira que o clã escapou praticamente ileso aos diversos planos econômicos desde sua fundação, em 1919. Curiosamente, o  grupo iniciou seus negócios construindo edifícios. Um deles é o Petit Trianon, que se tornou a sede da Academia Brasileira de Letras (ABL).  Por ser um grupo de participações, o Monteiro Aranha vive do sucesso de empresas como Klabin Papel e Celulose,  Ultrapar, da área petroquímica, e a Owens Illinois, fabricante de embalagens de vidro.

 

Para entrar na área imobiliária, Olavo mandou seus executivos garimpar o que existia de melhor no setor. Contratou profissionais com passagem por grandes companhias como Multiplan e Odebrecht, e entregou o comando da área ao sobrinho Sergio Francisco Monteiro de Carvalho Guimarães. 

 

93.jpg

 

É ele quem conduz as negociações nesse setor. “Ele tem experiência na estruturação de negócios”, elogia Rafael Cardoso, diretor regional da Construtora Rossi para o Rio e o Espírito Santo. Guimarães acredita que ainda existe muito espaço a ser ocupado. “As taxas de retorno na construção estão atrativas, especialmente no Rio”, avalia o herdeiro da Monteiro Aranha. 

 

E isso pode ser comprovado pelas pesquisas. O metro quadrado para locação de escritórios de alto padrão não para de subir. Cresceu 18,7% nos últimos 12 meses no Rio e avançou 6,5% em igual período em São Paulo, de acordo com a Cushman & Wakefield. Para driblar a falta de terrenos, a Mapisa vai apostar, ainda, na reforma de edifícios. 

 

Especialmente daqueles localizados na área central. Hoje, para conseguir fechar negócios a esses preços é preciso investir pesado. “A qualidade é tão importante quanto a localização. Empresas globais demandam estruturas eficientes, dotadas de facilidades como cabeamento de fibra óptica, por exemplo”, diz Mariana Hanania, gerente de pesquisas de mercado para a América do Sul da Cushman. E é exatamente na continuidade desse cenário positivo que Olavo aposta.