09/05/2023 - 9:43
Todos os dias ao meio-dia, Galyna Peleshko, 71 anos, vai comer no porão de um abrigo em Orikhiv, cidade no sul da Ucrânia a poucos quilômetros do front. Seus habitantes aguardam a contraofensiva de Kiev diante dos contínuos bombardeios russos.
A linha de frente do conflito, o front, fica localizado ao sul de Orikhiv, onde ainda moram cerca de 1.000 habitantes.
Antes da ofensiva russa na Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, aproximadamente 15 mil pessoas moravam nesta cidade situada a 65 quilômetros ao sul de Zaporizhzhia.
Desde então, Orikhiv está sob o fogo da artilharia de Moscou. Nas últimas três semanas, entretanto, foi a aviação russa que foi golpeada.
“Não dormi a noite toda. Quando houve a primeira explosão, pulei no corredor e logo depois houve mais duas explosões”, conta Peleshko enquanto come.
“Agora eles jogam bombas dos aviões. Assim que se ouve o barulho do avião, há uma explosão. Se conseguirmos nos esconder, tudo bem, então estamos vivos, graças a Deus”, acrescenta.
Tudo é organizado no abrigo, localizado no subsolo de uma escola. Para além das refeições, há chuveiro, possibilidade de lavar roupa, recarregar o telefone, acessar a internet ou ver televisão.
Cerca de 80% dos edifícios e casas desta cidade foram destruídos ou danificados, segundo a Câmara Municipal, também atingida pela artilharia.
– “Assustador” –
“É muito triste. Vejo isso todos os dias. Vou trabalhar de manhã e vejo uma casa, volto à tarde depois do trabalho e já não existe mais a casa”, lamenta Svitlana Romashko, 54 anos, voluntária do abrigo.
O bombardeio nesta cidade deixa enormes crateras e transforma tudo em ruínas.
A vice-prefeita Svitlana Mandrytsh informou que, em mais de um ano, 40 moradores foram mortos e mais de 200 ficaram feridos.
“Estamos na linha de frente, aqui não pode haver defesa antiaérea. Vemos e ouvimos, não só os aviões, mas também os helicópteros. É muito assustador”, ela diz.
“Estamos esperando uma contraofensiva (ucraniana) para que não haja mais tantos bombardeios em nossa cidade”.
Orikhiv fica em uma zona estratégica para Kiev, que finaliza os preparativos para uma grande contraofensiva a fim de libertar os territórios ocupados.
Caso as tropas ucranianas avancem em direção a Melitopol – cidade localizada a 80 quilômetros ao sul e ocupada pelos russos após o início da invasão -, poderão cortar o corredor terrestre que permite a ligação de Moscou à Crimeia, península ucraniana anexada em 2014.
– Evacuações –
Moscou, preocupada com a iminente contraofensiva de Kiev, anunciou na sexta-feira (5) a evacuação parcial de 18 áreas controladas por suas forças na região de Zaporizhzhia – incluindo Energodar, sede da maior usina nuclear da Europa.
Apesar das tensões estarem no auge, alguns contatos entre as partes em conflito permitiram a troca de prisioneiros e soldados mortos, geralmente em uma ponte de Kamianske, às margens do rio Dnieper.
Perto de Orikhiv, o assentamento Stepnogirsk também é alvo da artilharia. Seu prefeito, Iryna Kondratyuk, está ansioso pela contraofensiva ucraniana.
“Esperamos que os agressores sejam repelidos pelo menos até a fronteira da Crimeia. E certamente será o caso”, diz ele esperançoso.
Questionado sobre quando vai começar a ofensiva, ele responde: “Em pouco tempo. Pelo menos é o que esperamos”.