27/10/2000 - 8:00
DINHEIRO ? O sr. considera eficiente o novo pacote econômico da Argentina?
GUILLERMO CALVO ? Alguns pontos são interessantes, como a redução de impostos. Mas são medidas menores. O pacote como um todo não é suficiente para mudar a opinião dos investidores em relação à Argentina. O plano não sinaliza com clareza nenhuma mudança substancial no país.
DINHEIRO ? O que deveria ser feito?
CALVO ? A Argentina faz parte do Mercosul. E hoje a instabilidade do câmbio do Brasil é um ameaça. Por isso, a Argentina precisa fazer um acordo macroeconômico com o País. A solução para que a situação melhore na Argentina é uma unidade monetária com o Brasil. Sem isso, vai ser muito difícil. Para piorar, o ministro Machinea (ministro da Economia da Argentina, José Luis Machinea) está muito desgastado politicamente e com os investidores internacionais.
DINHEIRO ? A crise na Argentina vai se aprofundar?
CALVO ? Eu creio que sim. O governo vai continuar com o plano de conversibilidade, mas terá problema para pagar a dívida externa. Pode até recorrer à moratória.
DINHEIRO ? Em que situação isso poderia ocorrer?
CALVO ? Pode ser a qualquer momento. Este ano mesmo. As taxas de juros estão subindo muito. E a moratória só não vai acontecer se o governo trocar o ministro da Economia por alguém mais confiável, o mais rápido possível.
DINHEIRO ? Quem seria indicado para devolver a confiança dos investidores na Argentina?
CALVO ? Lopez Murphi (ministro da Defesa e economista) ou Domingo Cavallo. Eles podem devolver confiança ao mercado.
DINHEIRO ? O que o sr. achou da redução da Tarifa Externa Comum, tão criticada no Brasil?
CALVO ? Essa é uma boa medida para a Argentina, porque o país precisa exportar mais. E para exportar mais é preciso baixar o custo de bens importados. A saída para a Argentina é exportar.
DINHEIRO ? O sr., em 1996, foi assessor do então ministro da Economia, Roque Fernandez. Se o sr. fosse convocado para ajudar a Argentina, aceitaria?
CALVO ? Só se o governo optasse por uma política mais clara. Hoje, esse governo não me agrada porque não sabe para que direção seguir. Mas se houvesse uma definição melhor, eu poderia ajudar sim. Hoje, o governo produz dois discursos. Um é protecionista, com incentivo ao consumo de produtos produzidos pelo país. Recentemente, houve uma regulamentação pela qual as empresas privatizadas são incentivadas a dar preferência aos produtos argentinos. Mas, por outro lado, também há o discurso favorável à globalização e ao livre comércio. Como o investidor não sabe qual é o discurso dominante, ele fica lá fora esperando e não investe. Além disso, os preços das commodities que a Argentina exporta estão subindo mais lentamente do que se esperava. E isso também reduz a entrada de capital e amplia a recessão.
DINHEIRO ? E qual a saída?
CALVO ? O governo precisa uniformizar o discurso e se organizar politicamente. E isso é muito difícil. O presidente De la Rúa está só e a aliança que o sustenta está dividida. Ele terá dificuldades para governar. O que está ocorrendo agora é tudo ao contrário do que deveria acontecer.