15/10/2019 - 12:02
Talvez poucas pessoas saibam quem é Marco Aurélio Raymundo, o médico gaúcho que deixou o Rio Grande do Sul em 1970 para morar na paradisíaca Garopaba (SC). Mas certamente muita gente conhece sua empresa, a Mormaii, marca ligada aos esportes de ação e à cultura do surf, e seu apelido, Morongo. Em 40 anos, ele construiu um grupo respeitado com mais de 40 licenças nos setores de confecção, calçados, equipamentos, acessórios e fitness. Agora, o empresário vai colocar seu estilo de vida numa nova seara: empreendimentos imobiliários.
A Mormaii fechou uma parceria com a construtora Real Urbanismo para licenciar o Île Mormaii – projeto de condomínios residenciais que promete transformar o jeito de viver e morar. O empreendimento vai seguir a filosofia de vida de Morongo, que busca desfrutar da liberdade e da natureza. Com o lema “A vida com jeito de férias”, os condomínios devem ser construídos nos Estados do Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
A oportunidade surgiu há mais ou menos um ano, quando ele foi procurado para fazer a parceria no setor. Apesar de a Mormaii ter alguns imóveis, nunca passou pela cabeça de Morongo entrar nesse segmento. “Mas começamos a avaliar algumas possibilidades que tivessem fundamento para ambas as partes”, diz ele.
A possibilidade de permitir que outras pessoas consigam “virar o jogo”, morando num lugar paradisíaco aguçou o interesse do fundador da Mormaii.
“Nosso objetivo é criar um ambiente de trabalho dentro de casa. Por que ser feliz apenas no fim de semana ou só nas férias?”, filosofa Morongo. Hoje, diz ele, com todas as modernidades e tecnologia, é possível trabalhar de qualquer lugar. “Por que não fazer isso de um lugar fantástico?” Os locais, porém, ainda não foram definidos.
O contrato de licenciamento da Mormaii no residencial será válido por, no mínimo, dez anos, a partir da implementação do projeto. A empresa vai receber royalties de R$ 2 milhões para emprestar a marca ao empreendimento, que terá de seguir técnicas de construção sustentável, mão de obra local e menor gasto energético.
“Investimos nessa parceria para criar empreendimentos residenciais com o conceito de viver com qualidade de vida, característica intangível da Mormaii que também seguimos”, diz Eduardo Gastaldo, diretor da Real Urbanismo.
Licenciamento
No total, a Mormaii tem mais de cinco mil produtos com o nome da marca. Além disso, conta com 20 lojas franqueadas, 13 studios fitness e seis quiosques. Os produtos com a marca são vendidos no mundo todo. “Apesar de nossa cultura de praia, temos licenças no Chile, por exemplo, para confecção de casacos de frio”, diz Morongo – um apelido que o acompanha desde a infância.
Na avaliação do especialista em varejo Jean Paul Rebetez, sócio-diretor da GS&Consult, do Grupo GS&Gouvêa de Souza, a entrada da Mormaii no segmento imobiliário é um exemplo de disrupção e do bom uso da marca. “É tão forte o life style da empresa que o consumidor já imagina como serão os empreendimentos. A identificação com a marca é tão grande que eles conseguem emprestar o nome para qualquer coisa.”
Origem
A história da Mormaii começou com a chegada de Morongo a Garopaba, na década de 70. Recém-formado em medicina, ele desembarcou na vila de pescadores e começou a trabalhar num posto de saúde. Foi entre o trabalho e o surf, que surgiu a Mormaii. Para se proteger das águas geladas do litoral catarinense no inverno, ele decidiu costurar uma roupa de borracha (neopreme) para surfar. Em pouco tempo, o traje virou sucesso entre os surfistas.
Inicialmente, as peças eram confeccionadas na garagem de sua casa. Mas, com o aumento das encomendas, teve de erguer uma fábrica – unidade que no início da década foi doada a um amigo de Morongo. A ideia foi entregar a unidade a alguém que pudesse organizar e dar mais produtividade ao processo. Hoje, apesar de ser sócio em quatro lojas, o empresário fatura com as licenças. “Tudo hoje é licenciamento. Não quero ser dono de nada, só ser parceiro.”
Assim, os produtos com a marca Mormaii são feitos por 46 fabricantes, que pagam em média 6,5% do valor das vendas para Morongo. Os produtos mais lucrativos são chinelos, relógios, óculos, bicicletas e roupas.
Questionado sobre as metas da Mormaii para os próximos anos, ele é categórico: “Estar vivo até amanhã. Muita gente não passa de hoje”. Segundo ele, a Mormaii tem 40 anos de registro, mas 50 anos de história. “Sobreviver num país como o Brasil não é uma tarefa fácil.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.