08/06/2024 - 12:18
Na manhã deste sábado, 8, morreu a economista Maria da Conceição Tavares, aos 94 anos. Considerada uma das principais referências no campo da economia, ela se destacou por suas contribuições ao pensamento desenvolvimentista e em defesa da justiça social, e por seu papel na formação de várias gerações de economistas brasileiros.
“Uma economia que diz que precisa primeiro estabilizar, depois crescer, depois distribuir é uma falácia. E tem sido uma falácia. Nem estabiliza, cresce aos solavancos, e não distribui”, afirmava.
+ Políticos, economistas e amigos lamentam morte de Maria da Conceição Tavares
+ Reveja vídeos de momentos marcantes de Maria da Conceição Tavares
Maria da Conceição Tavares nasceu em Anadia, em Aveiro, em Portugal, mas cresceu em Lisboa. A sua carreira no Brasil foi marcada por importantes passagens pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Grupo Executivo de Indústria Mecânica Pesada (Geimape). Além disso, trabalhou também na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), onde desenvolveu trabalhos influenciados por grandes economistas.
No lançamento do Plano Cruzado, em março de 1986, apareceu chorando na TV, emocionada, ao falar do plano que visava combater a hiperinflação e foi o primeiro de três planos econômicos heterodoxos com esse objetivo.
“Acompanhei o plano todo, até que capotou de maneira estrondosa. Todas as experiências foram muito amargas. Foram feitas mais de cinco tentativas de atacar a hiperinflação. E não deu, só deu mais tarde. Estava comovida. Pela primeira vez se fazia um plano anti-inflacionário que não prejudicava o trabalhador. Isso é comovedor, todos os outros, como este agora também, provocaram recessão, desemprego e queda de salários”, disse em entrevista ao jornal O Globo, em 2015.
Foi deputada federal pelo PT entre 1995 e 1999 e participante ativa do debate público sobre política econômica, sobretudo no período da redemocratização, nos anos 1980.
Entre suas obras mais importantes, destaca-se ‘Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil’, de 1972, que trouxe análises profundas sobre a economia brasileira e suas transformações.
Seu trabalho costuma ser dividido por pesquisadores em três fases. Na primeira, quando estava ligada à Cepal, dedicou-se ao desenvolvimento econômico do que se chamava “periferia” global, sobretudo o caso brasileiro. Em um segundo momento, na Unicamp, analisou criticamente e dialogou com textos de autores como Karl Marx, John Maynard Keynes e Michal Kalecki. Posteriormente, na UFRJ, focou seus estudos em economia política internacional, analisando a organização econômica global dos anos 1980 e a hegemonia americana.
Era uma crítica feroz do liberalismo e neoliberalismo econômico. Em artigo publicado no site da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em 2021, escreveu:
“Com o neoliberalismo não vamos a lugar algum. Sobretudo porque, repito: historicamente o Brasil nunca deu saltos se não com impulsos do próprio Estado”.
Em entrevista ao O Globo, em 2014, ao comentar o baixo crescimento da economia, afirmou:
“A crise (global de 2008) bateu aqui em 2009. Em 2010 o crescimento já tinha retomado, mais instável e mais brando. O crescimento não está essa Brastemp, mas não piorou o emprego, nem a distribuição de renda, o que para mim é o essencial. Ninguém come PIB, come alimentos”.