25/12/2010 - 7:20
O ex-presidente da Venezuela Carlos Andrés Pérez, que morreu neste sábado aos 88 anos, vítima de um ataque cardíaco, marcou a política da Venezuela na segunda metade do século XX com a nacionalização do petróleo em seu primeiro mandato e com crise social conhecida como “Caracazo” no segundo, o que abriu caminho político para o atual presidente Hugo Chávez.
Seu primeiro governo, entre 1974 e 1979, foi caracterizado pela nacionalização do petróleo e pela fundação da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), que permitiu a seu país favorecer-se dos altos preços do bruto e ganhar o apelido de “Venezuela saudita”.
Apoiado pelo boom petroleiro, Pérez tentou virar um líder do terceiro mundo: deu seu apoio ao Movimento Sandinista para derrotar a ditadura de Anastasio Somoza na Nicarágua e pediu para inserir Cuba no sistema interamericano.
Ao concluir este período, foi nomeado vice-presidente da Internacional Socialista (IS), dedicando-se com afinco ao trabalho político fora da Venezuela.
Sua imagem foi ofuscada em 1979, a poucos meses de terminar seu primeiro mandato, quando explodiu um escândalo sobre a compra com ágio do frigorífico Sierra Nevada e o Congresso tentou, sem sucesso, condená-lo administrativamente.
No entanto, sua liderança carismática se renovou e, em 1988, ganhou novamente as eleições por seu Partido Ação Democrática, cuja direção já se encontrava muito dividida.
Ele tomou posse pela segunda vez em 2 de fevereiro de 1989, em uma elegante cerimônia na qual estavam presentes 24 presidentes ibero-americanos, além do vice-presidente americano Dan Quayle. Mas, antes que terminasse esse mês, ele teve de enfrentar o “Caracazo”, a maior revolta popular que esse país viveu na era moderna democrática.
Os protestos, motivados por um pacote econômico para enfrentar a enorme divida externa do país, deixou oficialmente 276 mortos e 150 milhões de dólares em perdas, e marcou o início do fim de seu governo.
Em muitas oportunidades, o presidente Chávez disse que este protesto e as fortes desigualdades sociais foram o germe do que hoje ele chama “revolução bolivariana”.
Três anos depois do “Caracazo”, em 1992 Pérez derrotou duas tentativas de golpe, uma encabeçada pelo então desconhecido tenente-coronel Hugo Chávez, que, apesar de pegar mais de dois anos de prisão pela rebelião militar, projetou-se como líder sobre as cinzas dos partidos tradicionais.
O segundo golpe, de 27 de novembro de 1992, foi encabeçado por generais e almirantes, e também derrotados pelas tropas leais a Pérez.
Em março de 1993, o então Procurador Geral Ramón Escovar Salom solicitou à Suprema Corte de Justiça um “antejulgamento de méritos”, primeiro passo para julgar Pérez por malversação e peculado envolvendo 17,2 milhões de dólares ao cambio da época.
O tribunal deliberou a favor do antejulgamento em 20 de maio de 1993, Pérez se afastou do poder e o congresso oficializou seu impeachment.
O ex-presidente foi processado e condenado, em 30 de maio de 1996, a dois anos e quatro meses de prisão por malversação agravada de fundos secretos, usados em parte para financiar, em 1990, o envio de uma missão policial à presidente Violeta Chamorro.
Saiu em liberdade em 18 de setembro de 1996, mas não interrompeu sua atividade política, sendo eleito em novembro de 1998 senador por seu estado natal de Táchira, apesar de estar em prisão domiciliar por um novo caso de corrupção que envolvia sua esposa Cecilia Matos.
Pérez recobrou sua liberdade para exercer como senador, mas em 1999 o congresso foi substituído pela Assembleia Constituinte, e o ex-governante se lançou como constituinte, mas não foi eleito, e pouco depois abandonou o país para evitar um novo julgamento.
Foi morar nos Estados Unidos, de onde periodicamente publicava notas com suas críticas quanto aos rumos do governo de Chávez e também manifestou seu desejo de voltar à Venezuela para passar seus últimos dias, depois de ter a saúde debilitada por dois acidentes cardiovasculares em 2003 e 2004.
Desde 2005, pesava sobre ele uma ordem judicial de prisão por “homicídio intencional qualificado”, vinculado às mortes do “Caracazo”, com uma pena de prisão entre 15 a 20 anos.
Em março deste ano, o Supremo Tribunal de Justiça aprovou um pedido de extradição contra ele, o que Pérez classificou como uma manobra de Hugo Chávez.
“Até o último momento esteve preocupado com seu país, a situação e o rumo que a Venezuela está tomando”, comentou María Francia, ao informar sobre a morte do pai, acrescentando que os detalhes do enterro serão divulgados no domingo.
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