O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, atrás da China e da Índia. Na última safra, foram colhidas mais de 40 milhões de toneladas, volume que gerou uma receita bruta próxima a R$20 bilhões aos fruticultores brasileiros. Apenas 3% da produção foi exportada em 2015, um percentual baixo, mas sufuciente para colocar o Brasil em uma posição de destaque no mercado global de frutas. O País detém 8,5% do mercado mundial de melões. Também produz mais de 7% das goiabas e mangas consumidas em todo o mundo. O faturamento com as vendas externas chegou a US$ 675 milhões no ano passado, com a expectativa de atingir US$ 1 bilhão até 2018. Um mercado próspero e rentável, mas que está em perigo. 

A principal ameaça à fruticultura nacional responde pelo nome de Bactrocera carambolae, também conhecida como mosca-da-carambola, uma praga de origem asiática que assombra os produtores de frutas em todo o mundo. Na América do Sul, a mosca já está amplamente disseminada no Suriname e na Guiana Francesa. No Brasil, foi identificada pela primeira vez em 1996, na cidade de Oiapoque, no extremo norte do País. Anos depois, a praga chegou a ser encontrada também no Pará e em Roraima, mas hoje está restrita ao estado do Amapá. O temor, agora, é que a mosca-da-carambola avance para as regiões produtoras de frutas no Brasil, especialmente no Nordeste, o que poderia gerar enormes prejuízos econômicos e sociais ao País.

Apesar do nome, a mosca-da-carambola não ataca apenas a carambola. Só no Brasil, já foram identificadas pelo menos 14 espécies hospedeiras para a praga, entre elas algumas culturas importantes, como a manga e o melão. O problema surge quando as moscas depositam seus ovos nos frutos em desenvolvimento. As larvas rompem as cascas das frutas e se alimentam da polpa, inviabilizando a sua comercialização. Não existe risco à saúde humana, mas sim ameaças fitossanitárias para os países importadores, na maioria dos casos livres da praga. A disseminação da mosca-da-carambola no País certamente levaria ao fechamento dos principais mercados compradores de frutas do Brasil.

“É um risco real”, afirma Luiz Barcelos, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). “A mosca-da-carambrola é atualmente a principal ameaça à fruticultura brasileira. A introdução dessa praga nas áreas de produção comercial traria um prejuízo gigantesco aos produtores”, diz o executivo.  Atualmente, 80% das exportações brasileiras têm como destino a União Europeia, um mercado altamente exigente em termos fitossanitários. Segundo Barcelos, as vendas de frutas brasileiras para a Europa poderiam cair a zero em caso de identificação da mosca no Ceará ou no Rio Grande do Norte, por exemplo. Outros países importadores poderiam seguir o mesmo caminho, agravando ainda mais a situação.

Mais cruel que a queda nas exportações, porém, seria o impacto social provocado pela introdução da mosca-da-carambola no Nordeste. A fruticultura é um dos segmentos do agronegócio que mais demandam mão de obra. Mesmo ocupando uma área relativamente pequena, aproximadamente 2,8 milhões de hectares (a soja ocupa quase 33 milhões de hectares), a atividade emprega 27% da mão de obra agrícola do País, algo em torno de cinco milhões de pessoas. A queda na produção fatalmente reduziria o número de postos de trabalho região. Um corte de 20% no pessoal, portanto, significaria um milhão de empregos a menos em algumas das regiões mais carentes do Brasil.

As autoridades conhecem o problema e vêm trabalhando no combate à praga há pelo menos 20 anos. Em 1996, o Ministério da Agricultura criou o Programa Nacional de Erradicação da Mosca-da-Carambola e desde então diversas ações vêm sendo realizadas no estado do Amapá, como o monitoramento permanente das áreas de risco, o combate aos focos da praga com a utilização de iscas de captura, coleta de frutos do solo, além de ações de educação e conscientização da população sobre os riscos associados à mosca. A falta de continuidade do projeto e os parcos recursos financeiros disponíveis, porém, têm complicado a vida dos fiscais agropecuários que atuam na fronteira.

“As principais dificuldades são decorrentes das condições naturais e geográficas da região, a proximidade de áreas onde a praga está amplamente disseminada e da limitação de infraestrutura de muitos órgãos estaduais de sanidade vegetal”, afirma Maria Julia Signoretti Godoy, coordenadora do Programa Nacional de Erradicação da Mosca-da-Carambola. “A meta perseguida pelo Ministério da Agricultura é a erradicação desse organismo até o ano de 2019. No entanto, existem critérios internacionais de reconhecimento de erradicação que precisam ser considerados, como a ausência de registro de insetos numa área por 378 dias, o que torna o seu alcance um grande desafio.”

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