06/04/2018 - 6:38
Moscou negou, nesta sexta-feira (6), as afirmações do jornal britânico “The Times”, segundo as quais a substância usada para envenenar o ex-espião russo Serguei Skripal foi criada em uma cidade na região do rio Volga.
Da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) em Haia à ONU em Nova York, esta semana registrou-se um diálogo de surdos entre Rússia e Reino Unido, que conta com o apoio incondicional dos países ocidentais, sobre este caso que provocou uma onda histórica de expulsões de diplomatas.
Já os russos se mantêm categóricos em sua posição de rejeitar as acusações.
Ontem, citando fontes dos serviços de Segurança britânicos, o jornal “The Times” afirmou que o agente neurotóxico usado para envenenar o ex-espião foi concebido em Shijany, uma cidade à qual é permitido acesso apenas com autorização oficial, na região de Saratov, perto do rio Volga, no sudoeste do país.
O “Times” comparou Shijany a um “Porton Down russo”, em alusão ao laboratório militar britânico especializado em investigações químicas e biológicas.
“Este laboratório nunca fez parte do nosso campo de trabalho”, declarou à agência de notícias russa Interfax Mikhail Babich, o representante do Kremlin no distrito federal do Volga.
“Se conhecem todas as bases, onde se armazenaram armas químicas. Shijany não é uma delas”, acrescentou Babich, ex-presidente da Comissão de Estado russa para o desarmamento químico.
Shijany é uma cidade fechada, onde está instalada um braço do Instituto de Pesquisa de Estado para a Química e as Tecnologias Orgânicas (GNIIOKhT).
– Armas químicas –
Vários cientistas russos – entre eles, Vil Mirzayanov, o químico que revelou nos anos 1990 a existência do programa Novichok, aquele apontado por Londres como responsável pelo envenenamento de Serguei Skripal – afirmam que a substância foi elaborada nos anos 1980 em Shijany.
Outro cientista russo, Leonid Rink, disse, em março, à agência de notícias Ria Novosti que um “grande grupo de especialistas estava desenvolvendo o Novichok em Moscou e em Shijany”. Ainda segundo ele, no período soviético, o sistema foi chamado de “Novichok-5”.
“O Novichok não é uma substância. É todo um sistema de armas químicas”, explicou ele à Ria Novosti.
“Aparentemente, (Yulia, filha de Serguei Skripal) recebeu uma dose muito pequena”, declarou Mirzayanov ao jornal russo “Novaya Gazeta”. Já em relação ao ex-espião considerou improvável que se cure tão rapidamente.
É difícil estabelecer onde foi produzido o agente neurotóxico que envenenou os Skripal, completou Mirzayanov, ao mesmo tempo em que disse entender as acusações do governo britânico.
“Nenhum país tem tanta experiência em produzir o Novichok quanto a União Soviética e, agora, a Rússia”, apontou.
Segundo a página on-line do Instituto GNIIOKhT, seu braço de Shijany está envolvido agora em um trabalho relativo a “garantir a segurança” do país e destruir armas químicas.
Em setembro de 2017, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que Moscou havia destruído suas últimas reservas de armas químicas herdadas da época da Guerra Fria, conforme os termos da Convenção de 1997 sobre a Proibição de Armas Químicas.