25/09/2025 - 9:54
A Motiva, ex-CCR, anunciou na noite de quarta-feira (24) que obteve da Artesp, agência reguladora paulista, a renovação antecipada do contrato da ViaQuatro, sua controlada responsável por administrar a linha 4 Amarela do metrô de São Paulo. A medida é resultado do reequilíbrio do contrato de concessão, que agora inclui investimentos para a ampliação da linha.
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Com a renovação da concessão, a ViaQuatro vai estender a linha 4 do metrô de São Paulo até a cidade vizinha de Taboão da Serra, segundo comunicado da companhia. Segundo a Motiva, essa mudança gerou um desequilíbrio contratual de R$ 136,765 milhões, valor que a Artesp reconheceu em favor da ViaQuatro como forma de compensação.
Segundo analistas do Citi, o prolongamento da linha “não é uma completa surpresa, mas as condições finais parecem marginalmente positivas, pois parecem adicionar valor ao portfólio da Motiva”. “Por outro lado, não é grande o bastante para ser uma mudança de cenário, especialmente considerando o ‘valuation’ mais comprimido da ação”, acrescentaram.
Foco nos centros urbanos e maior seletividade nos ativos
Presidente-executivo da Motiva, Miguel Setas disse em entrevista que a empresa vai reafirmar na reunião com os investidores que quer se concentrar paulatinamente em transporte de passageiros por rodovias e trilhos nos principais centros urbanos do Brasil até 2035 e que também está de olho nesses tipos de ativos que estejam nas principais áreas do agronegócio nacional.
“Grandes metrópoles, grandes eixos logísticos e o mercado agro. A história mostra que nestas três dimensões você tem crescimento muito, muito construtivo no Brasil”, disse Setas. “Nós estamos nessas regiões (notadamente Sudeste, Sul e Centro-Oeste) e sabemos que são regiões que são muito, muito favoráveis do ponto de vista do crescimento”, acrescentou o executivo.
Setas lembrou os alvos mais recentes da Motiva no ciclo brasileiro de leilões de infraestrutura — Rota Sorocabana, em São Paulo; lote 3 das rodovias do Paraná; e a BR-163, no Mato Grosso do Sul e que já era operada pela empresa — como referência do foco no que considera ativos “premium” para próximos leilões.
A companhia vai participar de leilões que atualmente representam um conjunto de R$100 bilhões de investimentos nos próximos anos e não mais os R$120 bilhões estimados anteriormente. “É uma lógica muito de escolher ativos muito bons”, disse o executivo.
“Projetos que possam ter sinergias com o que temos, mais do que prestar novas atenções em novas geografias para evitarmos distrações”, comentou, como o leilão previsto para este ano do Trem Intercidades Sorocaba, em São Paulo, que deve ser integrado à linha 8 já operada pela Motiva na região metropolitana. Outro projeto que ilustra a estratégia renovada da empresa foi a extensão da linha 4 do metrô de São Paulo, que foi aprovada via antecipação da renovação da concessão nesta semana.
Segundo Setas, a companhia também mantém o objetivo de entregar um crescimento composto anual de um dígito alto — algo entre 8% e 9% — no resultado operacional medido pelo Ebitda ajustado até 2035. Além disso, a política de pagamento de dividendos equivalentes a 50% do lucro líquido ajustado também será mantida nos próximos anos.
“É uma política clara e previsível…Olhando para frente, se a empresa for bem e conseguir fazer crescer os seus resultados, naturalmente o dividendo também será proporcional a isso.”
E os aeroportos?
A Motiva, que em anúncios publicitários ainda diz ser uma operadora de aeroportos, segue negociando a venda dos ativos nesta área, de olho em simplificar seu portfólio, disse Setas. Mas uma venda, que vem sendo aguardada há meses pelo mercado e considerada por bancos como um dos maiores negócios do setor no mundo, ainda não ocorreu.
A expectativa da empresa em julho era de que um negócio poderia ocorrer entre o final deste ano e início de 2026. Setas disse na entrevista que a “expectativa é a mesma, talvez até melhor do que aquilo que havia há um tempo atrás”, e reafirmou, sem dar detalhes, que há múltiplos interessados no portfólio de 20 aeroportos espalhados por Brasil e América Latina.
O plano de negócios da Motiva
A maior empresa de concessões de infraestrutura de transporte da América Latina tem um plano: ampliar investimento em tecnologia, focar em projetos de maior rentabilidade e manter o retorno de 50% do lucro aos acionistas, uma estratégia que deve ser delineada por executivos da Motiva nesta quinta-feira em reunião com analistas e investidores.
Mantendo o mantra do “back to basics”, Miguel Setas, disse em entrevista à Reuters que a empresa vai antecipar do final de 2026 para este ano a meta de eficiência do grupo que tem pelos próximos anos obrigações de investimentos de R$55 bilhões em suas concessões.
“Vamos ser mais ambiciosos”, disse o executivo, explicando que, além de antecipar para este ano a meta de alcançar um índice de eficiência de 38%, a companhia vai buscar uma melhoria do indicador para abaixo de 28% em 2035 ante objetivo anterior de 35%.
A Motiva também definiu meta de eficiência de abaixo de 30% para 2030. O indicador usado para esses objetivos é medido na forma de custos operacionais (Opex, na sigla em inglês) sobre receita líquida e quanto menor o número mais eficiente é uma companhia na geração de caixa.
Avanços tecnológicos serão necessários
Para alcançar eficiência prometida para 2035, a Motiva deverá investir mais de R$1 bilhão em tecnologia até lá, disse o presidente da companhia, citando que empresa mapeou 30 projetos nessa área que virou uma vice-presidência no grupo. Tais projetos serão responsáveis por “dois a três pontos percentuais” do ganho de eficiência prometido, disse Setas.
Além de inteligência artificial e análise de dados, a empresa vai investir os recursos em tecnologias como robôs para limpeza de estações de metrô e corte de mato em rodovias, e instalações de sensores em estradas e linhas férreas.
No início deste mês, um trem da controlada ViaQuatro descarrilou no metrô de São Paulo em um incidente que paralisou parcialmente a linha 4 da cidade, causando transtornos a milhares de passageiros.
“É um belo exemplo para mostrar como a sensorização, no caso dos trilhos, pode ser muito importante não só para a gestão operacional, mas até para a própria qualidade da operação”, disse o executivo. “A peça que rompeu na linha 4, se tivesse uma sensorização de uma forma precisa, nós teríamos um sinal antecipado para podermos atuar de uma forma preventiva.”