11/06/2018 - 20:38
Motoristas e cobradores de ônibus do Rio em greve desde a madrugada desta segunda-feira, 11, decidiram em assembleia que terminou há pouco suspender por 24 horas a paralisação. Eles voltarão ao trabalho nesta terça-feira, 12. A categoria aceitou a proposta de recomposição salarial de 7% (eles estavam pedindo originalmente 10%) oferecida pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), e o aumento do valor das cestas básicas de R$ 200 para R$300 pelas empresas. No entanto, volta a se reunir para definir os rumos do movimento no que diz respeito ao fim do acúmulo de função de motorista e cobrador.
“Continuamos em estado de greve até que o prefeito decida acabar com a dupla função”, afirmou o presidente do Sintraturb, Sebastião José. “Disso, a categoria não abre mão.” O reajuste de 7% será feito em duas vezes: 3,5% em junho e o restante em novembro.
Sem aumento há dois anos, os rodoviários pediam reajuste salarial de 10% e da cesta básica, plano de saúde, aumento do vale-alimentação para R$ 490,50 e do vale-refeição para R$ 480 e o fim de dupla função de motorista e cobrador.
O empresariado havia acenado na semana passada com apenas 4% de reajuste, sendo 2% este mês e mais 2% em novembro, o que fora considerado “ridículo” pelo Sindicato dos Motoristas e Cobradores de ônibus do Rio (Sintraturb Rio). Nesta segunda, a proposta subiu, mas ainda assim não foi acatada pela categoria.
Antes da assembleia, Sebastião José se reuniu com Crivella. Após a reunião, o prefeito, em entrevista, chegou a fazer um apelo pela retomada das atividades. “Faço um apelo a todos esses sacrificados motoristas e funcionários que sabem da crise terrível que o Rio passa por conta de desmandos administrativos e políticos”, disse.
“Nenhum Estado tem a tragédia de ver um governador condenado a 127 anos de cadeia, vários líderes políticos presos, empresários, funcionários públicos presos. Precisamos arrecadar, trabalhar dobrado”, continuou o prefeito, referindo-se ao ex-governador Sergio Cabral (MDB).
Durante o dia, cerca de 30% da frota de 7.200 ônibus circulou, o que atrapalhou milhares de pessoas que seguiam para o trabalho. A espera por ônibus superou duas horas no terminal da Central do Brasil. Ônibus comuns e BRTs foram depredados e tiveram pneus esvaziados para que não seguissem viagem. Os bairros mais afetados foram os das zonas oeste e norte, mais adensadas.
“Primeiro foi a greve dos caminhoneiros e a falta de combustível, agora a dos rodoviários e falta ônibus. Acho as reclamações justas, mas deixar o trabalhador a pé não é justo. Já avisei ao patrão mas não sei se ele vai entender”, disse a doméstica Jaqueline Soares, de 45 anos, que foi de Piabetá, na Baixada fluminense, ao terminal da Central do Brasil sem problemas (a greve foi apenas na capital), e passou 2h15 no terminal para seguir para a Barra da Tijuca, na zona oeste. Ela esperava a linha 309, da Viação Real, que teve apenas 10% de sua frota rodando de manhã.
Segundo o sindicato, as jornadas de trabalho chegam, em alguns casos, a 16 horas por dia. Rodoviários entrevistados pelo Estado em garagens relataram outros abusos. “Na carteira são sete horas. Fazemos doze e não recebemos a hora extra. Somos escravos do século 21”, lamentou um motorista. “Meu salário foi parcelado em 23 vezes; minhas contas, não”, disse outro, mostrando o contracheque. Outra reclamação é a ausência de banheiros nos terminais e de ar condicionado nos ônibus, o que os penaliza no verão carioca (mais da metade da frota não é climatizada).
Eles afirmaram que por vezes deixam de transportar passageiros com direito à gratuidade na passagem, como estudantes e idosos, para que cheguem ao total de pagantes exigido pelos empresários. “Quem não bate a meta de 300 passageiros leva ‘gancho’ (suspensão) da empresa, tem o dia descontado e o vale-refeição também. Agora a prefeitura acertou o aumento das passagens (de R$ 3,60 para R$ 3,95), mas quem se dá bem é o dono da empresa, enquanto o funcionário e o passageiro sofrem”, desabafou outro.