Mais de 360 embarcações aguardam há dias a liberação do estratégico Canal de Suez, com suas respectivas mercadorias a bordo, de chá a móveis, passando por 130 mil ovelhas ou petróleo iraniano para a Síria.

No site de acompanhamento de trafégo marítimo MarineTraffic, centenas de pontos coloridos representam os navios que se amontoavam neste domingo em frente ao porto mediterrâneo de Said, nos lagos ao longo do canal e no Golfo de Suez, que o liga ao Mar Vermelho.

O “Ever Given”, um navio com 20.000 contêineres e 220.000 toneladas, bloqueia desde terça-feira o canal, pelo qual transita cerca de 10% do comércio marítimo. A situação do navio, explorado pelo transportadora taiwanesa Evergreen, gera importantes atrasos nas entregas de mercadorias.

O valor total dos bens afetados pelo bloqueio do canal oscila entre 3 bilhões de dólares, segundo Jonathan Owens, especialista da Universidade de Salford, e 9,6 bilhões de dólares, segundo a revista britânica especializada no setor “Lloyd’s List”.

– Petróleo –

Apenas 1,74 milhão de barris percorrem diariamente essa rota, já que 80% do pouco petróleo do Golfo destinado à Europa passam pelo óleoduto Sumed, que atravessa o Egito, segundo Paola Rodríguez-Masiu, da Rystad Energy. O MarineTraffic aponta que uma centena de navios com petróleo ou derivados se encontravam neste domingo nas zonas de de espera do canal.

Diante do bloqueio, os preços do ‘ouro negro’ aumentaram no fim de semana, enquanto se espera que a subida seja limitada. Segundo especialistas, as reservas são suficientes e existem outras fontes de abastecimento.

Para a Síria, devastada pela guerra e sujeita a sanções internacionais, o bloqueio atrasou uma carga de produtos petroleiros procedentes do Irã, seu aliado, também sancionado. Damasco, que já enfrenta uma escassez, anunciou ontem novos racionamentos.

– Gado –

A incerteza sobre quando o navio voltará a flutuar levanta a questão do abastecimento das tripulações e do gado. Onze navios originários da Romênia e que transportam 130.000 ovelhas foram afetados. “A situação é crítica e pode se transformar em uma tragédia marítima sem precedentes envolvendo animais vivos”, alertou a organização Animals International.

O Egito enviou forragem e três equipes de veterinários para examinar os animais. A Jordânia informou que aguarda ovelhas e bezerros, entre outras mercadorias bloqueadas.

– Mercadoria –

A gigante sueca do setor de móveis Ikea disse ter cerca de 110 contêineres no “Ever Given” e em outros navios bloqueados. É “uma pressão adicional que se soma à situação já difícil e volátil para as cadeias de abastecimento criada pela pandemia”, disse um porta-voz à AFP.

O comerciante de chá holandês Van Rees Group lamentou o bloqueio de 80 contêineres em 15 navios. A empresa prevê um “caos com consequências importantes, já que o fornecimento está paralisado”.

– Fila crescente de espera –

Vários gigantes do transporte marítimo, como o dinamarquês Maersk e o francês CMA CGM, desviaram alguns de seus navios pelo Cabo da Boa Esperança, em uma jornada de 9.000 quilômetros ao redor do continente africano, que representa sete dias adicionais.

Em 2020, uma média de 51,5 navios passaram pelo Canal de Suez diariamente. Segundo o Maersk, seriam necessários “de três a seis dias” para que todos os navios bloqueados neste sábado cruzassem o canal.

Até o fim deste domingo, 32 navios do líder mundial em transporte marítimo e de seus sócios serão afetados, 15 passarão por outra rota, e o número poderá aumentar se o Ever Given demorar a desbloquear o canal, assinalou o Maersk. De acordo com a Lloyd’s List, 90% da carga não está segurada em caso de atraso.

burs-mdz/gk/elm/tjc/es/gf/lb