15/02/2006 - 8:00
Mozart está em todas. Dá o tom no toque polifônico de celulares, no sobe e desce dos elevadores e ainda antecipa as consultas
médicas nas salas de espera. Virou chocolate, licor e biscoito. Aparece em capas de cadernos, bolas de golfe e ? quem diria ? em CDs. No Google, seu nome resultava, na semana
passada, em 34 milhões de entradas. Os
bombons com a efígie do gênio já foram parar em 1,5 bilhões de bocas. Há também um sutiã que, aberto, faz executar a Serenata número 13 em sol maior, a onipresente Eine kleine Nachtmusik. São tempos de Mozartmania, e não é de música que se trata. Aos 250 anos do nascimento de Wolfgang Amadeus, celebrados em janeiro, a marca vale US$ 8 bilhões, segundo estimativas do governo austríaco. Para mantê-la, é preciso pôr as mãos no bolso. Apenas na recuperação do centro histórico de Salzburgo, cidade natal do compositor, foram gastos US$ 84 milhões. ?Mozart é um dos rótulos mais conhecidos do planeta?, diz Arthur Oberascher, do ministério de turismo da Áustria. ?Não é surpreendente que surjam tantos produtos relacionados a ele?.
Fotos: Brainpix
Licenciamento: Para os especialistas, é uma
das marcas mais fortes
do mundo
Em apenas 35 anos de vida (1756 ? 1791), ele compôs mais de 600 peças ? quantidade suficiente para preencher 200 CDs. A cada ano ela produzia mais obras que os Beatles em toda a sua história. Foram 41 sinfonias, 27 concertos para piano, 26 composições para quartetos de cordas, 21 óperas, 17 sonatas e 15 missas. Toda essa massa artística vive seu apogeu no Festival de Salzburgo que, em 2006, acontecerá de 21 de julho a 31 de agosto. Esse arsenal de sustenidos e bemóis, é natural, tem força para transformá-lo no grande nome da música em todos os tempos, à frente de Beethoven. A má notícia, nem tão má quando transformada em cifras, é que Mozart hoje tem pouco a ver com orquestras, cordas e sopro. Banalizado, virou pop.
Está mais para estudo de marketing que conservatório musical. Embora os fenômenos de mercado de massa sejam muito recentes, não é descabido compará-lo a uma estrela de rock, espécie de Bono barroco, que em vez de iPods vende doces. ?Se vivesse hoje, certamente Mozart apareceria em programas de televisão, teria fotos publicadas em revistas de celebridades e não hesitaria em comparecer a eventos públicos?, diz Dik Hewig, presidente da Sociedade Alemã Mozart. É uma postura mostrada, de alguma forma, no filme Amadeus, de 1984, o precursor da onda. De lá para cá, ele só cresceu ? nas gôndolas, é verdade, e não nas bocas de cena. Está mais fácil experimentar um novo chocolate Mozart – alemão, austríaco ou suíço – que escutar uma nova gravação de qualidade.
AS CIFRAS DE WOLFGANG AMADEUS
US$ 8 bilhões é o valor da marca Mozart no mundo, o que inclui as gravações e a quinquilharia com a grife do compositor
US$ 83 milhões foi o custo da renovação do centro de Salzburg para a celebração dos 250 anos do gênio
US$ 35 milhões foram gastos na construção de um novo centro para a realização do festival de música clássica
US$ 1,1 mil é o preço de um LP com a gravação das Bodas de Fígaro, com a Filarmônica de Viena, regida por Erich Kleiber