21/01/2018 - 10:42
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) instaurou inquérito civil para apurar se o ex-secretário do Meio Ambiente do Estado, Ricardo Salles, cometeu improbidade administrativa ambiental ao determinar a retirada do busto do guerrilheiro e ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, que estava instalado no Parque Estadual do Rio Turvo, em Cajati, no Vale do Ribeira. O pedestal em que estava a estatueta foi demolido por ordem de Salles em agosto do ano passado. O ex-secretário informou que já prestou as informações ao MP e espera o arquivamento do inquérito.
Um dos fundadores do Movimento Endireita Brasil, Ricardo Salles visitou o parque no dia 8 daquele mês, quando ainda exercia o cargo de secretário de Estado. Ao se deparar com o busto, ele teria considerado “inadmissível” erguer com dinheiro público monumento a “um guerrilheiro, desertor e responsável pela morte de inúmeras pessoas” na unidade de conservação estadual, como publicou o Estado à época.
Lamarca liderou a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização de luta armada que enfrentou a ditadura militar, instalada no país entre 1964 e 1985. Considerado desertor, acusado de assaltos a bancos e de comandar o sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, no Rio de Janeiro, em 1970, em troca da libertação de 70 presos políticos, ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Militar e caçado pelo regime. Entre 1969 e 1970, Lamarca e outros 16 integrantes da VPR fizeram treinamento de guerrilha em grutas, em meio à Mata Atlântica, no Sítio Capelinha, onde hoje fica o parque. Ele foi morto numa operação militar no interior da Bahia, em 17 de setembro de 1971.
Em seu site, a Secretaria do Meio Ambiente considera a passagem do guerrilheiro pelo local “um grande atrativo histórico” e de apelo turístico, o que teria motivado a confecção do busto. O parque abriga ainda a Cachoeira do Lamarca, batizada por antigos moradores da região. Salles mandou retirar também um painel com informações sobre a passagem do guerrilheiro pela região. O busto e o painel foram entregues à Polícia Ambiental de Registro e encaminhados à sede da Fundação Florestal, gestora do parque.
O Ministério Público determinou também à Polícia Civil de Cajati a abertura de inquérito policial contra Salles por crime contra o patrimônio cultural. O delegado Tedi Wilson de Andrade mandou expedir carta precatória à Polícia Civil de São Paulo para que o ex-secretário seja ouvido na cidade onde reside. Andrade informou ter pedido à Justiça mais prazo para a conclusão do inquérito.
Advogado, Salles foi secretário particular do governador Geraldo Alckmin (PSDB) entre 2013 e 2014. Em 2016, foi nomeado pelo governador para a pasta do Meio Ambiente, mas deixou o cargo dias depois da visita a Cajati.
O ex-secretário disse ao Estado que já respondeu ao MP justificando sua decisão. “Recurso de compensação ambiental não foi feito para colocar busto em parque, como fizeram lá. Ainda mais de uma pessoa que era um criminoso, independentemente do lado ideológico. Seria o mesmo que uma comunidade como a da Rocinha, no Rio, usar dinheiro público para fazer uma estátua do Fernandinho Beira-Mar. Seria usar o dinheiro público de forma inadequada. Mesmo não sendo mais o secretário, continuo achando que não é a melhor coisa ter um busto de Lamarca num parque público.”