O ex-procurador Marcelo Miller, que integrava o grupo de trabalho da Lava Jato entre 2014 e 2016, é alvo de um procedimento preparatório (PP) na Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF). O PP, que é a etapa anterior à instauração formação de inquérito ou arquivamento do caso, foi aberto após uma representação feita na procuradoria.

Miller foi citado pelo presidente Michel Temer em pronunciamento nessa terça-feira, 27. Temer disse que “um assessor muito próximo ao procurador-geral da República (Rodrigo Janot), senhor Marcelo Miller, homem de sua mais estrita confiança” abandonou o MPF para “trabalhar em empresa que faz delação premiada com o procurador-geral”. O presidente disse ainda que Miller “ganhou milhões em poucos meses”, garantindo “ao seu novo patrão um acordo benevolente, uma delação que o tira das garras de Justiça, que gera uma impunidade nunca antes vista”.

A delação citada por Temer é a dos executivos do Grupo J&F. Miller, após deixar o MPF, foi contratado pelo escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que representou a J&F durante parte das negociações do acordo com o MPF. Procurado, Miller não comentou o procedimento preparatório.

“No âmbito do PP, já foram solicitadas informações acerca do ingresso de Marcelo Miller no escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que representou a holding J&F durante parte das negociações que levaram ao fechamento de acordo de leniência entre o grupo econômico e o MPF. Também foram pedidos esclarecimentos à seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro, onde um procedimento interno apura o caso”, afirma em nota o MPF sobre o PP instaurado em 26 de maio.

A nota foi divulgada após o ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal (STF) afirmar em entrevista ao SBT que o MPF deveria apurar a participação do ex-procurador como advogado do Grupo J&F.

Procuradoria

Em resposta aos comentários do presidente, o procurador-geral Rodrigo Janot já havia divulgado uma nota sobre seu ex-assessor.

A nota diz que Miller não participou das negociações do acordo de delação premiada dos executivos do Grupo J&F.

“Ele integrou a Assessoria Criminal do procurador-geral da República de setembro de 2013 a maio de 2015. De maio de 2015 a julho de 2016, foi designado para integrar o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR, em Brasília. A partir de 4 de julho de 2016, ele voltou a ser lotado na PR/RJ, com processos distribuídos ao seu ofício, atuando junto ao grupo de trabalho somente como membro colaborador. Ele solicitou exoneração do cargo de procurador em 23 de fevereiro de 2017, a qual foi efetivada em 5 de abril de 2017”, diz o texto da procuradoria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.