Maior empresa de cruzeiros marítimos operando no país, a MSC anunciou, hoje (23), o cancelamento das viagens programadas para o período entre 16 de janeiro e 31 de março de 2021. Em nota, a companhia atribuiu sua decisão à demora do grupo interministerial em aprovar as operações para o restante da temporada brasileira, que se encerrará em abril.

O grupo executivo responsável por avaliar os protocolos de segurança e saúde e autorizar a volta dos cruzeiros no país é formado por representantes dos ministérios do Turismo, da Saúde, da Justiça e Segurança Pública, do Desenvolvimento Regional e da Infraestrutura, além de técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

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“Considerando esta postergação e o tempo mínimo necessário para a companhia preparar toda a sua operação – como logística, mobilização, testes e embarque da tripulação, abastecimento de provisões e a implementação de seu protocolo de saúde e segurança líder do setor -, a empresa não conseguiria iniciar as operações até meados de fevereiro, no mínimo”, informou a MSC.

Devido à pandemia do novo coronavírus, a companhia cancelou as viagens marítimas agendadas para ocorrer entre 15 de novembro de 2020 e 15 de janeiro de 2021. Sua concorrente, a Costa Cruzeiros, também cancelou, em setembro, todos os cruzeiros programados para ocorrer entre novembro de 2020 e abril de 2021.

Em nota, a MSC afirma que, desde julho, vem “trabalhando em estreita colaboração com as autoridades brasileiras”, buscando demonstrar a segurança do protocolo de saúde já testado na Europa, onde as viagens foram retomadas em agosto deste ano. A empresa afirma que, desde então, na Europa, mais de 30 mil clientes já embarcaram em seus transatlânticos, além dos tripulantes.

A empresa se comprometeu a conceder uma carta de crédito para reembolsar as pessoas que têm reservas para embarcar em um cruzeiro a partir do Brasil. O crédito será do mesmo valor pago pelo cliente e poderá ser usado até 31 de dezembro de 2021, para a aquisição de um novo pacote de viagem a ser realizada até 30 de abril de 2022 em qualquer cruzeiro da MSC.

Além de ressarcir o valor pago pelos clientes, a MSC concederá um crédito de 100 dólares ou euros (conforme a região de destino do cruzeiro), por cabine, para viagens de até seis noites, ou de 200 dólares ou euros, por cabine, para cruzeiros de 7 ou mais noites. No caso de cabines single, o passageiro receberá metade destes valores, que deverão ser gastos a bordo dos navios da MSC, em um próximo cruzeiro. Caso opte por não viajar, o cliente terá que negociar com a companhia o reembolso de parte do valor pago, conforme previsto na Lei 14.046, de 2020.

Consultado sobre o impacto da decisão da MSC, o Ministério do Turismo assinalou que os cruzeiros são parte importante do setor turístico, mas que o retorno das viagens marítimas só deve ser aprovado mediante a garantia de que todos os cuidados para preservar a saúde de turistas, tripulantes e das populações das cidades visitadas estão sendo adotados. A pasta também informou que desenvolveu protocolos para 15 atividades turísticas e que aguarda a aprovação das diretrizes específicas para o setor de cruzeiros.

Desapontamento

Mesmo diante das incertezas decorrentes da pandemia, a MSC Cruzeiros está vendendo pacotes para a temporada 2021/2022. Na nota que a empresa divulgou hoje, o diretor-geral da MSC no Brasil, Adrian Ursilli, disse ter ficado desapontado com a necessidade de suspender a próxima temporada e que a empresa seguirá operando no país tão logo seja possível retomar a normalidade.

“Esta foi uma decisão difícil de tomar, mas nosso compromisso com o país não mudará. Estaremos no Brasil mais fortes do que nunca na temporada 2021/2022”, disse.

A indústria de cruzeiros é uma das mais afetadas pelos reflexos da covid-19 em todo o mundo. Em outubro de 2019, pouco antes do início da temporada 2019/2020, a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Brasil) previa que este tipo de viagens atrairia cerca de 500 mil pessoas, uma demanda 6,5% superior à registrada durante a temporada 2018/2019, quando o setor movimentou algo em torno de R$ 2,083 bilhões – valor que engloba tanto os gastos diretos, indiretos e induzidos das companhias marítimas, quanto os gastos de passageiros e tripulantes.

Perdas

A partir de um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Clia Brasil calcula que o cancelamento dos cruzeiros da MSC e da Costa deixará de gerar 39,5 mil empregos, fazendo com que o Brasil perca cerca de R$ 2,62 bilhões. Juntas, as duas companhias começaram a temporada 2019/2020 planejando operar com nove navios, ofertando cerca de 620 mil leitos, o que representaria um aumento de 17% em relação à temporada 2018/2019.

De acordo com a Clia Brasil, as expectativas do setor “viraram de cabeça para baixo” em março deste ano, quando viagens de cruzeiros foram sendo canceladas a medida em que os portos iam se fechando. Globalmente, a paralisação das atividades acarretaram um prejuízo de US$ 77 bilhões de dólares e a perda de 518 mil empregos.

“Para o Brasil, as perdas são muito relevantes. O país perde mais de R$ 2,62 bilhões e 39,5 mil empregos deixam de ser gerados. Um enorme prejuízo para o país, para as cidades nas quais fazemos as paradas, para a nossa comunidade e para as empresas”, aponta a Clia Brasil, acrescentando que cada pessoa que viaja em cruzeiros gasta, em média, R$ 557 ao fazer escala em alguma cidade que integre seu roteiro.

“Nossos navios fazem escalas em mais de 20 cidades brasileiras que, infelizmente, não terão nenhuma parada nesta temporada de verão – não só de nenhum dos nove navios dedicados ao Brasil, mas também dos outros 33 que fazem a volta ao mundo e deixarão de nos visitar”, acrescenta a Clia Brasil, apontando que, em várias países, as viagens vêm sendo retomadas, com o aval de autoridades locais. “Essa retomada, que já teve mais de 200 saídas em todo o mundo desde julho, se deve aos protocolos avançados adotados pela Clia e seus associados.”