03/12/2003 - 8:00
O portal de conteúdo e serviços da Microsoft, MSN, faz nesta semana um movimento arriscado. Do alto da sua audiência de 10 milhões de usuários, o MSN lançará a versão paga do Hotmail, o serviço de e-mail gratuito com 130 milhões de assinantes no mundo sendo 5 milhões no País. Será a primeira vez que uma grande empresa de internet brasileira que não oferece acesso à rede tenta comercializar tal produto. A operação gratuita continuará existindo em paralelo. ?Não é o fim do almoço grátis, mas
sem dúvida procuramos por um novo tipo de usuário de internet?, afirma Osvaldo Barbosa, diretor do MSN Brasil.
As mudanças no Hotmail são parte da estratégia de negócios que o MSN adotará daqui em diante em todo o mundo. Outros dois serviços pagos serão lançados no segundo trimestre de 2004 e incluem proteção on-line contra vírus, invasões de hackers, spam e até uma tecnologia de compressão para o envio mais rápido de imagens. O portal da Microsoft também buscará oportunidades de publicidade on-line em torno do comunicador instantâneo, o Messenger, utilizado por 2,3 milhões de pessoas no País. ?É uma aposta alta que dando certo significará um novo paradigma no mercado?, diz Roberto Simões, presidente do provedor gratuito iG.
No modelo gratuito tudo continua como antes. O espaço para mensagens permanece em 2 megabytes (o equivalente a 133 mensagens de texto sem fotos) e o acesso ao Messenger sem restrições. No serviço pago do MSN, batizado de Hotmail Extra, a menor mensalidade será de R$ 45 anuais. Em troca o cliente terá direito a um espaço de 10 megabytes (666 mensagens) para guardar arquivos de correio eletrônico, agenda on-line e outros recursos menores. Na versão mais robusta, a assinatura custará R$ 90 por
ano para utilizar um espaço de 25 megabytes (1.666 mensagens).
Nos dois casos, o Hotmail terá como concorrentes os provedores gratuitos e portais como o Yahoo!, que oferecem tais serviços
com a mesma qualidade. Quem entende desse mercado sabe que
não será uma operação fácil para o MSN. O pioneiro da internet brasileira, Aleksandar Mandic, lançou há poucos meses um serviço pago de e-mail. Até agora, ele não encontrou um modelo de
receita sustentável para o negócio.
Osvaldo Barbosa reconhece as dificuldades do mercado, mas amparado em estudos internos da Microsoft arrisca que o projeto terá êxito. Ele revela que 30% dos clientes brasileiros têm o Hotmail como sua conta principal. Para esse universo estimado em 1,5 milhão serão ofertados os produtos pagos que também incluem o MSN Premium e o Plus. No primeiro, o cliente poderá dispensar a compra de softwares de antivírus e de segurança. De maneira on-line, o MSN se encarregará de proteger o PC contra invasões ou pragas digitais.
Para o Messenger, que assumiu a liderança no País entre os programas de comunicação instantânea, os planos são mais ambiciosos e nessa área o MSN está em franca vantagem. Não há concorrentes locais capazes de fazer frente ao poder do comunicador. A idéia é transformar o programa em instrumento de marketing dirigido. No lançamento do serviço de banda larga Speedy, a operadora Telefônica fez uso da tecnologia. A agência DM9DDB, encarregada da campanha, criou o anúncio visto durante 24 horas de um único dia todas as vezes que um usuário abria o seu Messenger. ?Tivemos 100 mil visitas ao site originadas no Messenger?, afirma Fernanda Romano, diretora de internet da DM9. ?Em média, a publicidade tradicional garante algo em torno de 5 mil visitas?, afirma a publicitária. O MSN não revela quanto custa essa publicidade, mas a iniciativa pode variar entre R$ 10 mil e R$ 20 mil por dia.
Por trás das mudanças do Hotmail, os novos serviços pagos e a estratégia particular do Messenger há o desejo do MSN de buscar o equilíbrio das suas contas. Desde 1999, a Microsoft investe no portal, mas nos últimos tempos se chegou ao consenso que há condições de ampliar as receitas mesmo mantendo serviços gratuitos. A busca é por um usuário de internet mais qualificado e capaz de pagar por vários produtos. Nesse caso, o MSN tem alguma vantagem de transformar o bandejão em um restaurante francês.