29/07/2025 - 11:05
Seca, combinada com a captação excessiva de água subterrânea e chuvas torrenciais, aceleram o aparecimento das chamadas voçorocas, enormes buracos que aparecem de repente. O que é possível fazer para minimizar riscos?Buriticupu é um município maranhense a 400 quilômetros da capital São Luís, casas balançam à beira de enormes abismos que se abriram repentinamente no solo. As crateras colocam mais de mil pessoas em risco de perder suas casas, levando a prefeitura a decretar estado de calamidade pública no início deste ano.
Esses buracos surgiram em cidades do mundo todo, incluindo nos EUA, Turquia e Irã. Eles podem aparecer de um dia para o outro, ameaçando a vidas e propriedades.
Chamados de voçorocas, esses buracos são depressões formadas quando a água erode o solo. Isso pode ocorrer naturalmente por causa da chuva, que dissolve o substrato rochoso subjacente. Mas também pode ser resultado de vazamentos em tubulações subterrâneas de água, fraturamento hidráulico (fracking) para extrair combustíveis fósseis e mineração.
As voçorocas são mais propensas a surgir em regiões com “terreno cárstico” – áreas compostas por substrato rochoso solúvel, como calcário, camadas de sal ou gesso – que pode ser dissolvido pelas águas subterrâneas, de acordo com Hong Yang, professor de ciências ambientais da Universidade de Reading, no Reino Unido. Yang publicou recentemente uma pesquisa sobre a mitigação dos riscos dessas crateras, que foram intensificados pelas mudanças climáticas.
“Nos Estados Unidos, cerca de 20% das terras são suscetíveis, com Flórida, Texas, Alabama, Missouri, Kentucky, Tennessee e Pensilvânia sofrendo os danos mais significativos”, disse ele. Outros pontos críticos incluem o Reino Unido, especificamente áreas como Ripon e Yorkshire Dales, no norte da Inglaterra, a região do Lácio, na Itália, a Península de Yucatán, no México, partes da China, Irã e Turquia.
Qual o papel das mudanças climáticas?
As mudanças climáticas estão aumentando a frequência dessas crateras, com a intensificação de eventos climáticos extremos, de acordo com pesquisas.
“As secas rebaixam o lençol freático, removendo o suporte subterrâneo para a terra acima. Quando seguidas por tempestades intensas ou chuvas fortes – que também estão se tornando mais comuns com as mudanças climáticas – o peso repentino e a saturação da água podem causar o colapso do solo enfraquecido”, disse Yang.
Ele aponta para a Planície de Konya, na Anatólia central, conhecida como o “celeiro” da Turquia. É um terreno cárstico onde a seca crescente leva as crateras a se abrirem em regiões povoadas.
Antes da década de 2000, pesquisadores da região costumavam registrar o surgimento de um buraco no terreno a cada poucos anos, de acordo com Fetullah Arik, professor da Universidade Técnica de Konya e chefe do centro de pesquisa desses fenômenos da universidade. Só em 2024, eles documentaram 42.
Os níveis de água subterrânea em toda a Bacia de Konya caíram pelo menos 60 metros em comparação com 1970. “Em algumas áreas próximas às bordas da bacia, não é possível encontrar água subterrânea, embora poços com profundidade superior a 300 metros sejam perfurados”, acrescentou o especialista.
A seca associada às mudanças climáticas está reduzindo os níveis de água subterrânea, porque as chuvas não estão reabastecendo as fontes de água. Mas, como as pessoas ainda precisam de acesso à água, elas estão bombeando grandes quantidades, o que, por sua vez, agrava o risco de surgirem novas crateras. Em áreas povoadas, isso faz com que os edifícios se tornem mais vulneráveis a desabamentos.
“Se você retirar água de uma caixa de suco muito rápido, as laterais cedem”, comparou Antonios E. Marsellos, professor de geologia, meio ambiente e sustentabilidade da Universidade Hofstra, no estado de Nova York, EUA. “Isso é como bombear muita água subterrânea, então o suporte do subsolo enfraquece e pode ruir, assim como a caixa de suco que se deformou.”
Marsellos, coautor de uma pesquisa sobre os efeitos das mudanças climáticas na formação dessas megacrateras, disse que a situação se agrava nas grandes cidades devido à poluição do ar, onde a água se torna mais ácida e decompõe as rochas mais rapidamente.
Marsellos e sua equipe analisaram os ciclos de congelamento e degelo em Long Island, Nova York, durante um período de quase 80 anos e descobriram que o aumento da temperatura devido às mudanças climáticas enfraqueceu a estabilidade do solo e tem um impacto direto na formação desses buracos.
Fenômeno pode ser prevenido?
Especialistas contam com tecnologias como sensoriamento remoto por satélite e radar de penetração no solo para detectar afundamentos sutis do terreno e vazios subterrâneos, a fim de localizar sumidouros antes que eles desabem, disse Yang. Outros métodos de detecção incluem o monitoramento dos níveis de água subterrânea e a realização de levantamentos geotécnicos antes de realizar alguma construção na área.
Se um vazio for encontrado no subsolo, os especialistas agem como dentistas, segundo Marsellos. “É exatamente a mesma coisa que fazemos – verificamos se há alguma cavidade, basicamente qualquer espaço vazio sob o solo que eventualmente não será capaz de conter esse espaço vazio.”
“Dependendo das condições locais, como a composição da rocha e a atividade tectônica, a cavidade pode ser preenchida, com cimento, por exemplo”, explicou.
Na região da Bacia de Konya, na Turquia, onde mais de 80% da água consumida é usada pela agricultura, Akir disse que o fator mais importante é regular o uso excessivo de água subterrânea para que o solo tenha esse estabilizador natural por baixo. Os agricultores agora adotaram técnicas de irrigação mais eficientes.
A região também experimentou diversos projetos de transferência de água, como o projeto Túnel Azul, que capta água do Rio Goksu para ajudar a preencher a Planície de Konya.
Outras estratégias de prevenção incluem o controle da drenagem, o reparo de vazamentos e a aplicação de códigos de construção rigorosos, disse Yang. “Soluções de engenharia podem estabilizar o solo injetando argamassa para preencher vazios, compactando solo solto ou usando tecnologia de geogrelha para reforçar o terreno.”