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Já há algum tempo, o uso sustentável da água deixou de ser apenas tópico de discurso ambiental. Fechar bem as torneiras, não exagerar no banho e varrer a calçada em vez de lavá-la parecem não ter sido suficientes para livrar o mundo do fantasma da escassez hídrica. A ONU, em uma declaração quase apocalíptica, afirmou que em 20 anos faltará água para 60% da população mundial. Diante desse cenário em que o precioso líquido da vida poderá se tornar artigo de luxo, existem algumas saídas para salvar o seu bolso da seca e ainda preservar o meio ambiente. Trata-se dos sistemas residenciais de saneamento e captação de água da chuva, que podem diminuir em até 40% os gastos com água e esgoto.

Especialmente em condomínios, a conta de água é motivo de discórdia. Representa de 10% a 15% do total de gastos de um prédio, segundo levantamento da Lello Condomínios. É o maior gasto individual depois da folha de pagamento dos funcionários. Como a água é rateada por igual entre todos os apartamentos, muitos acabam pagando mais do que realmente utilizam. Nesses casos, sistemas de saneamento próprio podem ser a solução. A Biosistemas, empresa de tratamento de esgotos e efluentes, desenvolve projetos capazes de tratar 100% do esgoto de uma residência, prédio, condomínio ou empresa, e transformá-lo em água potável. Com até 97% de pureza, essa água pode ser reutilizada para diversos fins, como irrigação de jardins, descargas e sistemas antiincêndios. ?A água reutilizada só não pode ser usada para beber e para o banho?, explica Livio Salles, diretor executivo da empresa. O mesmo pode ser feito com a água da chuva, que é armazenada por um sistema de captação e tratada para a posterior reutilização.

Devido à sua complexidade, esse tipo de tecnologia acaba saindo caro para ser implantado em apenas uma residência. No entanto, é extremamente viável em condomínios, sejam eles de prédios ou casas. O principal fator que influi no preço é a pureza da água. ?Quanto mais pura a água, mais tecnologia se usa para tratar e maior é a demanda de equipamento, o que acaba onerando o custo final do sistema?, afirma Salles. Se para uma residência o valor de um sistema individual de tratamento pode ser de R$ 70 mil, para condomínios o preço acaba sendo diluído entre o número de moradores. A Biosistemas estima em R$ 250 mil a R$ 300 mil um projeto para um condomínio de dois mil habitantes. Na ponta do lápis, um investimento de pouco mais de R$ 100 reais por habitante que gerará uma economia de água por tempo indeterminado.

O Bradesco percebeu o potencial desse mercado e irá oferecer linha de crédito específica para esse tipo de sistema. Por meio de leasing, os produtos para tratamento de água da Biosistemas poderão ser adquiridos e pagos em até 60 meses, sendo que a primeira parcela poderá ser paga até cinco meses após a assinatura do contrato. ?Nesse caso, não haverá limite de valor para leasing?, explica Josué Augusto Pancini, diretor departamental do Bradesco.

Para estimular empresas e condomínios a investirem em sustentabilidade, os juros praticados serão menores: 1,3% ao mês contra os 2,7% cobrados em leasing de outros produtos.

O ABN Amro Real, que já possui linha de crédito específica para produtos socioambientais, também firmou parceria com a empresa. Segundo a superintendente de produtos socioambientais do ABN, Linda Murasawa, diminuir o impacto ambiental deve ser uma preocupação primordial. ?Não adianta nada construir um condomínio bonito se o esgoto que ele produz polui o ambiente e os lençóis freáticos?, argumenta. Tanto no Bradesco quanto no ABN, é possível também conseguir crédito para outros produtos que visam à utilização sustentável dos recursos naturais, como aquecedores solares e kitgás para automóveis.

Exemplo de condomínio sustentável, o luxuoso Terravista, em Trancoso (BA), trata 100% de seu esgoto e reutiliza toda a água dentro do próprio condomínio. Lá, cada residência possui uma miniestação de tratamento, e a água tratada é reutilizada na irrigação dos jardins e no paisagismo. Além das casas, é lá que está o Club- Med Trancoso, cujos efluentes também são completamente tratados e utilizados na irrigação do campo de golfe do resort. Além disso, um sistema de canos capta a água da chuva no próprio campo e a direciona para abastecer os lagos do hotel. ?Reduzimos os custos com água tratada, eliminamos os gastos com a coleta e ainda preservamos esse recurso que poderá ser escasso um dia?, explica o diretor de operações do Terravista, Orlando Martinez. Com 70 hectares para golfe e loteamentos a partir de 1.400 metros quadrados, a economia do saneamento próprio é significativa. Caio Queiroz, diretor da empresa de gestão ambiental Reciclagem, diz que investimentos como esse são benéficos em todos os aspectos. ?Trabalham questões socioambientais, geram economia e ainda agregam valor ao empreendimento?, conclui.