É velhíssima e sem graça a piada de que demonstrações financeiras de empresas são como biquínis, pois mostram tudo, menos o essencial. No entanto, é atual, atualíssima: ela vale especialmente para o balanço da Petrobras, cuja publicação está prevista para a quarta-feira 22. Quaisquer que sejam os números divulgados, eles estarão imprecisos. Tentarão contabilizar algo tão elusivo quanto o impacto da corrupção, fartamente demonstrada pelas investigações da Operação Lava Jato, nos resultados da estatal. Mesmo assim, a publicação está sendo ansiosamente aguardada por investidores e analistas.

Ainda que impreciso ou distorcido, o balanço e as demonstrações de resultados da Petrobras terão o poder de melhorar o humor do mercado para todas as grandes empresas brasileiras. Para entender a importância dessa publicação, é preciso ter em mente os princípios básicos das companhias abertas. O “abertas”, aqui, refere-se não apenas à possibilidade de qualquer investidor participar de seu capital, mas ao fato de que todas as informações, financeiras ou que puderem afetar o negócio, têm de ser informadas aos investidores e ao mercado de maneira formal e estruturada.

Aqui começam as dúvidas. A Petrobras é considerada a maior empresa brasileira em faturamento, em patrimônio líquido e em ativos totais, sem contar os bancos. Também é considerada a companhia que mais investe e uma das maiores pagadoras de impostos, segundo as informações referentes ao exercício contábil de 2013. É bastante provável que a estatal ainda seja tudo isso, mas a confirmação só será possível olhando-se os demonstrativos financeiros. No caso dos lucros, por exemplo, a Petrobras perdeu a liderança para a Ambev. Em 2013, a petroleira lucrou R$ 10,3 bilhões. Em 2014, a cervejaria exibiu R$ 12,1 bilhões na última linha do balanço. A relevância desses dados vai muito além do lugar na lista.

Informações como tamanho e margem de lucro são essenciais para a tomada de decisões de alocação de capital. Na dúvida, a recomendação é não investir, ou então exigir um generoso desconto devido à incerteza. Não foi um acaso as cotações terem recuado para níveis inferiores aos da descoberta do pré-sal no fim de janeiro, quando a incerteza com relação aos resultados estava no auge. Os efeitos negativos se espalham por todo o mercado. Como a Petrobras ainda é a terceira ação mais negociada da Bolsa, um refugar dos investidores devido ao atraso da publicação do balanço impede que as empresas brasileiras como um todo se aproveitem de um cenário global ainda com dinheiro barato e abundante.

Tradicionalmente, a Petrobras é a primeira companhia brasileira a captar recursos por meio de emissões de renda fixa no mercado internacional. As rolagens de bônus, que quase sempre ocorrem em janeiro, estabelecem um parâmetro do apetite dos investidores de outros países para os papéis brasileiros. Devido ao adiamento do balanço, a Petrobras não fez nenhuma emissão. Essa ausência manteve todas as empresas brasileiras, e a própria República, fora ao mercado. Com a publicação dos números, ainda que ruins, há uma boa probabilidade de que essa situação se normalize.