04/08/2001 - 7:00
Por décadas, o capitão das letras Jorge Amado navegou com suas histórias pelos sete mares ao redor do planeta. Atracou numa infinidade de países. Jubiabá pode ser lido em tcheco; Tenda dos Milagres em finlandês; Terras do Sem Fim em iídiche; Teresa Batista Cansada de Guerra em árabe. O escritor baiano, falecido na semana passada, aos 88 anos, vendeu cerca de 60 milhões de exemplares mundo afora e mais de 20 milhões no Brasil. Amado foi responsável por dois fenômenos econômicos: deu um novo parâmetro ao mercado nacional de livros ao ultrapassar a barreira do milhão de cópias vendidas e, muito antes do termo virar moda, se transformou num ícone da globalização. Nem Machado de Assis teve a dimensão editorial que Amado deu ao País.
Em seus 70 anos de carreira, Jorge Amado escreveu 34 livros e teve a sua obra traduzida em 50 idiomas. Só o romance Gabriela, Cravo e Canela, publicado em 1958, foi traduzido para 30 idiomas. Sua maior proeza foi ter vencido no competitivo mercado editorial mundial com um idioma isolado como o português. ?Apesar de regionalista, os temas dos livros de Amado eram universais, o que garantiu a sua aceitação mundial?, avalia Sérgio Machado, dono da editora Record, que edita seus livros desde 1974.Jorge Amado foi um dos poucos autores brasileiros a viver exclusivamente de literatura. Só com Dona Flor e seus Dois Maridos, conseguiu vender 4 milhões de exemplares. Adaptado para o cinema, em 1976, Dona Flor também bateu recordes: ainda é o maior sucesso de bilheteria de um filme nacional, com mais de 11 milhões de espectadores.
Escritor brasileiro com trajetória única na literatura universal, Amado precisou, no início de sua carreira, do aval literário do prestigiado escritor argelino Albert Camus para que os intelectuais brasileiros deixassem de torcer o nariz ao ficcionista que falava de candomblé, negros e prostitutas. Em 1939, Camus derramou-se em elogios a Bahia de Todos os Santos. Vale lembrar que Amado contou com a ajuda da máquina de propaganda comunista, partido do qual fez parte entre as décadas de 30 e 50, para esparramar seus livros pelo planeta. Nenhum demérito. Sucessos como Gabriela foram escritos após o seu rompimento com o PCB. Na varanda ensolarada de sua casa, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, onde viveu ao lado de sua amada Zélia Gattai, surgiram boa parte dos 500 personagens que habitaram as histórias do autor. Ele se dizia um dos homens mais incapazes do mundo. ?Não sei dançar, não sei nadar, não sei dirigir.? Mas soube vender livros como poucos.