31/12/2008 - 8:00
A 35 QUILÔMETROS DO RECIfe, entre Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, o governo de Pernambuco encontrou sua galinha dos ovos de ouro. O Complexo Industrial Portuário de Suape ocupa uma área de 13,5 mil hectares, que salta aos olhos da população, atrai investimentos nacionais e estrangeiros e se tornou garantia certa de arrecadação nas próximas décadas. O pólo vive seu melhor momento, com uma carteira de US$ 15 bilhões de investimentos, 96 grandes empresas, dez empreendimentos em implantação e mais US$ 10 bilhões em novos negócios acertados até 2010. Suape se tornou um lugar de hipérboles. O Porto de Suape quer quintuplicar sua movimentação até 2010, quando deve chegar a milhões de toneladas de mercadorias por ano. É também no Complexo que estão o Estaleiro Atlântico Sul, o maior da América Latina, e a Refinaria General Abreu e Lima, um dos maiores projetos em obras na área de petroquímica. Ao todo, foram criados 47,7 mil empregos na construção, 12,5 mil na operação e mais de 200 mil indiretos. “O maior canteiro de obras do Brasil é Suape”, comemora o governador Eduardo Campos. “Queremos agora atrair investimentos que contribuam com as cadeias produtivas já existentes em Pernambuco”, diz ele.
Pólo já atraiu 96 empresas, que vêm com US$ 15 bilhões
Há oportunidades em inúmeras áreas, mas especialmente nos segmentos de petróleo, gás e indústria naval. O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), por exemplo, tem US$ 2,98 bilhões na carteira, que inclui a construção de dez petroleiros Suezmax e cinco Afromax, encomendados pela Transpetro, dois superpetroleiros do tipo VLCC (very large crude carrier) para a Noroil Companhia de Navegação e o casco da P-55, da Petrobras. Desde setembro, 1,4 mil funcionários cortam chapas de aço para a construção do primeiro Suezmax, que será entregue em abril de 2010, e do casco da plataforma. Curioso é que o estaleiro é construído ao mesmo tempo que se constrói o navio. Há momentos em que o trânsito de material é tão intenso que praticamente obstrui toda a BR 101, na altura do município do Cabo. “É um megadesafio construir um estaleiro e em paralelo um navio”, diz Ângelo Bellelis, presidente do EAS. “Mas, ao final, vamos integrar a quarta geração tecnológica da indústria naval, a mesma dos mais modernos do mundo, e teremos gerado cinco mil empregos.”
A refinaria é tão vultosa quanto o estaleiro. Fruto de uma parceria entre a Petrobras e a estatal venezuelana PDVSA, anunciada pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez ainda em 2005, ela vai processar essencialmente petróleo pesado. Ainda está em negociação entre os dois países um acordo para que a Venezuela forneça metade do petróleo como forma de equilibrar a balança comercial, atualmente superavitária para o Brasil. Mas, como o acordo ainda não saiu, a Petrobras iniciou as obras sozinha. Prevista para entrar em operação no segundo semestre de 2010, a refinaria vai garantir outro salto nos indicadores econômicos de Pernambuco, devido à capacidade de processar até 300 mil barris por dia e de atrair outras empresas dentro da cadeia produtiva. “É o grande colchão para Pernambuco enfrentar a crise. O nosso PIB vai crescer 7,2% neste ano”, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e presidente de Suape, Fernando Bezerra. “Em 2009 não cresceremos menos do que 5%. A partir daí, com o volume de petróleo que vai entrar, Pernambuco terá consolidado seu crescimento sustentável.”
Além disso, o Porto de Suape começa a assumir a posição de hub port, com cargas que chegam da Argentina, do Uruguai e de outros países da região, de onde são reexportadas para Estados Unidos e Europa. Com a conclusão das obras do segundo terminal de contêineres, Suape terá condições de fazer um volume muito maior de transbordo, a conexão entre cargas que chegam e saem, e atender ao mercado asiático, com foco na China e no Japão. “Com o alargamento do canal do Panamá nós vamos ter aqui rotas comerciais passando por Suape, que vão incrementar e muito as cargas de transbordo”, diz Bezerra.
A oferta de terreno em uma região tão estratégica levou empresas como Bunge, Campari e GM e a Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe) a se instalarem rapidamente no Complexo de Suape. E, apesar da crise, outras empresas estão mantendo seus investimentos, como o grupo espanhol Gonvarri, fabricante de torres para a geração eólica, que acabou de assinar o contrato de compra de um terreno. No momento, a direção de Suape negocia terminais de açúcar, grãos, minérios, regaseificação, um centro de distribuição de peças, unidade de produção de tintas marítimas e industriais, processadora de celulose, plantas de gases, moinho de trigo, unidade de construção de guindastes e uma siderúrgica. Há tantas obras na área de Suape que as licitações dos cais de 6 a 8 foram adiadas para julho de 2009, porque não há logística para suportar um volume maior de caminhões.
Esse interesse crescente levou o governo a lançar em 19 de dezembro o programa Suape Global. Segundo o CEO da empresa Suape e diretor de Novos Negócios, Sidnei Aires, a idéia é criar em Pernambuco um centro petroleiro, como Houston é para os Estados Unidos, uma grande indústria naval como tem a Noruega, e um pólo de gás, nos moldes de Canadá e Venezuela. “Temos o estaleiro, a refinaria, o porto e estamos revisando o plano diretor local, ampliando a área de influência de Suape para municípios de Ribeirão e Sirinhaém”, explica Aires, para quem o ambicioso plano é perfeitamente viável. Com a ampliação, a área de Suape passará de cinco para sete municípios. Para suportar esse crescimento, o governo estima que será gasto R$ 1 bilhão no setor de transporte e na adequação do sistema viário. “Mas todo o impacto ambiental é medido. Em Suape, 45% do espaço está em área de proteção ambiental. É um cinturão verde que nos protege do avanço da cidade”, garante Ricardo Padilha, diretor de Engenharia e Meio Ambiente. “E separa a população das indústrias.”